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estudos bíblicos

O altar do holocausto

Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 4 do trimestre sobre “O Tabernáculo – Símbolos da Obra Redentora de Cristo”

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Altor do Holocausto
Réplica do Altar do Holocausto. (Foto: Reprodução)

Prosseguindo nosso estudo do tabernáculo e fazendo as devidas aplicações cristológicas, chegamos ao primeiro móvel do santuário, que se encontrava no átrio: o altar do holocausto também conhecido como altar de bronze. É importante que o leitor investigue na Bíblia os seguintes capítulos que abordam este objeto sagrado: Êxodo 27.1-8 (fala da ordem para construção); Êxodo 38.1-7 (a construção do tabernáculo propriamente); Levítico 6.8-13 (orientações quanto ao cuidado com o fogo do altar), e os capítulos iniciais do livro de Levítico que abordam os sacrifícios realizados neste altar. Isso nos dará uma visão panorâmica daquele móvel nos dias de Moisés e a partir daí entendermos como a obra redentora de Cristo está nele representado.

I. O altar do holocausto

1. Lugar de sacrifício

Feito de madeira de cetim (que aponta para a perfeita humanidade de Cristo), revestido de bronze (que simboliza julgamento), relativamente grande (o que sugere a liberalidade de Deus em perdoar os pecadores) e postado bem à entrada do tabernáculo (marcando o início do caminho do pecador em direção ao Deus santo), o altar do holocausto era o móvel central no culto diário dos israelitas (como a cruz precisa estar centralizada em nosso culto – conf. 1Co 2.2). Todo dia, ao menos duas vezes, pela manhã e ao entardecer, os sacerdotes ofereciam a Deus sacrifícios em favor do povo, e que eram totalmente queimados sobre este altar.

Mas não somente os sacrifícios regulares oficiados pelos sacerdotes eram realizados ali. Muitos outros sacrifícios realizados pelos israelitas tinham lugar no tabernáculo. Além do holocausto propriamente dito, outras ofertas eram feitas, quer com sacrifício animal quer com oferta de manjares. A imagem abaixo, extraída da Bíblia de Estudo Pentecostal (p. 187) resume bem os propósitos e aspectos tipológicos destes sacrifícios:

Ao altar do holocausto estavam relacionadas outras ferramentas e instrumentos usados tanto para o transporte do altar, como para o cuidado do fogo que nele deveria ser mantido continuamente aceso: “recipientes para recolher a sua cinza, e pás, e bacias, e garfos, e braseiros; todos esses utensílios farás de bronze”, além da grelha e dos varais (Ex 27.3-7). O texto bíblico não menciona as facas (ou cutelos) usados para o abate dos animais, nem as mesas onde estes animais eram preparados para serem queimados no altar ou entregues ao sacerdote. Mas sem dúvidas estavam também ali presentes no tabernáculo como instrumentos ligados ao altar do holocausto, já que os animais não eram rasgados a mão nua nem também sobre o chão. A imagem abaixo, extraída do livreto A casa de ouro, ilustra bem esse ambiente:

2. Transferência de culpa

No átrio do tabernáculo, na direção norte, junto ao grande altar de bronze onde as chamas ardiam incessantemente, o transgressor impunha as mãos sobre a cabeça do animal oferecido para sacrifício expiatório. Por essa imposição de mãos, o ofertante não apenas identificava aquele animal como seu (ou seja, “minha oferta”), mas no íntimo estava a dizer: será sacrificado em meu lugar. Como diz Claudionor de Andrade, o crente hebreu fazia ali ao pé do altar de bronze “uma oração que, apesar da ausência de palavras, era eloquente e persuasiva; implicava em sua total submissão ao querer divino” [1]. Ocorria, então, a total entrega do animal e o sacrifício expiatório, para que a culpa do pecado fosse removida e o ofertante encontrasse o perdão de Deus. Cristo se entregou totalmente, sendo obediente até a morte, e morte de cruz! (Fp 2.5-11)

3. O trabalho do ofertante: matar o animal oferecido

O Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, discorrendo sobre o sacrifício do holocausto (em hebraico, olah), ressalta:

Normalmente o ato de sacrifício era executado pelo sacerdote, mas no que diz respeito ao ‘ola, apenas as aves eram mortas pelo sacerdote — provavelmente devido ao tamanho pequeno do animal e à pequena quantidade de sangue nele existente. Era essencial que o sangue fosse posto sobre o altar. (…) Este [o sacerdote] então levava-o para o altar e ajeitava-o ali, onde era inteiramente consumido pelo fogo. [2]

Baseado no manual do culto israelita, isto é, o livro de Levítico (cap. 1), William MacDonald assim resume os deveres de todo aquele que comparecia ao tabernáculo para oferecer sacrifício pelos pecados:

“Os deveres do ofertante: trazer a oferta à porta da tenda da congregação, próximo ao altar do holocausto (v. 3; também conhecido como altar de bronze); colocar a mão sobre a cabeça da vítima (v. 4); imolar o novilho (v. 5), carneiro ou cabrito (v. 11); tirar a pele (esfolar) do animal e cortá-lo em pedaços (v. 6,12; lavar as entranhas e as pernas com água (v. 9,13)” [3]

Vemos uma dupla aplicação nesse envolvimento do ofertante no sacrifício do animal:

(1) No que concerne a adoração: o adorador não pode ser um observador passivo, antes deve tomar parte na adoração, “servindo ao Senhor com alegria” (Sl 100.2).

(2) No que concerne ao aspecto tipológico: certamente aponta para o fato de que foram os homens que mataram a Cristo na cruz, embora ao Pai tenha agradado “moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser por expiação do pecado” (Is 53.10). Os judeus pediram sua crucificação, e os romanos fizeram a execução, após rasgarem seu corpo com açoites e varadas. “E matastes o Príncipe da vida…” foi a acusação de Pedro contra os israelitas (At 3.15). Que culpa tínhamos!

II. As quatro pontas (chifres) do altar e o sentido de redenção

Neste grande altar, que tinha quatro lados iguais, havia quatro pontas ou quatro chifres em cada canto (Ex 27.2). Não está claro, mas alguns comentaristas especulam que os sacrifícios fossem amarrados a esses chifres (esta é a opinião do pastor Elienai Cabral, comentarista da Lição, além de outros como William MacDonald e Charles Ryre). O que é certo é que o sangue do animal sacrificado era derramado sobre estas pontas. Na ocasião da consagração dos sacerdotes, esses quatro chifres foram untados com sangue animal nos dedos de Moisés (Ex 29.12).

1. A simbologia do número quatro

Novamente lidamos com o número quatro. Rouw e Kiene comentam a simbologia do número: “Há quatro estações (Gênesis 8:22), quatro direções do vento ou ‘confins da terra’ (Isaías 11:12). Na Bíblia, quatro é o número da terra”.  [4] O número quatro, portanto, aponta para a universalidade da redenção, já que Jesus se deu “em resgate por todos” (1Tm 2.6) e morreu por todos (Hb 2.9).

2. O poder para perdão dos pecados

Acerca dos possíveis significados destas quatro pontas do altar, Leo Cox comenta:

Tinham provavelmente a forma de chifre de animal. Eram importantes como símbolos de poder e proteção (1Rs 1.50). Os chifres eram besuntados com o sangue do animal sacrificado (Lv 4.7). Estes chifres, apontando para o céu, “falavam do Deus a quem o altar fora construído, e indicava a capacidade divina em ajudar, proteger e socorrer os seus adoradores”. Denotavam a vitória do homem sobre o pecado mediante a expiação simbolizada pelo altar. [5]

Enfatizaria ainda que, dado sua conotação de força ou poder, estes quatro chifres nos cantos do altar de bronze bem podem ser uma referência a Jesus Cristo, que “pode socorrer aos que são tentados” (Hb 2.18). Ao pecador desesperado está dada mui preciosa esperança: Cristo tem poder para livrar-nos da culpa e da condenação! Ele mesmo nos garante: “o Filho do homem tem na terra autoridade para perdoar pecados” (Mt 9.6). Seguros do poder que há no sangue de Cristo para perdão de nossos pecados, “cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno” (Hb 4.16).

Sim, o sangue de Jesus tem poder!

III. O altar do holocausto é uma imagem do calvário

1. Um lugar de expiação

A ideia-chave em torno do altar do holocausto era de expiação, do verbo hebraico kaphar (ou kippur), que significa limpar, cobrir, remir. Ali a vida do animal sacrificado encobria os pecados do penitente, afastando assim a ira de Deus. Todavia, aqueles sacrifícios somente tinham efeitos porque eram prefigurações do perfeito sacrifício de Jesus Cristo, “o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Ap 13.8) nos eternos desígnios de Deus. De tal modo que a salvação dos crentes da antiga aliança não seu deu em razão do sangue de animais derramados sobre o altar de bronze, mas em razão do sangue de Cristo vertido na cruz do Calvário, afinal o sacrifício de Cristo também teve efeitos retroativos para aqueles que morreram na fé. Ninguém chegará ao céu senão pelos méritos de Cristo!

Aliás, aqui reside a grande diferença entre os sacrifícios animais praticados desde a antiguidade entre os pagãos e o sacrifício ordenado por Deus através de Moisés: é que nas religiões pagãs, alienadas do verdadeiro conhecimento do Senhor, o sacrifício é um mero presente que se oferece aos deuses para aplacar-lhes a ira, mas nem há a ideia de substituição de pecados e muito menos a prefiguração de um Salvador humano. Todavia, está escrito: “é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados” (Hb 10.4). Os israelitas tinha a noção de substituição; certamente não imaginavam todo o valor tipológico daqueles sacrifícios, embora a revelação progressiva de Deus vá deixando isso cada vez mais claro, como quando Isaías profetiza:

“Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos” (Is 53.4-6)

Em Isaías, Jesus é o cordeiro levado ao matadouro e a ovelha muda perante os seus tosquiadores (Is 53.7); no Novo Testamento, Jesus é o verdadeiro Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo! (Jo 1.29) Ele não só perdoa nossos pecados, afastando de nós a ira de Deus, como também nos justifica (Rm 5.1), declarando-nos inocentes no tribunal do céu, e ainda mais: reconcilia-nos com Deus (2Co 5.19), fazendo-nos favoráveis diante dele! Uma das estrofes do hino 39 da Harpa Cristã retrata com beleza poética esta obra maravilhosa da graça de Deus em Cristo Jesus:

Se nós a Ti confessarmos,
E seguirmos na Tua luz,
Tu não somente perdoas,
Purificas também, ó Jesus;
Sim, e de todo o pecado!
Que maravilha de amor!
Pois que mais alvo que a neve.
O Teu sangue nos torna, Senhor.

2. O fogo arderá sobre o altar (Lv 6.13)

Pentecostais costumam fazer referência a este texto sobre o fogo incessante no altar do holocausto aplicando-o ao ardor constante do Espírito na Igreja. Embora de fato o Espírito de Deus seja retratado na figura de fogo que não pode se extinguir (1Ts 5.19), não é esta a aplicação tipológica adequada do fogo constante no antigo tabernáculo de Deus. Aquele fogo tinha a ver com ira de Deus e expiação de pecados. O evangelista pentecostal norte-americano Jimmy Swaggart interpreta adequadamente o texto de Levítico, dizendo:

“O fogo que ardia, e nunca tinha que apagar-se, atestou por um lado o deleite de Deus que nunca cessou no sacrifício de Cristo e, por outro lado, o Seu incessante ódio pelo pecado. Os falsos mestres de hoje apagam este fogo ao negar as doutrinas da Expiação e da ira vindoura. O fogo trata ambos, a ‘Expiação’ e a ‘ira'” [6]

Não nos esqueçamos do que aprendemos na Lição passada (conforme estudo complementar postado no site Gospel Prime), que o bronze em linguagem tipológica aponta para julgamento. O altar do holocausto era revestido de bronze, e assim também chamado “altar de bronze” (para contrastar com o altar de ouro, que era o de incenso no Lugar Santo). Aquele altar de bronze era o lugar de julgamento de pecados, quando a vítima sacrificada (um animal inocente) era totalmente queimada em lugar do transgressor (excetuava-se a pele do animal, que uma vez arrancada era entregue ao sacerdote, para alguma necessidade pessoal dele). O fogo, que um dia foi aceso pelo próprio Deus (conf. Lv 9.24), deveria ser mantido sempre aceso para que os homens nunca se esquecessem duas coisas: (1) Deus odeia o pecado e não o deixará impune (Rm 6.23); (2) somente mediante o sacrifício cruento de um inocente é que a culpa do transgressor podia ser removida e assim apresentar-se diante de Deus sem culpa (Hb 9.22).

O altar do holocausto não aponta para o Pentecoste, mas para a cruz; não para a pomba, mas para o Cordeiro!

3. O perfume agradável

A queima do animal sobre o altar do holocausto produzia um aroma agradável (Lv 1.9) que subia a Deus (daí vem o termo hebraico olah, oferta queimada, que deriva de alah, cujo significado é ascender, subir), chamando a atenção para a Sua eterna satisfação com a obra de Cristo. Como está escrito: “Pelo cumprimento dessa vontade fomos santificados, por meio do sacrifício do corpo de Jesus Cristo, oferecido uma vez por todas (… ) porque, por meio de um único sacrifício, ele aperfeiçoou para sempre os que estão sendo santificados” (Hb 10.10,14).

Conclusão

Tomamos as palavras do autor da Carta aos Hebreus: “temos um altar” (Hb 13.10), e este altar é Cristo, cujo sacrifício uma vez efetuado no Calvário é suficiente e poderoso para redimir toda a raça humana! Entretanto, nem religiosos não convertidos a Cristo nem os ímpios podem ter direito aos benefícios deste altar, senão somente aqueles que se achegarem a ele por fé, crendo de todo coração, encontrarão perdão e purificação dos pecados. Creiamos neste Cristo bendito, “o Salvador do mundo” (Jo 4.42). Amém!

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Referências

[1] Claudionor de Andrade. Adoração, santidade e serviço: os princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico, CPAD, p. 99
[2] Dicionário internacional de teologia do Antigo Testamento, Vida Nova, p. 1116,7
[3] William MacDonald. Comentário Bíblico Popular – Antigo Testamento, Mundo Cristão, p. 88
[4] Jan Rouw e Paul Kiene. A casa de ouro, p. 12
[5] Leo Cox em Comentário Bíblico Beacon, vol. 1, CPAD, p. 213
[6] Jimmy Swaggart. Bíblia de Estudo do Expositor, SBB, p. 204.

Casado, bacharel em teologia (Livre), evangelista da igreja Assembleia de Deus em Campina Grande-PB, administrador da página EBD Inteligente no Facebook e autor de quatro livros.

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