estudos bíblicos
O que a Bíblia diz sobre política?
Como o cristão deve lidar com a política e a separação da Igreja e do Estado.
Como o cristão deve lidar com a política
Creio que o Salmo 101 seja um dos mais interessantes textos bíblicos sobre o perfil de um líder ideal, seja ele líder no ambiente político, seja no ambiente eclesiástico.
Neste Salmo do rei Davi, encontramos uma espécie de carta de compromisso de um governante para com a integridade em seu governo.
Detenhamo-nos um pouco no estudo deste Salmo, pois creio que ele deveria ser lido, estudado e tomado como referencial especialmente por aqueles que pleiteiam cargos políticos em nossa nação, mas também serve a nós, eleitores, na medida em que nos oferece um perfil ideal de um bom político.
Versos 1 a 4: a integridade espiritual e moral do governante
Nestes primeiros versos, Davi expressa sua devoção ao Senhor e seu compromisso de viver a retidão. Ele anseia pelo auxílio do céu – “quando virás ao meu encontro?” (NVI) – e compromete-se a viver em integridade na sua casa (v. 2), que é seu lar, seu ambiente doméstico, lugar privado. O mal e a conduta dos infiéis é abominável para Davi; ele não quer se envolver com os “perversos de coração” (v. 4).
Como seria bom que nossos políticos tivessem temor a Deus e não agissem com hipocrisia quando diante das câmeras ou em ambientes públicos!
Como seria bom se a integridade de caráter começasse em casa, no ambiente privado, onde muitas vezes reuniões secretas são feitas para deliberar desvios de verbas públicas, corrupção no poder e leis injustas para oprimir os pobres.
Como seria bom se os políticos desejassem como Davi pelo constante auxílio de Deus! Ao menos é assim que deve agir um político cristão, sabendo que é Deus quem dá sabedoria para governar: “Por mim governam príncipes e nobres; sim, todos os juízes da terra” (Pv 8.16).
Versos 5 a 8: compromisso de zelo no governo
Nestes versos, Davi assume o compromisso de afastar da corte os servidores mentirosos, caluniadores, arrogantes, fraudadores, e até de eliminar “todos os malfeitores da cidade do Senhor” (v.8).
Mais provavelmente não significa que Davi iria destruí-los fisicamente, mas eliminá-los da vida pública, exonerando-os de seus cargos, caso percebesse a má conduta deles.
Quando Davi diz “Meus olhos aprovam os fiéis da terra, e eles habitarão comigo. Somente quem tem vida íntegra me servirá” (v. 6), ele está firmando um pacto de cercar-se apenas de pessoas idôneas em seu governo.
Visto que este é um salmo também com conotações messiânicas – Jesus é o Davi perfeito! – então é possível enxergarmos o prenúncio do governo milenar de Cristo, servido de seus santos servos, aos quais ele constituiu reino e sacerdócio (Ap 5.10).
Mas, antes disto, está aqui um compromisso que todo político deveria assumir, o de aliar-se apenas a pessoas com vida íntegra. Como dizia Paulo, “as más conversações corrompem os bons costumes” (1Co 15.33), e como diz o adágio popular: “Diga-me com quem andas, e direi quem tu és”.
O versículo 7, assim como o 6, geralmente é citado como se fosse uma fala de Deus em relação aos que usam de engano e que não permanecerão na Igreja.
Todavia, é o próprio Davi falando de seu compromisso em afastar da corte os mentirosos e enganadores. Salomão compreendeu uma das razões disto: “O governador que dá atenção às palavras mentirosas, achará que todos os seus servos são ímpios” (Pv 29.12).
Davi não queria politicagem em seu governo, ele queria integridade! O rei da Pérsia, Dario, procedeu uma limpeza em seu governo quando eliminou os inimigos de Daniel, devido a imoralidade deles (Dn 6.3,4,24).
Que políticos queremos para nos governar?
Davi não queria estabelecer alianças com mentirosos, corruptos, e especialmente com aqueles que até já foram condenados pela justiça por crimes cometidos durante mandatos políticos.
Aqui, creio, há uma lição para todos nós cristãos: queremos que políticos flagrados em atos ilícitos continuem ou voltem ao poder? Queremos que políticos condenados por desvio de dinheiro público voltem a governar ou legislar em nossa nação? A população brasileira clamou pela criação da Lei da Ficha Limpa, e agora que ela está regulamentada iremos dar nosso voto de confiança a políticos cheios de sujeira moral?
Como Davi, deveríamos ter repulsa contra a ideia de mentirosos e enganadores estarem no poder. Os tais deveriam ser banidos da política! E se alguém acha que não deveríamos ter tal anseio, eu digo: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” (Mt 5.6).
No mais, além de orar pelos, votar em e cobrar dos políticos o cumprimento de suas promessas políticas (desde que adequadas à justiça e aos bons valores, pois há promessas que seria bom não serem cumpridas mesmo!), precisamos em última instância entender que que há coisas que somente o Evangelho pode fazer pelo nosso povo.
O perfeito governo do Príncipe da paz
O problema do país antes de ser econômico e político, é espiritual. O homem sem Deus é totalmente depravado, e vive segundo suas inclinações carnais. Somente o sangue de Cristo pode lavá-lo e somente a Palavra pode transformá-lo. Como Armando Filho cantava há décadas atrás,
“Dos homens não vem solução
Prá restaurar esta nação
Os salvadores vão surgir
Promessas não vão se cumprir
‘Ninguém segura este país’
É o que se ouve é o que se diz
Mas lá no céu no trono está
Um Deus poderoso, seu Nome é Jeová
Só Ele pode este quadro mudar”
Chegará o dia em que o “Príncipe da Paz” (Is 9.6) virá para reinar. Ele não ascenderá ao trono por votação e escolha dos homens, mas por desígnio do Pai que lhe deu um nome que está acima de todo nome (Fp 2.9).
Quando ele vier, destruirá todos os poderes humanos (Dn 2.32), maculados pelo pecado e influenciados por satanás, arrancará pelas raízes aos ímpios e os lançará no fogo (Ml 4.1), estabelecerá um governo de paz que satisfará nosso anseio por justiça.
Infelizmente, a despeito de todo o bom desejo de Davi, registrado no Salmo 101 como vimos, aquele famoso rei de Israel falhou em cumprir sua própria agenda política.
Davi mesmo caiu em erros que ele condenava (veja o caso de seu adultério com Bate-Seba, a morte premeditada do marido dela, Urias, e toda desgraça que caiu sobre a casa de Davi em consequência disto).
Todavia, o “filho de Davi” não falhará! Jesus nunca caiu nem cairá!
Ele é perfeito em tudo, “O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano” (1Pe 2.22). Somente no governo de Cristo veremos se cumprir plenamente esta palavra: “E o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança para sempre” (Is 32.17).
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