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estudos bíblicos

O que é tomar a “Santa Ceia” indignamente?

“Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor” (v. 29).

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Fiéis participando da Ceia do Senhor (Nico Smit / Unsplash)

Uma leitura que se repete todos os meses nas igrejas evangélicas, é o texto da primeira carta de Paulo aos Coríntios, capítulo 11, versículos 23 a 34, onde o apóstolo de Cristo ressalta os propósitos da celebração da Ceia do Senhor e reafirma alguns critérios para os crentes não banalizarem tão importante reunião cristã.

Neste texto, Paulo adverte: “Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor” (v. 29).

Daí surge uma dúvida: o que é “comer e beber indignamente”? Há pelo menos duas interpretações para este texto (e também vers. 27).

Vejamos:

Tomar a ceia em pecado não confessado

O renomado professor Lawrence Richards segue esta linha e observa que “o problema não é a celebração, mas a atitude do celebrante. Aqueles que se aproximam com soberba, ignorando pecados não confessados, se arriscam a desagradar a Deus, podendo vir a sofrer enfermidades e até mesmo a morte física. (…) Não podemos participar indignamente, se estivermos chafurdando alegremente nas presas do pecado e, dessa forma, negando o propósito da morte de Cristo” [1].

Esta é talvez a interpretação mais comum, quando os pastores advertem os membros da igreja local a que se confessem com o Senhor antes de tomarem parte na ceia.

Tomar a ceia em desunião com os irmãos

O teólogo pentecostal Craig Keener, um dos maiores especialistas em Novo Testamento do nosso tempo, assim interpreta: “‘Comer […] de maneira indigna’ refere-se, nesta passagem, ao ato de comer seguindo divisões de status – o que estava separando a igreja (11.21,22). Ao rejeitar ou desprezar outros membros do corpo de Cristo, a igreja (10.17), eles também rejeitavam o dom salvador de seu corpo representado pelo pão (11.24)” [2]

Keener não está sozinho em sua interpretação, Bruce Winter corrobora com a mesma posição e explica mais: “Nesse contexto, a indignidade em comer do pão e beber do cálice estava associada à atitude e às ações de uns para com os outros, especialmente em relação aos necessitados que estavam sofrendo grande constrangimento. (…) Nessa circunstância em especial, o exame está relacionado às atitudes de um espírito partidário e à falta de compaixão para com os que nada têm” [3].

Corpo e sangue do Senhor & corpo do Senhor

Winter traz uma interpretação que merece atenção sobre o “corpo do Senhor” de que Paulo fala no versículo 29. Para ele, “o corpo de Cristo, ou seja, [é] o corpo dos cristãos (cf. 10.16)”. De forma didática:

  1. corpo e sangue do Senhor (v. 27) – é o corpo físico de Jesus, de cuja crucificação os cristãos que tomam indignamente a ceia se fazem também culpados;
  2. corpo do Senhor (v.29) – é não mais uma referência ao corpo físico, mas ao corpo místico de Cristo, que é a Igreja. Não discernir esse corpo, a Igreja, é não entender o que é a Igreja e o valor dela para Cristo, que derramou seu sangue por ela (Ef 5.25).

O teólogo assembleiano norte-americano Stanley Horton concorda com esta interpretação do “corpo do Senhor” no versículo 29: “Por ‘corpo do Senhor’, Paulo quer dizer o corpo de crentes, a assembleia local reunida” [4]. Isso reitera a posição de que tomar a ceia indignamente é comer e beber em desunião com os demais membros do corpo de Cristo, devido contendas ou menosprezo aos irmãos de classes sociais inferiores, como de fato estava acontecendo ali em Corinto.

Para Paulo, a comunhão na ceia é tão importante que ele ordena: “esperai uns pelos outros” (v. 33), querendo dizer que os que chegassem primeiro à reunião de celebração, não tomassem a dianteira no alimento, devorando tudo e deixando nada para os mais pobres que chegassem no final (que sequer disponham de transporte animal para se dirigirem ao culto).

Conclusão

A rigor, nenhum de nós é digno (no sentido do mérito) de comer e beber a ceia do Senhor.

Mas todos nós precisamos nos achar dignos (no sentido da condição espiritual) de participar deste momento de comunhão com nossos irmãos em Cristo.

Um bom ponto de partida é, antes, pedirmos perdão a Deus e a nossos irmãos a quem ofendemos; e em ato contínuo pedir a Cristo que nos ensine a estimar nossos irmãos e dar-lhes toda deferência, independente das preferências de cada um ou da classe social a que pertençam.

E assim, unidos com Deus e com nossos irmãos tomarmos dignamente a ceia do Senhor até que Ele venha!

REFERÊNCIAS

[1] Lawrence Richards. Comentário histórico-cultural do Novo Testamento, CPAD, p. 357
[2] Craig Keener. Comentário histórico-cultural da Bíblia – Novo Testamento, Vida Nova, p. 578
[3] Bruce Winter. in Comentário Bíblico Vida Nova (D. A. Carson, ed.), Vida Nova, p. 1773
[4] Stanley Horton. I e II Conríntios: os problemas da igreja e suas soluções, CPAD, p. 107

Casado, bacharel em teologia (Livre), evangelista da igreja Assembleia de Deus em Campina Grande-PB, administrador da página EBD Inteligente no Facebook e autor de quatro livros.

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