Emissora denuncia perseguição a cristãos por blasfêmia no Paquistão

Líderes religiosos e defensores dos direitos humanos no Paquistão elogiaram a coragem da equipe de produção e do elenco do drama televisivo Tan Man Neel o Neel, exibido pela Hum TV. A produção abordou a violência resultante das leis de blasfêmia no país, um tema considerado sensível e frequentemente evitado na mídia nacional.

No episódio final da série, uma equipe de dança se apresenta em um casamento quando um vídeo é exibido em uma tela grande. A gravação mostra um dos dançarinos, Sonu (interpretado por Shuja Asad), dançando em uma antiga mansão Sikh. Kami (Muhammad Usman Javed), um muçulmano que havia colocado o vídeo de forma premeditada, se levanta e o acusa falsamente de dançar em uma mesquita.

Um flashback revela que Kami planejou a acusação com a intenção de prejudicar Sonu e se aproximar de Raabi (Sehar Khan), a parceira de dança e interesse amoroso da vítima. Em um diálogo com seus comparsas, Kami justifica a farsa ao afirmar que, quando a veracidade do local fosse esclarecida, a multidão já teria agido.

A cena culmina em um linchamento brutal, retratado em câmera lenta ao som de uma música melancólica. O ataque representa uma realidade conhecida dos paquistaneses, mas raramente vista em uma produção de grande audiência. A conclusão dramática pegou o público de surpresa, trazendo à tona a gravidade da violência instigada por falsas acusações de blasfêmia.

Lazar Allah Rakha, defensor dos direitos cristãos e advogado de pessoas acusadas de blasfêmia, destacou a importância do drama para expor os perigos do extremismo religioso e da desinformação. Em declaração ao Morning Star News, Rakha afirmou que a equipe do drama arriscou suas vidas ao abordar o tema e elogiou a decisão da Hum TV de incluir nos créditos imagens de vítimas reais de falsas acusações, assim como igrejas e casas cristãs incendiadas por multidões.

O bispo Azad Marshall, moderador da Igreja do Paquistão, ressaltou a importância da narrativa para refletir a realidade social. Ele relatou que, mesmo sem acompanhar regularmente programas televisivos, foi incentivado por familiares e colegas a assistir ao drama. Segundo ele, a produção retratou fielmente a situação do país e deve ser apoiada pelo público por trazer à tona questões críticas.

O legislador cristão Ejaz Augustine, da Assembleia do Punjab, também elogiou a emissora por retratar uma realidade ignorada por grande parte da população. Augustine sugeriu que o drama fosse exibido em espaços educacionais para conscientizar sobre os efeitos devastadores das acusações infundadas e da mentalidade de multidão.

A acusação de blasfêmia no Paquistão tem consequências graves e imprevistas, frequentemente resultando em linchamentos e destruição de propriedades. Em maio de 2024, Nazeer Masih Gill, cristão acusado de queimar páginas do Alcorão, foi atacado e morreu posteriormente. Em agosto de 2023, multidões muçulmanas incendiaram igrejas e residências cristãs em Jaranwala, distrito de Faisalabad, após dois irmãos serem falsamente acusados de escrever conteúdo blasfemo.

O Paquistão tem registrado um aumento significativo nos casos de “blasfêmia online”, com jovens, inclusive cristãos, sendo acusados por publicações nas redes sociais. O país ocupa o oitavo lugar na Lista Mundial de Observação de 2025 da organização Portas Abertas, classificando-se entre os locais mais difíceis para a vida cristã.