opinião
Quando só debater é o que importa. O amor entre cristãos está esfriando?
Embates acirrados entre cristãos continuam mesmo depois de nota de repúdio de líderes.
Uma carta pastoral em forma de nota pública foi veiculada nestes dias, recomendando que cessem os debates acirrados na internet. E ainda desencorajando os cristãos verdadeiros a apoiar blogs e sites que não prezam pelo sentimento cristão do respeito mútuo.
Mas, adivinhem? Isso gerou mais polêmica, mais discussões, mais ofensas… Conheço alguns dos homens que assinaram esta recomendação, e sei que são sérios e honrados servos de Deus. Que inclusive apreciam o debate sadio com o fim proveitoso e santo.
Não é de hoje que o povo de Deus se “atraca” nas páginas da Web. Mas, nem sempre foi assim. Muitos blogs e sites que hoje são relevantes surgiram com o excelente objetivo de debater assuntos de difícil compreensão nas Escrituras. O intuito era que houvesse cooperação entre os participantes.
Programas de TV também surgiram onde oponentes são chamados com um assunto mais, digamos, “polêmico”. E geralmente os lados mais utilizados para esses debates são os chamados calvinistas e arminianos.
Há erro nisso? Inicialmente não, e nem posteriormente, se conseguissem manter o equilíbrio e boa-fé, de ambos os lados da tela. Mas infelizmente as coisas não são assim tão fáceis, leves e digeríveis. Certamente que a vaidade, o orgulho e a falta de bondade são inimigos que estão dentro de nós. E então, com o passar dos dias, pessoas foram perdendo a mão nos debates, e em certos momentos surgiram ofensas e bate-boca ostensivo para todo mundo ver, bem às claras.
O palco de TV até parecia a praça da Atenas do primeiro século. Se no passado recente, era um prazer se vincular as páginas que professavam a fé em Cristo, hoje é um desânimo só. Você até deseja ficar ali, junto com os irmãos falando sobre algum interesse do reino. Mas, então começam os desrespeitos.
Já vi meninos novos se dirigirem a pastores mais velhos com ousadia perversa mesmo, como querendo rebaixá-los. Aí torna-se difícil manter intacta a santificação e a comunhão. Neste caso em específico, houve prejuízo, e dos grandes, para esse pobre rapazinho e para igreja ali reunida.
O respeito pelos mestres cessou e a meninice reina? Enquanto muitos saciam a sua vontade de “crescer” nos meios teológicos, o amor vai se esfriando. A impressão é que, a coisa mais urgente a se fazer depois da conversão não é ir atrás de almas sem Cristo, mas de ir atrás de almas sem a sua posição teológica. A conversão mais necessária parece ser ao seu grupo, antes que a Cristo. “Este é um dos nossos”, dizem referindo-se ao seu “bando” teológico.
Um grupo muito chegado aos debates e discussões, era o dos fariseus, mas Jesus disse a respeito deles. “Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas, porque percorrem terra e mar para fazer um convertido e, quando conseguem, vocês o tornam duas vezes mais filho do inferno do que vocês”. Mateus 23:15
Duas verdades aqui: as redes sociais são uma plataforma basicamente de opiniões, sempre foi e sempre será. Assim também como sempre precisará ter mestres no seio da igreja que sejam empenhados e que se debrucem sobre o conhecimento pagando o seu árduo preço em humildade.
Olhando para o apóstolo Paulo em Atenas vemos que o debate faz parte da natureza proclamadora do evangelho. Há somente duas posições no universo: a de Deus e o resto.
Paulo chegou a Atenas depois de fugir de uma confusão em Beréia, os judeus que o perseguiam queriam “debater e bater” em Paulo. E o apóstolo que não iria “pagar pra ver”, foi embora de lá. E chegou a esta cidade grega para esperar seus companheiros Silas e Timóteo. Ficou um tempo ali observando aquela praça agitada, cheia de ídolos ao redor.
Logo foi para a sinagoga e começou a participar de debates com outros judeus e gregos que eram tementes a Deus. Aqui já fica uma dica: não adianta debater ideias bíblicas com quem não é temente a Deus.
E depois Paulo também foi debater na praça com os filósofos que por ali estavam. E aqui a discussão tinha a ver com o evangelho. No verso 21 há uma definição bem importante para o texto, diz que os atenienses não faziam outra coisa na vida a não ser falar e ouvir as últimas novidades. E Paulo se aproveitou bastante desse clima, pregou o evangelho. Alguns rejeitaram, outros se converteram e ele seguiu viagem para Corinto.
A questão é para mim óbvia. Debates nem sempre são o meio de Deus para se pregar o evangelho, mas em muitos momentos há necessidade que se ocorra. Para Timóteo, Paulo recomendou evitar as discussões, “Lembra-lhes estas coisas e conjura-os, por Deus, a evitarem discussões de palavras, que só servem para a perdição dos ouvintes”. 2 Timóteo 2:14. Há um limite, nem toda discussão é boa e proveitosa.
Com relação aos nossos dias, é preciso manter a santificação intacta e não ultrapassar os limites da honra. No afã de falar “verdades” desagradamos a Deus e nem percebemos. A maneira como você se refere aos outros, se utilizando de um teclado, diz muito sobre o seu caráter cristão.
Ofender com palavras escritas também é pecado que precisa de perdão e de reconciliação também. Não vá pensar que por não conhecer pessoalmente a pessoa que está do outro lado, você pode ofender à vontade, gritar com letras maiúsculas e depois ir dormir, sem que isso antes não tenha te trazido algum prejuízo para a sua alma.
A nossa consciência ainda estará lá sendo perscrutada pelo Espírito Santo. Se você dormiu bem e acordou com mais vontade de “brigar” virtualmente é possível que o que você acha que é conversão na tua vida, pode ser ilusão somente. Ou então você está participando de grupos carnais que estão te corrompendo e você não percebeu.
Se é isso que tem acontecido afaste-se do seu bando teológico, ele não está te fazendo um crente melhor. Você mal sente o desejo de arrependimento sincero, e isso não acabará bem. Já vi muitos caírem e se desanimarem com a fé e com a igreja, porque adentraram em um mundo tão crítico, de debates sem fim que a alma secou e a alegria da salvação se foi.
Há três coisas que nos definem em um debate. E são elas:
Zelo sem conhecimento
Tenho zelo, mas não tenho conhecimento. Vejo muita coisa errada no nosso meio, ou no meio de um grupo específico, como faço? A resposta a isso é ouvir mais, falar menos. Estude a palavra com afinco e amor, e isso te colocará em lugar de honra.
Zelo sem bondade
Perigo. Vejo muita coisa errada, não suporto ver as coisas fora do lugar. Preciso dizer na cara, doa a quem doer. Se o teu interesse é defender a fé é preciso que você saiba que até isso tem limite, visto que o crer é obra exclusiva do Espírito. Então é necessário que se pergunte? Quero defender o evangelho ou desejo somente prevalecer intelectualmente sobre as pessoas? Reflita. O nosso primeiro e urgente chamado é pregar a Cristo crucificado. Dentro desta verdade tudo o que você fizer tem que ser pautado por isso. Tudo é Cristo, do começo ao fim. Se você não entendeu a bondade de Cristo, até com seus crucificadores, logo isso ficará bem evidente.
Zelo com conhecimento e bondade
Os dias vão passando, depois que cremos em Cristo muita coisa acontece. De vez em quando nos vemos em meio a embates na família, no trabalho, na mesa do almoço por causa da nossa fé. No entanto você já entendeu que não é por força, nem por violência. Continue assim e o teu desejo por conhecer as escrituras virá do desejo sincero de ser, fundamentalmente, mudado por ela. E então, quando você se encontrar em meio a alguma discussão, logo as pessoas vão ver que crente maduro e temperado você é. Pois o seu proceder revelará a glória de Cristo, e os teus argumentos e postura evidenciou os frutos do Espírito.
E, finalmente, precisamos, um a um, nos esforçar por manter o testemunho do evangelho longe de escândalos. Se somos odiados pelo mundo não devemos começar a nos odiar também. Cristo já anteviu a isso que estamos vivendo e fez uma oração específica.
“Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, pois eles não são do mundo, como eu também não sou. Não rogo que os tires do mundo, mas que os protejas do Maligno… Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade”, Jo 17:14-17. E também deixou uma orientação, “Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros.
Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros”.
Jo 13:34,35
Que o Senhor nos proteja.