estudos bíblicos
Uma trilogia judaica: passado, presente e futuro
“Não dá para explicar, a atual realidade judaica sem um constante exame de raízes antigas.” Abba Eban (Ministro das Relações Exteriores de Israel 1968)
Gostaria de abordar sobre o passado de Israel, tendo como perspectiva a célebre frase do filósofo e teólogo dinamarquês Søren Kierkegaard: “A vida tem de ser vivida para frente, mas só pode ser entendida para trás”.
O passado, presente e futuro de Israel, no Plano Escatológico de Deus, estão distribuídos e sistematizados na carta do apóstolo Paulo aos Romanos.
O capítulo 9 fala do passado; o 10 do presente e o 11 do futuro. A intenção do apóstolo Paulo, nestes capítulos, entre outras coisas, seria a de corrigir um problema doutrinário: a falta de compreensão por parte da Igreja local em Roma a respeito do plano de Deus sobre Israel.
Quando Paulo escreveu a carta aos Romanos, a maioria da Igreja em Roma já era composta de gentios, que passaram a oprimir os crentes judeus (Rm 11:13,14,18).
Abro aqui um parênteses para promover um equilíbrio na balança, por exemplo, a situação em Gálatas era diferente, na Galácia os crentes judeus eram a maioria e estava acontecendo uma certa opressão aos crentes gentios, através de certas exigências estritamente judaicas. Paulo também escreveu corrigindo esse erro (Gl 2:18-19).
Ao lermos atenciosamente os primeiros cincos versículos de Romanos 9 percebemos uma divisão natural.
Nos versículos de 1 a 3, temos uma introdução apaixonada do apóstolo aos gentios por seus irmãos na carne, os judeus, ao ponto de desejar ser separado de Cristo (anátema/maldito) em favor da salvação do seu povo (Rm 10:1). Encontramos a mesma atitude em Moisés (Êx 32:32).
Já nos versículos de 4 a 5 encontramos a história passada, que se apresenta nas seguintes declarações:
- israelitas – designação de povo;
- adoção – condição física e “espiritual”;
- glória – revelação divina;
- alianças – posição de vassalo com o suserano;
- lei – forma de relação e obediência (Sinai);
- culto – forma de adoração;
- promessas – bênçãos condicionais e incondicionais;
- pais – os patriarcas;
- Cristo – o Messias, Salvador.
Dos versículos de 6 a 33 temos os desdobramentos dessas verdades e suas implicações.
Mas afinal de contas, quem é este povo? Que povo é este? Temos que olhar para o livro do Gênesis, para as divisões dos Toledot (gerações) “E estas são as gerações de Terá: Terá gerou a Abrão” (Gn 11:27).
Este é o Povo da Aliança Abraâmica (Gn 12:1-3), onde encontramos o chamado do patriarca Abrão e as cinco promessas divinas que vão dar o tom do relacionamento de Deus com Abraão e seus descendentes.
- fazer de Abrão uma grande nação (benção nacional);
- dar a Abrão (pai elevado) um grande nome (benção pessoal), seu nome será mudado para Abraão (pai de uma multidão Gn 17:4);
- conceder a Abrão uma benção (benção terrestre);
- conferir bênçãos através de Abrão (benção espiritual);
- abençoar grandemente os que abençoassem a Abrão (benção de relação).
E por quê Deus escolheu Israel? Não foi escolhido por ser numeroso ou forte (Dt 7:7); mas por amor (Dt 7:8a Jr 31.3); por causa da aliança com Abraão, Isaque e Jacó (Dt 7:8b,9). Outra pergunta que surge é: para quê Deus criou Israel? No profeta Isaías encontramos a resposta.
Em primeiro lugar o profeta nos diz que o Senhor criou Israel (Is 43:1,15), o verbo criar [hb. bārā’] utilizado por Isaías é o mesmo utilizado em Gênesis para a criação do universo, o criar do nada, da expressão latina ex nihilo, o sujeito deste verbo se aplica somente a Deus e o seu uso exclusivo no AT sempre se refere a uma ação divina que produz um resultado novo e imprevisível (Is 48:6-7; Jr 31:22).
Devemos nos lembrar que das quatro matriarcas três eram estéreis, Sara, Rebeca e Raquel, portanto os nascimentos de seus respectivos filhos só aconteceram por intervenção divina. Com qual propósito Deus criou Israel? Para sua glória (Is 43:7; Jr 13:11, 33:9); ser sua testemunha (Is 43:10a); revelar o único Deus vivo e verdadeiro (Is 43:10b); mostrar o único Deus salvador e redentor (Is 43:11,14a).
Como também disse Abba Eban “não há nenhuma outra nação moderna cujos motivos de existência e ação exijam referência tão frequentes a dias distantes”.
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