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estudos bíblicos

A importância dos cinco dons ministeriais para a igreja

Todos os dons dados por Cristo à sua noiva são necessários.

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Bíblia. (Photo by Aaron Burden on Unsplash)

A fim de produzir a unidade, a perfeição e a maturidade da Igreja, o Senhor Jesus confere dons aos homens, tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos. No original grego, a palavra “aperfeiçoamento” é “katartidzo”, que significa ajustar, restaurar e pôr em ordem.

No Antigo Testamento, Abraão, Moisés, os profetas, os sacerdotes e os reis foram ministros de Deus. Seus assistentes diretos, como Josué, que servia a Moisés, eram subministros. O aspecto do culto veterotestamentário desenvolveu-se na elaborada instituição do Tabernáculo e do templo, cujas principais figuras eram o sumo sacerdote e os sacerdotes, assessorados pelos levitas.

No contexto neotestamentário, encontramos os dons ministeriais, vindos diretamente do Senhor. Na Epístola aos Efésios está escrito: “… e concedeu dons aos homens” (4.8b), que são os dons ministeriais, conhecidos como dons de Jesus, pois está escrito: “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos…” (Ef 4.11-12).

Todos esses dons são necessários na Igreja. O apóstolo é um missionário enviado pelo Senhor para abrir igrejas, trabalhos e pastorear pastores. O profeta é usado pelo Senhor com uma mensagem de reavivamento, visando à exortação, à edificação e à consolação da Igreja.

O evangelista é o arauto do Senhor, aquele que, por meio da mensagem querigmática (boas novas), irá ganhar almas para o Senhor. O pastor, por sua vez, irá pastorear essas almas ganhas pelo evangelista, procurando, como um verdadeiro líder, conduzir as almas ao céu. E, por fim, o mestre, que, diante de Deus, é o responsável pelo ensino bíblico de forma sistemática na Igreja.

São os mestres que dão o equilíbrio bíblico-teológico à comunidade de fé.

Apóstolo

Nos moldes bíblicos, o apóstolo é um enviado, um mensageiro com um recado direto do Senhor (Mc 6.7, 13, 30). Os primeiros apóstolos foram escolhidos pelo próprio Senhor Jesus: “Depois, subiu ao monte e chamou os que ele mesmo quis, e vieram para junto dele. Então, designou doze para que estarem com ele e para os enviar e pregar…” (Mc 3.13-14). Estes foram escolhidos para que pudessem propagar o evangelho (Mt 10.1-8; Mc 3.13-19).

Como pré-requisito para se tornar um apóstolo, era necessário ter sido discipulado por Jesus e seguir sob o seu poder divino para continuar o trabalho apostólico e tornar conhecido o evangelho de Deus pregado por Cristo. Matias substituiu Judas, pois era um discípulo de Cristo (At 1.15-26), e Paulo foi aceito como apóstolo, pois foi chamado pelo próprio Senhor Jesus numa conversão dramática durante o seu percurso no caminho de Damasco; de Saulo, o perseguidor, tornou-se Paulo, o maior apóstolo da história da Igreja (At 9.3-5).

Os apóstolos foram chamados para pregar o evangelho de Deus, ensinado por Cristo (Hb 1.1) e destinado aos perdidos da casa de Israel (Mt 10.6), que será novamente pregado durante o período chamado de Grande Tribulação e conhecido como o evangelho do reino (Mt 24.14). Nesse tempo, a atuação do Espírito Santo será semelhante à do Antigo Testamento. Todavia, o apóstolo Paulo foi chamado para pregar o evangelho de Cristo: “Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo” (Gl 1.11-12). Esse é o evangelho que é pregado atualmente, conhecido como o evangelho da graça.

Os apóstolos são os fundamentos da Igreja: “… edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular” (Ef 2.20). Os apóstolos neotestamentários foram os receptores originais da revelação distintiva (Ef 3.5), com a incumbência de estabelecer o fundamento da doutrina (At 21.14; 1 Co 3.10).

Devido à sua natureza e caráter, esse ofício apostólico não pode ser transferido. Portanto, a noção de sucessão apostólica é um dogma humano e não uma doutrina do Novo Testamento. Entretanto, em sentido secundário, ainda há apóstolos, homens de elevada autoridade conferida por Deus, os quais têm exercido serviços especiais de grande importância na Igreja. Com base nessa premissa, o dom ministerial de apóstolo também pode ser considerado uma capacidade especial concedida por Deus a alguns membros, com vistas à expansão da obra de Deus.

Além dos doze apóstolos (Mt 10.2-13), as páginas do Novo Testamento contam também com outros homens enviados com a nobre missão de abrir novas frentes missionárias, que, com a unção apostólica, fizeram a diferença, como Paulo, o apóstolo dos gentios (Rm 11.13). “Não sou eu, porventura, livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor? Acaso, não sois fruto do meu trabalho no Senhor?” (1 Co 9.1). Por intermédio do seu apostolado, o cristianismo deixou de ser mera seita judaica para se transformar numa religião que alcançou muitas nações, cumprindo o “Ide” de forma primordial.

O ministério apostólico, em grande parte, consistia na abertura de trabalhos missionários, ensinamento e preparação de líderes para cuidar da nova igreja estabelecida. Como exemplo, temos o caso das cidades pelas quais o apóstolo Paulo passava doutrinando e pregando a Palavra de Deus, todos os sábados, nas sinagogas. Ao ver que o trabalho estava estabilizado, preparava um discípulo para deixá-lo como líder da igreja local e partia para outra cidade.

Mesmo com a morte do último apóstolo, ao longo da história surgiram homens com o mesmo ofício, como Martinho Lutero, o grande reformador da Igreja, João Calvino, John Knox, o patriarca do presbiterianismo, Daniel Berg e Gunnar Vingren, fundadores das Assembleias de Deus no Brasil, e Billy Graham, considerado por muitos como o apóstolo do século XX. Urge pedirmos que o Senhor da seara envie apóstolos (1 Co 12.28; Ef 4.11) para que, com a chama desse dom, muitas frentes de trabalho sejam abertas e muitos discípulos sejam treinados, a fim de se tornarem líderes da Igreja do amanhã.

Áreas de atuação:

  • Fundação de igrejas
  • Missões transculturais
  • Projeto de abertura de novos campos de trabalho
  • Seminários para a liderança

Cuidados em relação a esse dom

Nos últimos anos, tem-se observado um grande número de denominações que contam com líderes com o título de apóstolo. É necessário, contudo, um estudo sistemático do ministério apostólico como ofício de estabelecimento da mensagem neotestamentária e como fundamento da doutrina (Ef 2.20), pois a mensagem foi inspirada pelo Espírito Santo para que o Novo Testamento fosse escrito.

O ministério apostólico atual é uma capacidade concedida por Deus a alguns membros do corpo de Cristo para que possam exercer cargo de líderes espirituais, abrindo novas frentes e coordenando trabalhos, como missões transculturais e estabelecimento de igrejas em pontos estratégicos.

PROFETA

No contexto do Antigo Testamento, o profeta era aquele que falava das coisas de Deus por meio dos seus oráculos divinos, transmitindo uma mensagem que não poderia conter erros, e o próprio Espírito de Deus se apoderava do profeta temporariamente (Nm 11.29; Nm 27.18; Jz 3.10; 1 Sm 11.6; 1 Sm 16.13; 2 Cr 24.20; Ne 9.20; Ez 11.5; 36.27).

Quem realizava a missão de profetizar ou realizar qualquer tarefa nesse período era o próprio Espírito, que sempre usava a frase “assim diz o Senhor” (ou seja, revelações). Todavia, profeta era ofício e ministério, e ele tinha total responsabilidade por suas palavras. Caso algumas de suas predições não se cumprissem, era considerado falso profeta e condenado à morte: “Suscitar-lhes-ei um profeta do meio de seus irmãos, semelhante a ti, em cuja boca porei as minhas palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar. De todo aquele que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, disso lhe pedirei contas. Porém o profeta que presumir de falar alguma palavra em meu nome, que eu lhe não mandei falar, ou que falar em nome de outros deuses, o esse profeta será morto” (Dt 18.18-20).

Hoje não existem mais profetas nos moldes do Antigo Testamento, mas, sim pessoas com o dom de profecia e outros com o dom ministerial. Isso também difere e muito na aplicação final desses dons no contexto do Novo Testamento, em que o dom de profecia é dado por Deus de uma forma esporádica, mas sem autoridade divina para servir como regra de fé. Já o dom ministerial de profeta (Ef 4.11) difere do dom de profecia, pois aquele é dado apenas aos ministros e este é oferecido aos membros da igreja.

Ministerialmente, o obreiro portador desse dom é um proclamador de verdades inspiradas. Sua mensagem pode servir como inspiração de doutrinas (Ef 4.11-12) ou ainda exortação, consolação e edificação (1 Co 14.3-4). No Novo Testamento, o primeiro profeta foi João Batista (Mt 3.1-2). A mensagem do profeta tem por objetivo, em primeiro lugar, o arrependimento. Por isso, todo profeta exerce o dom de exortação, como Barnabé, cujo nome significa “filho de exortação” (At 4.36).

Todos que anunciam a palavra são profetas (Mc 16.15; Mt 28.19-20) e ocupam um lugar de destaque como contribuintes no aperfeiçoamento da obra (Ef 4.11- 12), na consolidação de algumas igrejas (Ef 3.3-5) e no fundamento da Igreja. Havia na Igreja primitiva muitos profetas (At 12.1a), como Pedro, cujas mensagens apresentavam aspectos proféticos (At 2.14-40; 3.12-26; 4.8-12; 10.34-44), Paulo (At 13.1,16-41), Judas, Silas e João.

Os profetas transmitem a mensagem de Deus, cuja principal motivação está voltada à vida espiritual e à pureza da Igreja, com o objetivo de trazer aos homens a revelação eterna das Sagradas Escrituras (Ef 1.17). O ministério dos portadores desse dom é mais voltado ao despertamento e ao arrependimento espiritual (Os 6.1a, 3). Suas mensagens são alertas contra o pecado, visando sempre à exortação, à edificação e à consolação, tanto dos membros como da liderança.

Áreas de atuação:

  • Trabalhos com marginalizados
  • Pregação da Palavra de Deus
  • Mensagens de despertamento espiritual
  • Mensagens de exortação, consolação e edificação
  • Cultos de oração e pregação da palavra

Cuidados em relação a esse dom

Esse dom é um dos mais importantes ofícios concedidos por Deus aos obreiros. Seus portadores devem ser submissos à Palavra e compreender a importância do ministério profético nos dias atuais. O profeta é o ministro comissionado por Deus para pregar a Palavra, visando à edificação, à consolação e à exortação (1 Co 14.3) e procurando promover o reavivamento.

O profeta deve lembrar que só a Palavra tem o poder de renovar a vida. Suas mensagens, portanto, têm de ser bíblicas. Se forem desprovidas de iluminação divina, ele vai procurar intimidar os ouvintes mais pelo timbre de sua voz do que pela mensagem, valendo-se mais do carisma do que da unção. Todo verdadeiro profeta deve se lembrar de que sua missão primordial é a pregação da Palavra de Deus, pois ela é a voz do Espírito Santo (Ef 6.17).

Evangelista

Esse dom evangelista centraliza-se no imperioso mandato de nosso Senhor para que a Palavra seja pregada a todos: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias, até à consumação do século. Amém” (Mt 28.19-20). “E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado” (Mc 16.15-16).

A mensagem do evangelho tem sido manifestada através dos séculos mediante a proclamação pública aos descrentes (kerigma) e pelo ensino de caráter ético aos novos convertidos (didaqué). Aliás, no cerne dessa questão teológica entre o proclamar e o ensinar já se depreende uma dualidade de ministérios: o evangelístico e o do ensino. Tentando unificar esses conceitos, o Dr. Mordecai define um querigma didático no qual o “ensinar” é expor em detalhes aquilo que é proclamado.

A missão do evangelista é proclamar as boas-novas não de forma detalhada, mas objetiva, a fim de que muitos se salvem, diferentemente da exposição bíblica do mestre, que visa à edificação da Igreja pela explanação poderosa da sã doutrina em forma de estudos bíblicos. A pregação do evangelho proclamada por um evangelista geralmente é confirmada por sinais, maravilhas e principalmente salvação de almas, que é o principal objetivo desse tipo de exposição bíblica.

Para que haja salvação de almas, a mensagem da pregação deve ser bíblica, e não uma exposição sem nexo, que valoriza apenas a gritaria; profética, pois deve destacar a importância do cumprimento das profecias bíblicas relacionadas à pessoa de Cristo; e, acima de tudo, evangélica, pois sempre deve conter em seu bojo a mensagem do evangelho de Cristo, que é a proclamação da salvação. “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego…” (Rm 1.16).

A Bíblia nos apresenta diversos evangelistas na Igreja primitiva usados de forma extraordinária, dotados do dom da fé, da exortação e de outros dons apropriados para um ofício ministerial tão sublime e eficaz ao desenvolvimento da obra de Deus. Filipe foi claramente o retrato desse ministério, pregando o evangelho de Cristo em aproximadamente onze cidades, durante duas viagens (At 8.4-5, 35).

Curas, libertações, sinais, maravilhas e, principalmente, salvação de almas acompanhavam a sua pregação, como na cidade de Samaria, primeiro povo não judeu a receber a pregação do evangelho: “As multidões atendiam, unânimes, às coisas que Filipe dizia, ouvindo-as e vendo os sinais que ele operava. Pois os espíritos imundos de muitos possessos saíam gritando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos foram curados. E houve grande alegria naquela cidade. Ora, havia certo homem, chamado Simão, que ali praticava a mágica, iludido o povo de Samaria, insinuando ser ele um grande vulto; a qual todos davam ouvidos, do menor ao maior, dizendo: Este homem é o poder de Deus, chamado o Grande Poder. Aderiam a ele porque a ele, porque havia muito os havia iludira com mágicas. Quando, porém, deram crédito a Filipe, que os evangelizava a respeito do reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, iam sendo batizados, assim homens como mulheres” (At 8.6-12).

Então, vê-se a importância do ministério do evangelista, cuja principal atribuição é trazer o descrente à experiência da salvação, tornando-se essencial ao desenvolvimento da obra.

A Igreja que não apoia esse ministério certamente cessará de ganhar almas e perderá em muito sua força motivacional. Como Igreja do Senhor, devemos nos preocupar com a situação das almas. Ao longo dos séculos, Deus tem levantado muitos evangelistas, como John Wesley, que afirmou: “O mundo é a minha paróquia”, George Whitefield, Charles Spurgeon, Billy Graham e outros, que desempenharam de forma singular esse ministério, de suma importância ao desenvolvimento da obra de Deus.

Áreas de atuação:

  • Pregação
  • Conferências evangelísticas
  • Trabalho de rádio
  • Evangelização de crianças
  • Grupos de estudo
  • Evangelismo universitário e outras modalidades
  • Tecnologias a favor do evangelismo
  • Evangelismo pessoal

Cuidados em relação a esse dom

Nos últimos anos, com a profissionalização de alguns ministérios, houve realmente um sensível crescimento da área evangelística, tanto na parte teológica como na parte bíblica. No entanto, também surgiram muitos evangelistas fabricados, sem o mínimo preparo espiritual e teológico, sendo, na verdade, profissionais de púlpitos e não ganhadores de almas. Tal situação trouxe um descrédito muito grande para o ministério evangelístico, culminando, por consequência, em vá- rios escândalos, tanto na área financeira como sexual.

Além da profissionalização, o despreparo teológico deu margem ao surgimento de evangelistas que mais parecem animadores de auditório do que pregadores do evangelho, que usam técnicas psicológicas, como a sugestão coletiva, para, em suas cruzadas evangelísticas, levar o povo ao êxtase emocional e assim dominar a massa com seus ensinos recheados de terríveis heresias. Que Deus envie, nesta última hora, evangelistas comprometidos com a mensagem bíblica, que sejam verdadeiros arautos do rei, para que, com suas pregações ungidas, possam ganhar muitos para o Reino.

Pastor

Os pastores são aqueles que foram comissionados por Deus para dirigir a Igreja e cuidar de suas necessidades espirituais.

No Igreja primitiva eram chamados presbíteros (At 20.17), bispos ou supervisores (1 Tm 3.1; Tt 1.7). Como faz parte de um ministério divino, o pastor deve buscar em Deus aprovação em toda sua maneira de pensar e agir (2 Tm 2.15), além de também cumprir alguns pré-requisitos, pois o episcopado é considerado uma excelente obra (1 Tm 3.1). No grego, a palavra “episkopos” designa uma supervisão pastoral local. Ancião ou presbítero referiam-se ao mesmo cargo (Tt 1.5-9).

O candidato ao pastorado deve ter uma vida aprovada por Deus e apresentar os requisitos necessários àqueles que tencionam ser ministros do Senhor (1 Tm 3.1-7):

  • Qualificações morais: Ser irrepreensível. Segundo o evangelista Moody, “caráter é o que somos no escuro”. Apresentando um caráter probo e ilibado, ele será um homem de temperança e de bom testemunho (Is 8.20), refletindo o fruto do Espírito, que se constitui em expressões do caráter de Cristo em nossa vida (Gl 5.22).
  • Qualificações mentais: Com o fruto do Espírito, automaticamente, ele passa a ter a mente de Cristo e a ser uma pessoa que renova sua mente diariamente com as coisas do céu, devendo ser apto para ensinar a Palavra com toda a dedicação (Rm 12.7), instruindo, redarguindo e corrigindo segundo a educação na justiça (2 Tm 3.17). Pelo fruto do Espírito, o pastor desenvolve em si o controle emocional necessário a alguém que lidera pessoas.
  • Qualificações pessoais: Deve ser hospitaleiro, experimentado, gostar de visitar todo o rebanho, os membros de todas as classes sociais, pois, dessa maneira, praticará a verdadeira religião, que consiste na visita aos órfãos, às viúvas e aos necessitados (Tg 1.27). Também cabe ao pastor oferecer a doutrina para a igreja. Por isso, deve ser um mestre (Ef 4.11), para que leve o povo à verdade, ensinando a Palavra de uma forma sistemática, a fim de fundamentar a fé dos membros (Rm 10.17; Jd 3; 1 Jo 5.4). Por meio do ensino recebido, refuta-se todo tipo de heresias e modismos que vêm atacando a Igreja (Tt 1.9-11).

O pastor deve ser exemplo no bom trato, na sinceridade, na gravidade, na linguagem sã, para que possa apresentar uma vida de integridade em tudo, e em nada venha a ser apontado (Tt 2.7-10). Não obstante, devemos nos lembrar de que somos assistidos por uma multidão de testemunhas (Hb 12.1). Cabe ao pastor apascentar o rebanho, tendo todo o cuidado com os membros, tratando-os não com força, mas com muito amor (1 Pe 5.2-3).

Deve também manter-se na dependência do Senhor, como um obreiro de oração, atualizado, leitor de bons livros e conhecedor profundo tanto de teologia como de liderança e psicologia, para que não incorra em erros teológicos e assim não se aproveite da simplicidade dos membros, pois os que agem desse modo são comparados aos falsos pastores. Infelizmente, alguns líderes roubam o povo, matam a sua fé e destroem a sua espiritualidade.

Biblicamente, o verdadeiro pastor é aquele que dá a vida pelas ovelhas. O Senhor Jesus nos ensina que ele deve protegê-las dos ataques dos falsos mestres, exercendo sua liderança com humildade, pelo serviço, sendo um líder-servo. Todo líder deve aprender a delegar funções, procurando desenvolver cada membro em uma área da igreja.

O grande objetivo pastoral é formar pessoas por meio do discipulado. O verdadeiro líder não é aquele que comanda sozinho, mas sabe delegar funções e formar novos obreiros. É indispensável que o pastor tenha autoridade para exortar, aconselhar e ensinar (1 Tm 3.2). Subentende-se, portanto, que o ministério pastoral deve ser precedido de uma vocação para o aconselhamento, evidentemente sem prejuízo das demais atribuições eclesiásticas, de natureza espiritual e administrativa.

Áreas de atuação:

  • Liderança de departamentos
  • Edificação da igreja por meio do ensino bíblico-teológico
  • Exortação da igreja por meio da sã doutrina
  • Aconselhamento pastoral
  • Clínica pastoral
  • Liderança de igrejas

Cuidados em relação a esse dom

O dom ministerial de pastor pode ser classificado como um dos mais importantes ofícios ministeriais que um obreiro pode receber, pois é o responsável diante de Deus pelo povo que lhe foi confiado. Contudo, o pastor deve sempre construir seu ministério com amparo bíblico, para que possa em tudo ter base na Palavra de Deus.

Infelizmente, se o pastor não tiver base bíblica suficiente em seu ministério, ele pode fatalmente cometer erros crassos, devido ao seu despreparo, tais como a falta de amor e trato com o rebanho, a falta de liderança, a intolerância, o autoritarismo e o nepotismo. Os ministros devem se lembrar de que quanto mais elevado o grau, mais servo da igreja o obreiro deve ser. E mais: o verdadeiro líder não é aquele que comanda sozinho, mas o que sabe delegar funções e formar novos obreiros.

Mestre

Esse dom é uma capacitação especial que Deus concede a alguns membros do corpo de Cristo para que possam interpretar a Bíblia. Eles são dotados de um dom extraordinário para ministrar, escrever e explicar textos de difícil compreensão. Esse ministério ocupa um lugar específico no Novo Testamento, pois é mencionado em três listas de dons bíblicos (Ef 4.11; 1 Co 12.28; Rm 12.6-8).

O mestre é um despenseiro dos mistérios de Deus (1 Co 4.1), cabendo-lhe a responsabilidade da transmissão do ensino da Palavra, que deve ser explanado de forma didática e metódica (Ef 4.12-13a).

A explanação do mestre deve ser feita em forma de estudo bíblico ou pregação expositiva, que valoriza mais a exposição textual da Bíblia, conduzindo o povo a compreender de forma eficaz o contexto tanto da época bíblica como o atual: “Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras” (Lc 24.45). Este foi um dos métodos de preleção usado por Jesus (Mt 5.2).

O mestre valoriza as regras de interpretação e prima pela exegese do contexto da passagem empregada, ministrando sempre textualmente a prédica, apelando mais para as faculdades mentais e a razão do que para as emoções, visando à edificação dos santos. Ele deve ser um amante do estudo, ter um coração preparado para buscar a lei (Ed 7.10), meditar diariamente (Js 1.8; Sl 119.97, 105), examinar (Jo 5.39; At 17.11), ter compromisso com a verdade (1 Tm 1.15), em tempos e fora de tempo (2 Tm 4.2), para que por meio da doutrina muitos venham a guardar a palavra (Ap 3.8; 1 Jo 2.14) e assim se salvar (1 Tm 4.16). Segundo Lutero, “mais vale uma verdade amarga do que uma mentira doce”.

No Antigo Testamento, o ensino era ministrado pelos anciãos (Nm 22.29), posteriormente pelos levitas e depois pelos escribas (Ed 7.10). Após o retorno do exílio babilônico, o povo judeu havia se esquecido do ensino da lei do Senhor. Diante dessa situação, Esdras, o escriba, leu a lei perante o povo desde a alva (cinco horas da manhã) até o meio-dia, e um grupo de levitas traduzia e explicava o texto para que o povo, que falava aramaico, pudesse entender. Foi a primeira vez que se praticou o exercício tanto da hermenêutica como da exegese. O verdadeiro ensino bíblico produz arrependimento e confrontação, o que gerou um grande avivamento espiritual entre o povo de Israel.

Podemos tomar como exemplo de mestres Esdras (Ed 7.10), Apolo, que era poderoso em palavras (At 18.24-28), o apóstolo Paulo, que ministrava sempre doutrinando as igrejas, e Jesus, nosso maior exemplo. No contexto bíblico, o ministério do mestre era considerado de grande importância ao desenvolvimento da obra. O mestre deve ser um profundo conhecedor de todo o saber teológico, bíblico, filosófico, moral e social, para que possa sempre oferecer respostas às questões contemporâneas.

O mestre deve ser não apenas um professor, mas um facilitador, sendo o responsável por encaminhar o povo para uma espiritualidade mais autêntica e piedosa. Nos dias atuais, o mestre recebe pouco reconhecimento nas denominações evangélicas, se comparado com o ministério do evangelista. No entanto, as igrejas que valorizam o ministério de mestre desenvolvem um bom trabalho nas áreas sociais, pois o ensino bíblico contribui e muito para o desenvolvimento tanto da intelectualidade como do caráter cristão.

A missão do ensinador é levar a igreja aos fundamentos sólidos da Palavra de Deus, e isso só é possível mediante uma explanação metódica e didática das Escrituras. Todavia, para desenvolver bem o seu ministério, o mestre deve buscar sempre estar se atualizando, fazendo cursos e seminários de aperfeiçoamento, a fim de aplicar novos conceitos na ministração do ensino, tanto na escola dominical, no curso teológico, no discipulado como nos cultos regulares, estudos bíblicos e trabalhos com pesquisa.

Além de suas atividades no contexto do templo, o mestre também deve ser um profundo conhecedor de técnicas de estudo para facilitar o exame interpretativo das línguas originais, análise de manuscritos antigos, interpretação de textos, usando as regras da exegese e fazendo com que a Bíblia se interprete por si só. O mestre também desenvolve o seu ministério como escritor e tradutor de obras.

Diferentemente de outros ministros, o mestre, quando prepara um estudo, leva horas pesquisando, pois, em suas prédicas, ministra termos específicos e detalhados da Palavra para auxiliar o povo a descobrir o caminho de Deus. Entretanto, se ele não for um professor atualizado, muitos alunos passarão a não mais frequentar suas aulas, enfraquecendo e muito o nível espiritual da igreja, pois o membro que não assiste aos cultos de ensino dificilmente tem condições de discernir sobre coisas espirituais.

Áreas de atuação:

  • Tradução e avaliação de obras
  • Escritor de livros
  • Trabalho teológico
  • Preparação de palestras
  • Pesquisas acerca de temas bíblicos
  • Estudos bíblicos na EBD, teologia e outros

Cuidados em relação a esse dom

O dom ministerial de mestre é um dos mais importantes serviços cristãos, sendo cabal ao desenvolvimento do corpo de Cristo. Contudo, o mestre deve, acima de tudo, ser um cristão piedoso para que possa pautar sua vida na disciplina e na humildade, que é o caminho da verdadeira espiritualidade.

No entanto, podemos encontrar mestres que têm um conhecimento profundo, mas são vazios de vida cristã e piedade. O mestre deve ter uma comunhão profunda com Deus (Tg 4.8), nunca se esquecendo da parte devocional, pois muitos ensinadores conhecem de forma profícua todas as técnicas de interpretação, detendo todo o saber teológico e filosófico, mas se esquecem do aspecto prático da fé. Paradoxalmente, existem aqueles que foram chamados como mestres, mas buscam apenas conhecer a Palavra de forma devocional, sem profundidade.

O mestre deve ser um profundo conhecedor da teologia, procurando sempre cavar poços, desenvolvendo um senso crítico, para que saiba discernir sempre o certo do errado, aplicando o saber teológico tanto de forma doutrinária como devocional e procurando conhecer cada vez mais a Palavra, para que possa salvar tanto a si mesmo como aos que o ouvem (1 Tm 4.16).

Quando os ensinadores não são aproveitados no ministério, isso gera uma terrível sonolência espiritual na igreja, pois numa comunidade de fé cujos mestres estão calados, a heresia fatalmente encontra campo fértil para se desenvolver. Esse é um dos principais motivos pelos quais há tantas divisões no meio evangélico, pois o verdadeiro alimento espiritual ministrado em forma de estudo bíblico foi substituído por grandes ajuntamentos de pessoas, nos quais há prioridade para tudo, menos para a Palavra.

Para reflexão: Nossas igrejas têm investido no ministério do mestre? Até que ponto esse ministério tem sido considerado importante para a Igreja diante do contexto pós-moderno em que vivemos? As igrejas cujos mestres e ensinadores estão calados tornam-se um atrativo especial para as seitas heréticas.

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