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vida cristã

Brasileiro fala sobre desafio de evangelizar japoneses

William Miyagi é filho de japoneses e vive há 17 anos no país asiático.

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William Miyagi
William Miyagi e a tradutora Luisa (Arquivos Pessoais)

Há 17 anos, William Miyagi deixava o Brasil em busca de uma vida melhor. Filho de migrantes japoneses, ele procurou no país asiático um lugar para construir sua vida. Diácono da Assembleia de Deus Ministério J.MEAD, em Kakegawa, o brasileiro acabou sendo alcançado por Jesus.

Foi no Japão que William Miayagi, atualmente com 36 anos, formou sua família, ao lado da esposa Ticiani Tiemi Shinozaqui Miyagi, de 33 anos, ele completará 13 anos de casado em novembro. Juntos eles tiveram Isabelle Aimi Miyagi, de 6 anos.

William, Ticiani e Isabelle

William, Tiemi e Isabelle (Arquivos Pessoais)

O Evangelho entrou na vida do casal através de Tiemi, que também nasceu no Brasil. Ao se conhecerem no Japão e enfrentarem as crises de início de relacionamento, ela acabou sendo evangelizada por colegas de trabalho e aceitou o convite para ir à igreja. Tudo começou a mudar na vida de William e Ticiane deste então.

Com exclusividade ao Gospel Prime, William falou sobre como tem sido desafiador anunciar o Reino de Deus no país de maioria budista e xintoísta, mas vê com otimismo o avanço do Evangelho naquele lugar. Com uma cultura bastante diferente, porém muito admirada pelos brasileiros, o povo japonês mantém certo receio em relação a fé cristã.

Uma das principais barreiras para a pregação da Palavra de Deus no país é a língua, mas William diz que os jovens serão usados por Deus para fazer essa ponte, pois uma nova geração tem sido levantada para comunicar melhor a mensagem de Jesus Cristo.

Leia à íntegra da entrevista:

Como a sua família foi alcançada para Jesus?

Eu e a minha esposa não éramos convertidos e também não tínhamos cristãos (evangélicos) nas nossas famílias. Começamos a namorar em Agosto/2005 e em Maio/2006 noivamos e já fomos morar juntos, ela com 19 anos e eu prestes a completar 22 anos, ou seja, dois jovens imaturos.

Eu vim sozinho para o Japão com projetos e sonhos à serem alcançados, já tinha minha liberdade e independência. Ela, eu estava tirando dos cuidados dos pais sem experiência em nada (profissão, cozinhar, arrumar e administrar a casa, entre outras coisas). Neste contexto que começaram os conflitos dentro de casa. Até que chegou um momento que estávamos pensando em desfazer o noivado e cada um seguir a sua vida.

Foi aí que Deus entrou com provisão usando duas colegas de trabalho da minha esposa que começaram a evangeliza-la e após uma discussão ela se lembrou do convite feito por elas para ir à igreja, e foi o que ela fez numa noite de sábado de fevereiro/2007 e após 3 cultos de sábados naquele mês ela entregou a sua vida ao Senhor Jesus Cristo.

Eu, vendo a sua mudança diária e tendo contato com os membros da igreja, no mês seguinte fui à igreja com ela e após alguns cultos, no mês de março entreguei a minha vida para o Senhor e no dia 16 de novembro daquele ano casamos no civil, dia 23 de dezembro fomos batizados no tanque batismal da igreja e foi o primeiro batismo da igreja, pois foi inaugurada no segundo semestre de 2007 e nos casamos dia 2 de Janeiro de 2008 na igreja que estamos congregando até hoje, Igreja Assembleia de Deus Ministério J.MEAD, na cidade de Kakegawa.

A maturidade vem de acordo com as experiências que você vivencia no seu dia a dia com Deus e com as pessoas. Por isso, fica aqui um conselho, pense: Será que sou maduro o suficiente? E se, eu posso iniciar um compromisso sério?. Devemos levar alguns aspectos importantes como idade, maturidade, compromisso, tempo, propósito e outras tantas coisa, mas o principal se a pessoa teme a Deus e o serve de todo o seu coração. Graças a Deus, Ele entrou em nossas vidas e está guiando os nossos passos e agora podemos cuidar da nossa filha Isabelle no seu caminho.

Quais são os desafios para o Evangelho no Japão?

O Japão é um país predominantemente budista e xintoísta — as duas religiões abrangem mais de 90% da população, porém não são todos praticantes e seguem apenas uma tradição sem crer. Isso é um dos principais pontos positivos para nós que queremos levar o Evangelho para os japoneses, todavia a língua japonesa é uma grande barreira para nós estrangeiros.

A esperança é que a segunda geração de imigrantes brasileiros que falam japonês fluentemente estejam maduros para esta missão. Nós precisamos de aliados, como diz a Bíblia. E os aliados são os jovens que já dominam a língua japonesa e que, um dia, vão conversar de igual para igual sobre o amor de Jesus Cristo com os japoneses. Devemos orar para que a igreja japonesa, brasileira e outras encontrem maneiras de serem relevantes dentro de sua cultura e consiga chegar aos japoneses. É preciso trabalhar a mentalidade e espiritualidade desses jovens, eles precisam conhecer a cultura japonesa, mas manter a identidade deles, são cristãos.

Trabalho de evangelismo na praça de eventos do shopping Zaza City, cidade de Hamamatsu (Arquivos Pessoais)

O que a Igreja tem feito para superar estes desafios?

Estamos ensinando através da Escola Bíblica as crianças e os adultos a serem discípulos do Senhor com pilares fundamentados em Jesus Cristo e que cresçam na graça e no conhecimento de Deus para adquirir capacitação e qualidade na hora de evangelizar. Além de uma vez por mês em nossa sede na cidade de Okazaki, na província de Aichi Ken, temos Curso de Formação de Obreiros(CFO) e o Centro de Desenvolvimento da Criança (CDC). Temos escola teológica básica, materiais e bíblias em japonês, inglês e português para uso no evangelismo.

Nós cremos num futuro próximo, que teremos muitos japoneses em nossas igrejas com culto bilíngue português-japonês que serão frutos deste trabalho e também da criação dos nossos filhos nas escolas japonesas. Já tivemos dois filhos, um de pastor e outro de um obreiro, que se formaram ano passado no seminário em Tokyo, no “Central Bible College”, instituição de treinamento missionário da Assembleia de Deus do Japão. Um deles já está pastoreando uma igreja em Okinawa e outro está com o seu pai que é pastor do ministério ajudando na obra.

Trabalho com crianças

Trabalho com crianças (Arquivos Pessoais)

Existe muito preconceito contra os evangélicos no país?

Não existe, porém há um grande receio quando se fala em religião. Como houve perseguição aos cristãos no passado e muitos escândalos e terrorismo de seitas, quando se fala de religião os japoneses ficam apreensivos. Prova disso é que quando vamos procurar algum salão para alugar na imobiliária pode estar tudo certo para a locação, porém quando o proprietário fica sabendo que é para a igreja o negócio é desfeito.

Outra prova que não há preconceito são as oportunidades que tivemos em pregar em asilos e em praças e estações. São raros vermos pessoas nos ofendendo ou partindo para agressão física.

Que tipo de trabalho você faz para alcançar os japoneses para Cristo?

Eu compro materiais como panfletos e bíblias em japonês e também em outras línguas para evangelizar. Consegui alguns contatos, um dos Estados Unidos, que fornecem o material de evangelismo em diversos idiomas gratuitamente, até o envio é gratuito. E outro é um ministério em Tokyo que fornecem bíblias bilíngue inglês-japonês de graça, pagando somente o frete. Esses fornecedores são a My Life House e a WM Press.

Esses materiais entregamos de porta em porta ou na rua quando surgem alguma oportunidade de entregar ou compartilhar uma mensagem com alguém. Normalmente marcamos uma data para sair e assim nós oramos e jejuamos antes de sair, mas às vezes surgem oportunidades no dia a dia e temos o material para entregar de imediato.

Materiais de evangelismo (Arquivos Pessoais)

A igreja no Japão tem tido um bom crescimento ao longo dos anos?

Sim, mesmo que não seja no mesmo ritmo do Brasil houve um crescimento no decorrer dos últimos anos. Eu creio que isso foi decorrente das crises enfrentadas no final do ano de 2008 e início de 2009 com a quebra do banco Lehman Brothers, em 2011 com grande terremoto que provocou o tsunami e grande destruição na região de Sendai, província de Miyagi Ken e agora com a pandemia gerada pelo corona vírus.

Com esses acontecimentos eu acredito que as pessoas ficam mais sensíveis e por mais que Deus nos permita passar pelo sofrimento para nos ensinar lições que não poderiam ser aprendidas de outra forma, a sensação que temos quando estamos em meio ao caos é de que a dor nunca irá cessar. E com isso é possível dar uma esperança e conforto pro povo japonês através do evangelho.

Qual a maior diferença da igreja japonesa para a brasileira?

A grande diferença é que na igreja japonesa você perceberá no momento que entra é que quase não tem jovens e a grande maioria das pessoas são idosos e consequentemente as igrejas estão fechando por falta de membros ou da liderança do trabalho. As igrejas brasileiras, infelizmente ficam somente em lugares onde há um grande número de brasileiros, servindo mais a comunidade brasileira e Latina.

Na igreja japonesa vemos os membros idosos, mostrando que não saem da igreja por qualquer motivo, permanecendo longos anos. Já na igreja brasileira há um grande fluxo de entrada e saída de membros, lembrando que aqui somos estrangeiros e muitos retornam para sua terra natal, ou mudam de cidade ou província buscando uma oferta melhor de emprego.

Espero que, como mencionei acima, possamos ver a igreja japonesa investindo nas crianças e jovens e as igrejas brasileiras nos filhos que já estão falando o japonês fluente para somar forças com a igrejas japonesas e vermos os japoneses se renderem ao Senhor.

Vemos ministérios de igrejas evangélicas brasileiras fazendo ações sociais, como levando alimentos e roupas aos moradores de rua semanalmente. O nosso ministério tem ajudado com cestas básicas os necessitados ou em caso de desastres naturais e fazemos visitas quando solicitado. Eu creio que com as ações sociais Deus é glorificado e começará a surgir questionamentos e curiosidades para saber por que os brasileiros fazem isso? E podemos apontar para Cristo o autor e consumador da nossa fé.

Ponto de pregação em Fujieda

Ponto de pregação em Fujieda (Arquivos Pessoais)

Que conselho daria para os missionários que desejam atuar no país?

Eu aconselho, assim como em qualquer outro país, é que aprendam o idioma e a cultura do país. Para um japonês aceitar a Cristo demora um tempo, pode ser até anos, mas quando ele aceita dificilmente abandonará o Senhor, por isso a importância do idioma para poder explicar o evangelho.

Venha com amor por este povo que carece tanto do amor de Jesus Cristo, aqui o “solo” é fértil. Lembrando também que vivemos em um mundo globalizado, aqui você encontrará diversas nacionalidades, o inglês ajudará muito.

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