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Denúncia contra Bolsonaro não deve mudar postura da Igreja, diz teólogo assembleiano

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Na última terça-feira, 18 de fevereiro de 2025, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi formalmente denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado e diversos outros crimes. Entre as acusações estão a liderança de organização criminosa armada, ameaça ao patrimônio da União e outros atos graves. Esse movimento gerou incertezas no cenário político, especialmente diante da proximidade das eleições de 2026, um período decisivo para o país.

Para muitos, especialmente entre o público evangélico, que historicamente demonstrou apoio a Bolsonaro, o impacto dessas denúncias pode ser significativo. No entanto, o teólogo e escritor Gutierres Fernandes, especialista em política, concedeu entrevista à revista Comunhão dizendo que acredita que o cenário eleitoral não mudará substancialmente.

Em sua visão, o bolsonarismo possui uma base de apoio fiel, que vota no ex-presidente independentemente das circunstâncias, configurando um “compromisso de fé, literalmente”. Fernandes, embora reconheça a gravidade moral da denúncia, admite que, como leigo, não se sente capacitado para avaliar a força jurídica do caso.

A denúncia envolvendo Bolsonaro remete à revelação de que ele próprio teria recebido propostas para “virar a mesa” e promover um golpe de Estado. Fernandes enfatiza que tal ação não pode ser tratada de forma leviana, pois representa uma ameaça direta à Constituição, ao Estado e à estabilidade do país.

O teólogo alerta que, em países com históricos de golpes, o desenvolvimento é frequentemente prejudicado e, em alguns casos, chega a ser revertido. Para ele, a democracia, o Estado de Direito e o império das leis são fundamentais para garantir a prosperidade e estabilidade das nações.

Além disso, Fernandes destaca um ponto sensível: a relação entre a igreja e a política. Segundo ele, a igreja sempre sofre prejuízos quando se associa diretamente a uma figura política. Ao apoiar um candidato, especialmente quando este é apresentado como “o candidato da igreja”, a instituição religiosa pode ser vista como cúmplice dos erros e falhas desse candidato. Ele aponta que a instrumentalização da fé para fins eleitorais coloca a comunidade cristã em uma posição vulnerável, sendo constantemente associada a escândalos e incoerências.

O teólogo também alerta para os perigos da união entre Igreja e Estado, apontando que, historicamente, essa aliança nunca foi benéfica. Para Fernandes, o distanciamento entre as duas esferas é essencial para manter a autoridade moral da igreja e preservar seu testemunho perante a sociedade.

Ele defende a separação entre Igreja e Estado, um princípio defendido pelos antigos batistas e que foi crucial para a construção das democracias modernas. Essa separação, segundo ele, não significa hostilidade à fé, mas sim uma forma de proteger a integridade da igreja e a liberdade religiosa.

Em sua reflexão, Fernandes reforça que a força da igreja não está no apoio de líderes políticos ou partidos, mas no Espírito Santo. A missão da igreja, segundo ele, não depende de favores governamentais ou alianças políticas, mas de sua fidelidade à mensagem de Cristo.

Para ele, a verdadeira transformação da sociedade não acontece por meio de compromissos políticos temporários, mas pela vivência e testemunho do Evangelho. O compromisso da igreja deve ser com o Reino de Deus e não com projetos de poder.

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