opinião
A ditadura dos ofendidinhos
Parece haver algo que “ofende” mais que qualquer outra coisa: o Evangelho.
Não se pode tirar uma foto de índio, porque “ofende” os índios. Nem de soldado, porque “ofende” os soldados…
Se se chama um preto de preto, “ofende-se” o preto. Se se chama de moreno, “ofende-se o preto, porque não se lhe valoriza a cor. Se se chama um branco de branco, “ofende-se” o branco, que não mais quer ser branco, e sim preto, pois assim, sendo um ‘branco-preto’, pode estudar numa universidade pública por exemplo sem “ofender” ninguém.
Se um hétero diz que é hétero, “ofende” o gayzista, que diz que ninguém é hétero, mas todo mundo é homo.
Se um homem hétero diz que uma mulher é bonita, “ofende” as mulheres, que se sentem vituperadas por tamanho sexismo. Se uma mulher hétero diz que um homem é bonito, “ofende” as mulheres homo e feministas, porque as mesmas creem que mulheres só podem achar outras mulheres bonitas. Alguém poderá dizer que ‘héteros também se ofendem com gays’. É verdade. E aí gayzistas “se ofendem” ainda mais!!
Se uma criança diz que quer ser policial, “ofende” quase que a sociedade inteira, porque a mesma entende ser absurdo e quase imperdoável que uma criança queira ser um policial. Um tema de festa infantil como “MC Malandrinho”, sim. Há muitos assim. Policial? É “ofensivo”.
Se um universitário das Humanidades afirma ser “de Direita”, ofende tanto colegas e professores, que pode ser linchado e morto (como aconteceu recentemente). Se alguém diz que ‘se fosse com um esquerdista, o mundo estaria em polvorosa, condenando o ato’, então “ofende” quase que a sociedade inteira, que o(a) acusará de ‘incitação ao ódio’.
Se alguém anda com um cachorro na coleira, “ofende” os ecorreligiosos, que afirmam que cachorro não é bicho. Se este alguém solta o cachorro da coleira, “ofende” os ecorreligiosos que apontarão para a coleira psicológica que o cachorro, que não é bicho, leva consigo. Se aquele mesmo alguém prende o cachorro, “ofende” os que o querem solto. Se o solta, “ofende” os que o querem seguro.
Se se canta, “ofende-se” quem não canta.
Se se escreve, “ofende-se” quem não lê.
Se se defende Israel, “ofende-se” quem o ataca.
Se se defende os palestinos, “ofende-se” os que querem que os que defendem os palestinos também ataquem Israel.
E assim cresce o ofensor status quo atual, a partir do e no qual a “ofensa” é a palavra da moda. Na verdade, na verdade, ofendidos mesmo são muito poucos. A “ofensa” verdadeira para o que está aí é não se sentir ofendido, ou seja, tem-se que se “ofender” com alguma coisa, do contrário, “ofender-se-ão”.
Mas, parece haver algo que “ofende” mais que qualquer outra coisa: o Evangelho. Talvez seja porque sua base literária, a Bíblia, defenda que criança é criança, adulto é adulto, mulher é mulher, homem é homem, cachorro é cachorro, preto é preto, branco é branco, preto é gente, branco é gente, gente não é bicho e cachorro é bicho. E sei que com isso, “ofendo” muita gente.
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