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Evangelho – o que é, e o que não pode ser

Torna-se inconcebível qualquer evangelho que tem um foco em transformação social.

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Evangelho
Evangelho (Foto: Direitos Reservados/Deposiphotos)

Se fôssemos, em poucas palavras e em uma estrutura lógica, sintetizar o evangelho, poderíamos fazê-lo da seguinte forma:

Problema

  1. Deus é espírito e perfeitamente bom, e criou a humanidade para relacionar-se com Ele.
  2. A humanidade relaciona-se com Deus em espírito. Contudo, morreu espiritualmente ao decidir-se contra a vontade de Deus.
  3. A humanidade, portanto, perdeu a comunhão com Deus, e prejudicou seus sentidos e consequente compreensão da natureza pelo afastamento do Criador.

Solução

  1. Deus, que é perfeitamente amor e não pode voltar atrás da sua palavra, sacrifica-se para restaurar a humanidade ao seu aspecto original/vida espiritual, dando-lhes a oportunidade de relacionar-se mutuamente novamente.
  2. Na cruz do Calvário, em Cristo, Deus está reconciliando a humanidade consigo mesmo naquela que é a maior demonstração pública de amor existente (Vide 2 Cor. 5:19; Col. 1:20; Ef. 2:16).
  3. Toda humanidade poderá, por meio da fé, através do agir da palavra de Deus e do Espírito Santo, converter-se de seus atuais caminhos e permitir uma restauração espiritual progressiva, que segue-se a imediata justificação do indivíduo, através de um relacionamento com Deus marcado pela confiança e obediência.
  4. A cruz, portanto, é a mensagem central do evangelho. A restauração espiritual a função primária e decisiva. A salvação da alma o propósito primordial e de certa forma único.

Certamente, o evangelho não é completamente compreendido e descrito de maneira tão simplória, e o fato das escrituras sagradas conterem centenas de páginas testifica isso. De Gênesis até Apocalipse, o propósito de Deus é a restauração da humanidade para uma nova comunhão, implantando e expandindo o Reino de Deus nas pessoas e através delas. O objetivo de compor essa estrutura acima é para deixar claro alguns aspectos que destaco a seguir.

O evangelho diz respeito a salvação da alma do indivíduo, através de uma transformação interior que seria impossível sem a intervenção direta e absoluta de Deus por meio do sacrifício de seu filho. As “boas novas” é que, como diz o apóstolo Paulo, aqueles que estavam mortos, em Cristo estão novamente vivos (vide Ef. 2:1). Não há nada pior do que a morte, e não há nada melhor do que a vida, e a vida encontra-se em Cristo (vide Col. 3:3). O desespero da situação humana é feita conhecida através da mensagem bíblica, mas o conforto da solução é igualmente transmitida pelas mesmas escrituras. Jesus é, portanto, o nome principal na proclamação do evangelho, quer seja isso conveniente ou não; quer seja moderno ou não; quer seja vergonhoso ou não. Sua cruz é o objeto central, quer isso seja escândalo ou não; facilmente compreendido ou não; bonito ou não. Negociar essa centralidade é jogar absolutamente tudo que Deus fez e quer para humanidade fora, dando ênfase à outras transformações secundárias, terciárias, ou não existentes dentro do propósito de Deus.

Tendo dito isso, torna-se inconcebível qualquer evangelho que tem um foco em transformação social nos termos propagados atualmente. Uma sociedade é construída por indivíduos, e prospera na existência de virtudes morais/espirituais nestes indivíduos, os quais são impossíveis de desenvolver sem a fonte de todas as virtudes – o Espírito de Deus. Sem Deus, uma sociedade está fadada ao fracasso, pois a imoralidade leva à todo tipo de tragédias, como a história ensina de maneira tão nítida. Sodoma, Gomorra, o mundo na época de Noé, Grécia antiga, Roma antiga, são exemplos de civilizações que, ao rejeitarem Deus e assumirem uma forma social sem as virtudes, os princípios, o conjunto de leis morais universais que são reflexo da natureza de Deus, foram destruídos. C. S. Lewis escreveu de forma brilhante em seu livro “a abolição do homem” a destruição natural do ser humano ao rejeitar a moral universal objetiva, que advém de quem Deus é. Contudo, o evangelho não se trata primariamente e/ou exclusivamente de ações humanas para construir um modelo social. De maneira alguma Essa transformação é, e precisa ser, uma consequência natural do evangelho que transforma o indivíduo – o evangelho da cruz. Ao mudar o rumo de um e outro, e colocar como objetivo central um no lugar doutro, o resultado é comprometido. Aliás, não há resultado espiritual algum em transformar um modelo social por meio de ações humanas sem a pregação do evangelho que alcança e transforma o indivíduo; um evangelho que, de certa forma, tem sido tão disputado e até erradicado de certas denominações cristãos.

O Reino de Deus, conforme pregado por Cristo (vide Mc 10:7; Mt 4:17; Mt 13), é marcado principalmente por três componentes que não encontram-se em qualquer transformação exterior: paz, justiça, e alegria no Espírito Santo (vide Rom:14-17). O Reino de Deus é eterno, e conforme Cristo, estabelece-se primariamente dentro do Cristão (Lucas 17:20-21). A evidência de uma nova vida, aquela vida proposta por Deus desde a Criação e retomada no processo de Salvação, é a paz, que nenhum órgão internacional conseguirá promover; a justiça, que nenhum conjunto de leis ou forma de Estado conseguirá estabelecer; e a alegria, que nenhum modelo econômico social conseguirá trazer. O Reino de Deus cresce como grão de mostarda (Mc 4:31-32), não porque um dia foi pequeno e será grande – ele é eterno – mas porque é insistente e cresce em condições adversas. É, portanto, uma transformação individual pela chegada do Rei e seus princípios universais objetivos próprios do Reino, que configuram uma transformação da compreensão de cada cidade em que se estabelece, digo, cada ser humano alcançado pelo Reino através do arrependimento e da fé. Independe de classe; modelo econômico; língua; raça; mas somente do arrependimento individual e da fé colocada em Cristo. É, portanto, iniciado na mensagem da Cruz, e cresce individualmente e coletivamente até o completo estabelecimento pela segunda vinda de Cristo. É um coração transformado e obediente ao Rei deste Reino que transforma o meio social, e não uma iniciativa social de programas e modelos defendidos por pessoas que acreditam que o homem é bom em si mesmo e são os meios que o prejudicam. Em suma, sem confissão de pecados não há perdão, e parece-me que pecado e perdão não é o foco em teologias liberais atuais. Sem cruz não há compreensão que leva ao arrependimento, e parece-me que cruz não é o foco em teologias liberais atuais. Quem foca em transformação social, em uma busca utópica em igualdade absoluta, não compreende o problema fundamental do ser humana e o objetivo central de Deus para a humanidade.

É um movimento recente uma teologia que foca na transformação social. A igreja Luterana, que recentemente colocou um líder de jovens trans a nível nacional, e ordenou também esse ano alguém sem definição de sexo (gênero, como chamam) no ministério fora do Brasil, é um dos proponentes desse ideal. A reinterpretação do evangelho com um viés social é recente e tem como motor propulsor as teorias socialistas e o desafio ao capitalismo de Karl Marx. Um doutor da faculdade luterana brasileira, por exemplo, trabalha com o projeto “Protestantismo em Marx”, cuja descrição é a “Análise da percepção de Karl Marx sobre protestantismo de sua época, especialmente na Alemanha, e a afinidade entre Lutero e Marx na avaliação do capitalismo das primeiras década do século XVI, quando Lutero criticou o capitalismo comercial e a usura.” Interessantemente, esse doutor é mentor de professores de teologia na faculdade da Assembleia de Deus em Joinville, Santa Catarina. Convém mencionar isso de forma enfática: os proponentes da transformação social, aqueles que fundamentaram esse pensamento e propuseram as suas bases, não acreditam em Deus e são avessos ao evangelho. Aqui não é o espaço para tratar da ingenuidade ao lidar com sistemas econômicos sem isolá-lo dos problemas intrínsecos da humanidade, e das mirabolantes ideias de associar alguns diretamente com o evangelho, mas as bases fundamentais dos sistemas socialistas e como eles distanciam-se do evangelho será apresentado em um momento. Infelizmente, como qualquer experiência laboratorial que, saindo de controle, ameaça toda uma população, acadêmicos, digo, aqueles que ingenuamente imaginam que a discussão conceitual acadêmica não tem impacto na vida real, propuseram conciliar as teorias sociais com o evangelho, e afirmar que o evangelho é primeiramente e primariamente o grande agente da transformação social. Ora, em partes o é, pois a transformação individual gera uma consequência prosperidade, mas esse não é, nunca foi, e nunca será o primeiro e primário objetivo. Ressalto ainda, que a prosperidade consequente não é em si mesma uma igualdade absoluta econômica, tampouco exclusivamente financeira. Lembremo-nos que a palavra de Deus deixa claro que os pobres sempre estarão conosco, e que o objetivo do evangelho é dar-lhes as boas novas (vide João 12:8; Mt 26:11; Deut. 15:11). A correspondente função social da igreja inicia-se no indivíduo, que deve mover-se de compaixão e misericórdia para o compartilhamento com os marginalizados através de um coração voluntário. Isso é a verdadeira religião que Tiago afirma em sua epístola; frutos naturais de um caráter semelhante ao de Cristo. Não é uma imposição sistêmica.

O apóstolo Paulo foi o maior evangelista que o presente mundo já conheceu, lançando os fundamentos do evangelho pela sua autoridade apostólica em praticamente todo território chave do mundo da época. Qual foi o centro da sua mensagem, e quais foram as muitas admoestações, orientações, e correções propostas em suas cartas às igrejas? Quase a totalidade delas são concernentes a uma vida santa, justa, e piedosa (como em Tito 2:12), com um foco fundamental no arrependimento, confissão, e perdão de pecados, e na paciência e esperança da vinda de Cristo. Convém mencionar, obviamente, que essa espera pelo Cristo que há de vir não pressupõe inércia, mas uma participação social ativa e fundamentada nos pilares da justiça, do amor, e da graça divina, os quais são inexoravelmente inseparáveis e nada tem a ver com modelos sociais de transformação externa, como muitos ingenuamente acreditam, os quais são fundamentalmente opostos aos princípios divinos que refletem o caráter e a natureza de Deus. A mensagem central de Paulo não constituiu-se em palavras de persuasão humana, mas ele falava de coisas espirituais para pessoas que deveriam ser espirituais (vide 1 Coríntios 2:4; 13-16). Discursos de transformação social são facilmente compreendidos, defendidos, e impostos por uma grande parte da população que está insatisfeita com os atuais modelos políticos e econômicos, e nenhuma destas coisas são espirituais e tem qualquer relação com o evangelho, ainda que teólogos liberais compartilham, publicam, e manifestam em palavras e ações. A transformação individual pelo caminho do arrependimento e da graça de Deus é fundamentalmente exposto em seus escritos, sem qualquer menção de um necessária transformação social, tanto pelo contexto histórico da época como pela irrelevância diante da revelação do Evangelho. “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado” (1 Cor. 2:2).

Por essa e outras razões é importante manter-se fiel a origem, ao propósito pelo qual algo foi determinado, pois isso explica toda a reação em cadeia que se segue. Entender o plano de Deus com a criação e salvação da humanidade propriamente ajuda o cristão a não cometer erros tanto na propagação da mensagem como na sua forma de viver. É sempre importante olhar para trás antes de dar um passo para frente – as origens apontam para onde deve-se necessariamente caminhar, e é isso que propus fazer nesse artigo. Pessoas consistentes com o que acreditam vivem baseados na ideia original, e isso determina tudo que pensam e fazem. Não adianta afirmar em um documento que possui uma determinada visão se suas ações provam o contrário – pelo fruto conhecemos uma árvore (vide Mt 7:16). Com relação a vida humana – o maior dom e a maior dádiva que todos temos – narrativas de origens divergentes da Criação divina e seu relacionado propósito têm causado males incalculáveis, principalmente quando adotados como modelos a serem seguidos para justificação de ações “em nome do evangelho”. Cristãos devem ficar espertos para não caírem na armadilha de defenderem certas ideologias direta ou indiretamente, e errarem o alvo que Deus estabeleceu. A linguagem romântica da serpente está induzindo muitos a se desviarem da verdade e abraçarem a rebelião e a destruição como um objetivo nobre, satisfazendo unicamente a própria alma de certos desconfortos. É inconcebível cristãos apoiarem, citarem, compartilharem pessoas com ideais contrárias ao propósito de evangelho, ou fazer disso o próprio evangelho. Tenho visto em primeira mão líderes citando pessoas que possuem um conhecimento superficial, nulo, ou absolutamente contrário ao evangelho para demonstrar seus sentimentos com relação a certos assuntos. Convém avançarmos no entendimento dos fundamentos ideológicos que competem com o evangelho antes de retomar com outras breves e finais observações.

Sobre ideologias

Ideologia é um sistema de ideias e ideais que formam a base de alguma teoria. Já foi muito utilizado esse termo no passado como uma certa “ciência das ideias”, o estudo da sua origem e natureza. Hoje, criou-se um entendimento que o termo é estritamente político, mas isso é ignorar aspectos ontológicos da existência, principalmente a boa e necessária filosofia que encontra-se dentro da teologia para dar luz ao entendimento dos fundamentos das ideias. Com essa definição em mente, convém mencionar que absolutamente nenhuma ideia está plainando no ar, como nenhuma montanha ou nenhum edifício está voando ao nosso redor. Toda ideologia precisa de fundamentos objetivos para sustentá-la. Tudo tem um princípio e um conjunto de fundamentos. Os princípios, como conhecemos, regem toda linha de pensamento. São eles quem determinam as ações, os meios e o fim de alguma ideia.

Tornou-se natural, infelizmente, discutir ideias sem atentar-se para os seus alicerces, o que deveria ser natural e intuitivo. Caracteriza-se alguém, etiqueta-o, por uma aparência ou um comportamento semelhante a alguém que acredita em determinado conjunto de ideais. Se a pessoa, por exemplo, fala de maneira segura, com uma postura ereta e com convicção de ideias mais tradicionais baseadas em certos princípios objetivos, corre o risco de ser chamado de “Nazista” ou “Fascista”, e isso inclusive no meio cristão. Se tem um tom liberal em alguma sentença, pode ser chamado de “Comunista”. Aqui já temos dois aspectos que preciso adiantar: 1) Nazismo e Comunismo, como será brevemente explicado a seguir, possuem os mesmos fundamentos anticristãos, e tratar um em detrimento de outro é pura ignorância 2) Se alguém apoia ideias ou ideais que são fundamentalmente iguais em meios e/ou fins dessas ideologias, tal associação não é absolutamente estranha, pois pode ser a única opção de linguagem pra retratar o conjunto de pensamentos de alguém. O que é definitivamente errado é considerar unicamente aspectos físicos e retóricos para atacar os pensamentos da pessoa e suas intenções, sem aprofundar-se no que exatamente a pessoa está propondo. Obviamente, aqueles que abertamente defendem tais nefastas ideologias devem certamente serem condenadas sem qualquer ressalva, visto o estrago incomensurável que geraram, e ainda geram, no mundo em que vivemos. Parece-me, contudo, que o Comunismo, também chamado de progressismo ou socialismo, não é criminalizado como deveria – mais de 100 milhões de pessoas morreram, e milhões são proibidas de professarem a fé e terem qualquer contato com o evangelho por conta desse regime diabólico. Contudo, temos percebido um enorme erro ao caracterizar certas pessoas e associá-las à esta ou outra ideologia simplesmente por ter uma postura específica, e teoricamente contrária àquilo que acreditam ser uma ideologia melhor. Claramente, essa é uma estratégia na dialética, que algumas pessoas usam para fortalecer seus ideais contra supostos ou declarados “adversários”. Todavia, cabe-se sempre destacar o seguinte:

As bases, os fundamentos, os princípios do regime Nazista são exatamente os mesmos dos regimes Socialistas, e ambos são fundamentalmente contrários aos princípios divinos como descritos na Bíblia. Veja, não vamos de maneira apressada classificar certos teólogos como comunistas, e achar que estamos falando de um evento político marcado pela antiga União Soviética. É importante compreender que, no que diz respeito as motivações e conjuntos fundamentais destas ideias, não há nenhuma variação de qualquer tipo que seja. Vamos examinar brevemente os fundamentos destas duas ideologias para relembrar essa verdade (que deveria ser evidente), e depois fazer um exercício de compará-los com os fundamentos do evangelho, aqueles ideais doutrinários bíblicos que os cristãos não negociam.

1) Em primeiro lugar, Nazismo e Comunismo se baseiam na teoria da evolução de espécies tal como proposta por Charles Robert Darwin. Em seu livro “A origem das espécies”, publicado em 1859, Darwin descreve uma hipótese em que todas as criaturas evoluíram de um organismo não complexo, e sobrevivem, e melhoram suas características, durante um processo evolutivo de longo prazo, tão logo sejam fortes o suficiente para evoluírem e sobreviverem. Em sua teoria está explícito que os mais fracos não sobrevivem, e que, inclusive, eles são um problema no processo evolutivo. Esse pensamento pressupõe 1) a diferenciação de raças, o que Darwin descreveu em todos os seus trabalhos, classificando algumas raças (inclusive africanos) como um defeito de evolução (puro racismo); e, consequentemente, 2) a eugenia, a ciência de melhorar uma população humana através de criação controlada para aumentar a ocorrência de características herdáveis desejáveis, um método de melhorar a raça humana que caiu em desfavor após a perversão de suas doutrinas pelos Nazistas. O desejo de Hitler de eliminar uma raça, como os judeus, para criar “seres humanos de verdade” é baseado em Darwin. Cabe-se ressaltar que a divisão de raças e o desejo de ter um “ser humano” mais evoluído fortaleceu-se a partir dessa teoria do fim do século 19, sendo Darwin o maior influenciador das teorias nefastas do século 20. Um ministro americano, inclusive, destacou nos tribunais no início do século 20 que, se o evolucionismo fosse ensinado no lugar do Criacionismo, o mundo conheceria guerras e dissenções fundamentas em suas teorias como jamais visto. Poucos anos depois a primeira guerra mundial explodiu exatamente pelo uso dessa, à época e ainda carregando fortes vestígios, “cientificamente comprovada teoria.” Hoje, ironicamente, cristãos tradicionais são classificados como “racistas” por não concordarem com as teorias de raça ou de racismo estrutural, e outros cristãos liberais lutam fervorosamente por essa causa em nome do “evangelho”, sendo que a própria origem é completamente estranha a palavra de Deus, mas esse não é um assunto para esse momento.

Pois bem, a teoria de Darwin foi o fundamento para a teoria de Karl Marx, cujo objetivo também foi, antes de trazer sua “solução econômica”, explicar a existência humana à parte da existência de Deus. Qualquer leitor das obras de Marx, como eu, reconhecem claramente sua rebeldia ao modelo divino e suas declarações explícitas de um novo modelo social sem qualquer menção de Deus e seus princípios morais objetivos. Marx tinha um propósito na vida, conforme seus próprios escritos e biografias deixam claro: “destronar Deus.” Na sua visão, o mundo como acreditava-se à época não era bom o suficiente. Marx considerou em sua teoria que os homens são intrinsecamente bons, e que o problema está no ambiente (o meio determina a pessoa). A corrupção do meio, segundo ele, se dá pelo modelo econômico. Marx fundamenta sua tese tendo como base a teoria da evolução das espécies e defende que uma mudança precisa ocorrer para uma “melhora” na sociedade. Pessoas precisam intervir para que a sociedade “evolua” para um patamar melhor. Em nenhum momento das suas teses ele considerou os princípios e fundamentos cristãos, pois eles mesmos (tanto Nazistas como Comunistas) se colocaram, e explicitamente escreveram, contra o Cristianismo e a existência de Deus, conforme registra a história. A existência de Deus e os fundamentos bíblicos não são compatíveis com os argumentos Marxistas e posteriormente Nazistas. Portanto, em primeiro lugar, Nazismo e Comunismo estão fundamentados na teoria ateísta de Charles Darwin e não possuem nenhuma raiz no Criacionismo, como a Bíblia descreve. Isso não é uma mera divergência entre pensamento secular e religioso. Tal distinção abre, e de fato abriu, uma interpretação para a possibilidade de manipular, definir, maltratar e matar pessoas por um propósito tal como definido nestas teorias. Sem a existência de um ponto de referência objetivo, com certas determinações específicas com relação aos seres humanos (a Lei Universal), uma oportunidade se abre para novos horizontes relativos, os quais podem ser controlados por alguém que detenha relativo poder sobre os demais homens. Hitler, inclusive, pactuava com as ideias de Marx, visto terem a mesma raiz na crença de um mundo sem origem proposital, sem significado moral e propósito definido e sem um futuro onde haverá prestação de contas.

2) Em segundo lugar, cabe-se destacar mais explicitamente, que tanto Hitler e Mussolini, como Lênin e Stalin não pensaram em nenhum momento nos princípios cristãos de 1) Criação e consequente unidade do ser humano, independente de raça; 2) Preservação da vida por uma lei universal, que considera principalmente a proteção do seu valor intrínseco e, consequentemente, condena quem o fere (não matarás); 3) A liberdade individual de cada ser humano (livre arbítrio) para viver, sem privações ou iniciativas de um pode humano maior para, inclusive, lhes destruir para um fim maior (o socialismo e nazismo consideram que os fins justificam os meios); dentre outros. Nenhuma pessoa que denomina-se, e obviamente comparta-se como Cristão, tem qualquer parte tanto nas ideologias Nazistas como nas Comunistas. É importante destacar que os líderes de ambos os movimentos eram por ideologia e comportamento completamente anticristãos. Eles não pregavam a paz e o amor através de boas obras; não preservaram a vida e a liberdade da humanidade; não cumpriram promessas mútuas (vide relação Stalin x Hitler), visto a total empatia com valores morais. Conforme próprias palavras (parafraseando) de Lenin, “a única moral que importa é aquele que favorece o movimento.”

3)  Cabe-se, ainda, destacar o seguinte: Tanto o Nazismo como o Comunismo são regimes totalitários em que o Estado governa sobre o povo e toma as diretrizes para todos os indivíduos, usando, inclusive e principalmente da força bruta. Ambas ideologias são responsáveis pelos mais de 100 milhões de pessoas assassinadas desde o início do século XX (algumas fontes retratam números estrondosamente maiores), sendo mais de 80% responsabilidade dos Comunistas. Ambos são abertamente contrários ao Cristianismo. Ambos defendem a morte de pessoas para um “fim mais nobre.” Ambos não se importam com crimes contra a vida e não possuem um conjunto de morais absolutos; fazem o que querem, quando querem, como querem para alcançar seu fim. São ideologias que não possuem Deus em nenhuma esfera, e portanto não creem em absolutos, relativizando a verdade conforme melhor serve seus ideias.

É, portanto, uma falácia lógica, uma contradição em termos, uma afronta a razão condenar um cristão (em palavras e obras), ou um conservador de fundamentos morais bíblicos, de “Nazista”. É uma afronta um Comunista se colocar em um lado oposto do universo Nazista, e uma contradição ainda maior um Cristão se colocar em qualquer um destes polos, que fundamentalmente são os mesmos. É uma contradição um Cristão se auto classificar como Socialista ou se classificar como Cristão e lugar pelas causas socialistas – é impossível reconciliar as duas visões visto que suas bases estão em pontos extremamente opostos do universo moral. Como Engels, o financiador de Marx que publicou seus livros disse, “Essas pessoas boas [cristãos marxistas] não são os melhores cristãos, embora se identifiquem como; porque, se fossem, conheceriam melhor a Bíblia e descobririam que, se algumas passagens da Bíblia fossem favoráveis ao Comunismo, o espírito geral de suas doutrinas é, no entanto, totalmente contrário a ela.”

Infelizmente, visto que a lógica e a razão parecem ter perdido credibilidade em um mundo que abraçou o relativismo moral fundamentado em Darwin e Marx, ainda vemos pessoas cometendo estes erros e sendo aplaudidas de pé. É uma afronta ao ser humano. O Comunismo e o Nazismo devem ser condenados igualmente pelo massacre aos seres humanos; pela ideia ardilosa de que certas raças ou classes são melhoras do que outras; pela ilusão que o ser humano é intrinsecamente bom, quando já é evidente pela experiência e história que o contrário é verdadeiro; pelo desejo de poder de poucos em detrimento de milhões. Hoje, neste exato momento, pessoas morrem desnutridas na Venezuela, na Cuba, na Coréia do Norte e em regiões da China, apenas para citar alguns exemplos. A liberdade é privada; o alimento escasso; o ódio crescente; a hipocrisia permanente. Homens e mulheres de bem não podem aceitar esse conjunto de ideias Nazicomunistas. E pelo entendimento de seus fundamentos, há de se considerar propriamente quem são os inimigos da humanidade.

Com base nessa compreensão, podemos usar a lógica básica – quando duas premissas são verdadeiras, a conclusão relacionada é verdadeira – para diferenciar as bases fundamentais do Cirstianismo com estas, ou qualquer ideologia que se associe à estes fundamentos:

1) Cristãos acreditam em Deus, o Criador.

2) Progressistas acreditam no acaso e na evolução biológica.

3) Portanto, logicamente Cristãos não são progressistas, e progressistas não são Cristãos.

1) Cristãos acreditam na moral objetiva, advinda de um parâmetro perfeito (Deus).

2) Progressistas acreditam na moral relativa, na mudança social do que é certo e errado.

3) Portanto, logicamente Cristãos não são progressistas, e progressistas não são Cristãos.

1) Cristãos acreditam na verdade objetiva.

2) Progressistas acreditam que a verdade é relativa – sentimentos são mais importantes que a verdade.

3) Portanto, logicamente Cristãos não são progressistas, e progressistas não são Cristãos.

1) Cristãos acreditam na estrutura humana (antropologia) de corpo, alma, e espírito.

2) Progressistas são materialistas, não acreditam em alma ou espírito.

3) Portanto, logicamente Cristãos não são progressistas, e progressistas não são Cristãos.

1) Cristãos acreditam que os fins não justificam os meios – uma vida moral sólida e de obediência à uma Lei Natural é reflexo da transformação espiritual.

2) Progressistas acreditam que os fins justificam os meios – podem fazer o mal e não obedecerem leis se for em nome da causa/fim.

3) Portanto, logicamente Cristãos não são progressistas, e progressistas não são Cristãos.

1) Cristãos acreditam na complementariedade nas relações entre homens e mulheres; igualdade de direitos e deveres relativos à estrutura de cada um. Sexo é biológico e todos são binários. Isso reflete o plano de Deus, que é bom.

2) Progressistas acreditam e fomentam que o ser humano pode ser o que quiser: uma bolha de sabão; um animal; o homem pode ser mulher e vice-versa, e assim por diante. Isso reflete a pura materialidade – ninguém é diferente de uma pedra ou uma laranja.

3) Portanto, logicamente Cristãos não são progressistas, e progressistas não são Cristãos.

1) Cristãos acreditam que Jesus existiu e é o filho de Deus, o salvador.

2) Progressistas não acreditam no Jesus histórico, e quando acreditam não creem nele como qualquer Messias ou divindade.

3) Portanto, logicamente Cristãos não são progressistas, e progressistas não são Cristãos.

1) Cristãos acreditam na Bíblia como um conjunto de escritos sagrados, através de homens inspirados por Deus para relatar e instruir a vida humana pela vontade de Deus, o que é refletido no modelo de leis ocidental vigente.

2) Progressistas odeiam a Bíblia; já criaram inúmeras formas de retirá-las de todo espaço público e de confrontar ou destruir seu conteúdo.

3) Portanto, logicamente Cristãos não são progressistas, e progressistas não são Cristãos.

A lista poderia continuar, mas a matéria é muito lógica. Infelizmente, alguns cegaram-se para a verdade da realidade, vivendo em um conto de fadas onde todos podem caminhar juntos sem oposição. “Aquele que não está comigo está contra mim; e aquele que comigo não ajunta espalha”  (Jesus, em Mateus 12:30).

Em conclusão, convém ressaltar que há uma ênfase especial, tanto na antiga como na nova aliança, aos desassistidos, principalmente aos órfãos e viúvas (vide Tiago 1:27), aqueles “doentes” que precisam de um médico, como disse Jesus ao afirmar para que veio à essa terra (Mc 2:17). Pense como é difícil para alguém perder seu elo mais importante; uma pessoa de quem você depende para viver equilibradamente. A condição emocional da criança requer um modelo; a condição espiritual um guia; a condição física, do corpo ainda em formação, de suporte. As crianças precisam de pais. Não diferente, a mulher precisa de uma pessoa forte ao seu lado. Não apenas de um “marido”, mas de um “homem” no sentido pleno da palavra. Alguém de caráter; de sabedoria espiritual; de cuidado próximo. Deus sabe a estrutura de cada criatura, e não à toa tornou um mandamento o cuidado aos desassistidos (Deut. 14:28-29). Isso não é, ressalto novamente, uma obrigação do Estado, mas de cada cristão que, conhecendo seu Criador, se compadece dos abandonados e esquecidos. Se hoje há orfanatos, casas de cuidado e hospitais, foi por iniciativas de cristãos do passado, de igrejas sérias; nunca de um “Estado.” Infelizmente há muitas viúvas de maridos “vivos.” Muitos órfãos de pais “presentes.” O sofrimento é acentuado não porque essas crianças e mulheres desprezam quem os rejeita – mas porque os amam. Deus, contudo, veio em forma humana para transformar indivíduos, preparando-os para lidarem com essas pessoas em sua ausência física, ajudando-as a estarem conscientes de sua presença espiritual. Não são políticas e leis que nos forçam ao auxílio mútuo, mas a existência de um Deus que, apesar de toda riqueza, se fez pobre para nos salvar. Uma religião verdadeira não está na aparência, mas no interior, em um coração que arde pela justiça e que se move ao ver uma lágrima deslizar o rosto de uma criança. A transformação necessária para essa realidade é, todavia, unicamente através da mensagem da cruz, do evangelho de Cristo, da salvação proposta por Deus que, por intermédio do seu Espírito Santo, regenera a consciência do indivíduo e permite uma transformação movida pela misericórdia e compaixão. Sem arrependimento e confissão de pecados; sem um desejo ardente provocado pela palavra de Deus e o Espírito Santo, não há transformação alguma. A responsabilidade comum social, principalmente com aqueles da fé (vide Gl 6:10) é consequência natural desse evangelho transformador, que não tem qualquer relação com as definições e objetivos das teorias sociais antigas e recentes. Qualquer associação com essas ideologias é heresia. O evangelho não depende delas para ser o que é: poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (Rom 1:16).

Escritor, Pregador, Professor, Teólogo de linha Pentecostal e Auditor de Empresas. É Bacharel em Teologia e Ciências Contábeis, Mestre em Apologética Cristã pela Liberty University, que já foi a maior universidade cristã do mundo, e Doutorando em Estudos Bíblicos pelo Colorado Theological Seminary. É autor dos livros "Deus, Família, e o Propósito da Existência", publicado pela editora Santorini, e "Fui Perdoado, e Agora?"- "I Have Been Forgiven, Now What?", escrito e publicado em inglês e português. Casado com Barbara Lopes de Miranda, fotógrafa e também formada em Teologia, já moraram nos Estados Unidos e vivem atualmente em Florianópolis, SC.

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