estudos bíblicos
Fogo estranho: Por que Nadabe e Abiú morreram diante do Senhor?
Estudo bíblico sobre a vida, ofício e morte dos filhos de Arão – Nadabe e Abiú – que ofereceram fogo estranho.
Luto no santo ministério
Fogo contra fogo
Vejamos que ironia: Nadabe e Abiú foram oferecer ao Senhor “fogo estranho” (v. 1), mas do Senhor saiu o fogo verdadeiro que os consumiu! (v. 2). Fogo contra fogo! O falso não prevaleceu diante do verdadeiro; o estranho não prevaleceu contra o autêntico; a imitação não prevaleceu diante do original!
Os sacerdotes levaram um “foguinho”, mas Deus respondeu com um “incêndio” (v. 6)! Este é o Deus que é “fogo consumidor” (Dt 9.3; Hb 12.29). Digno de reverência é! Wright explica a natureza desse fogo do Senhor, para que não pensemos também que se tratou de uma grande fogueira descontrolada que tomou conta do tabernáculo (o que teria causado um incêndio geral naquela tenda):
“foi provavelmente algo como a descarga elétrica de um relâmpago em vez de um grande incêndio, visto que suas túnicas [de Nadabe e Abiú] não foram destruídas, mas transformadas em mortalhas (v. 5)” [2]
Se o fogo do Senhor manifesto a Moisés em Horebe queimava, mas não consumia a sarça (Ex 3.2), aqui o fogo do Senhor consumiu os sacerdotes, mas não as suas roupas nem o tabernáculo. O corpo foi atingido e derrubado ao chão, mas ao que parece as roupas sacerdotais ficaram intactas! Somente Deus pode atingir o mal com tal precisão!
Julgamento muito pesado?
Para quem julgar demasiado o juízo de Deus contra aqueles dois irmãos pelo “simples fato” de oferecerem fogo estranho, deve-se novamente lembrar que o castigo é sempre proporcional não apenas ao erro cometido, mas também leva-se em conta a posição ocupada por aquele que errou e o grau de revelação que ele recebeu de Deus. Ou seja, um mesmo pecado cometido por um ignorante e por um biblista terá punições diferenciadas, porque este sabia a vontade de seu Senhor e não a fez, enquanto aquele era ignorante dela. Tal proporção no julgamento é explicada pelo próprio senhor Jesus (Lc 12.47,48).
Por esta razão é que Tiago, irmão de Jesus, adverte: “Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo” (Tg 3.1).
Os que receberam de Deus maiores privilégios, receberão de Deus maiores cobranças! Em virtude disso, como podem tantas pessoas cobiçarem posições elevadas na obra de Deus, quando não foram vocacionadas para tal posto? Por que há disputa nalgumas igrejas por cargos de liderança? Por que há pastores disputando rebanhos? Enquanto crentes continuarem encarando cargos como troféus e recompensas, ao invés de responsabilidades e vocação divina, continuaremos a ver “fogo estranho” sendo oferecido no altar do Senhor. Mas ele não deixará isto impune! O julgamento começará pela casa de Deus (1Pe 4.17).
O comentarista Christopher Wright destaca assim a gravidade do pecado de Nadabe e Abiú: “É como se um pastor cristão, ao celebrar a Ceia do Senhor, inserisse rituais ou objetos associados ao ocultismo” [3]. Não é difícil ver sincretismo religioso em muitos cultos ditos “evangélicos” hoje em dia, onde são incorporadas crenças e práticas pagãs. Objetos de superstição, crendices oriundas de religiões não-cristãs e discursos em nada conectados à boa ortodoxia estão sendo oferecidos em muitas igrejas para perdição dos ouvintes e dos próprios falsos mestres (2Pe 2.1).
Exemplo? Darei alguns: igrejas celebrando casamentos gays, ordenação de pastores homossexuais e pastoras lésbicas, líderes religiosos reclamando legalização de aborto e liberação da maconha, outros há que defendam relações sexuais entre jovens solteiros, e já há quem esteja deixando de cantar “Deus cuida de mim na sombra das suas asas” para cantar junto com os ímpios “O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído”.
Já ouvi falar até de pastores que usaram dízimos da igreja para reconstruir templos de terreiros de macumba, tudo em nome de uma aproximação religiosa que é promíscua e se esconde por detrás de um discurso do politicamente correto. Fogo estranho!
Que Deus tenha misericórdia de Sua Igreja e a proteja contra o falso fogo, nem que tenha que enviar fogo do céu outra vez para remover os que banalizam o verdadeiro culto ao Senhor! (Quem achar isso impossível nos dias da graça, lembrem-se do casal Ananias e Safira – Atos 5!)
O lamento é proibido para que a santidade de Deus seja exaltada
Tão firme foi o castigo divino e tão séria era a lição que se deveria extrair daquele fatídico episódio, que Deus, através de Moisés, proibiu Arão e seus outros filhos, Eleazar e Itamar, de prantearem a morte dos filhos mais velhos, sob pena de também morrerem caso desobedecessem a ordem para não manifestarem luto (vv. 6,7).
Parece insensível que o luto fosse proibido aos parentes? É que neste momento, as lágrimas e o luto demonstrariam um sentimento de perca maior pelos filhos do que pela glória e a santidade de Deus que foram ofendidas pelos sacerdotes Nadabe e Abiú. Deus estava querendo ensinar uma nova lição a Arão e a todos os levitas: o pecado dos líderes causa maior dano à santidade de Deus e à Sua reputação no meio do povo, do que o dano que é causado à família destes líderes quando eles são punidos por Deus.
O amor a Deus acima de todas as coisas (Dt 6.5), inclusive da própria família, é novamente ressaltado, e agora não de modo teórico, mas prático! Foi uma lição amarga, mas necessária.
Foi por não aprender esta Lição, que o sacerdote Eli veio a morrer logo após a morte de seus filhos, também sacerdotes como Nadabe e Abiú, devido eles estarem tratando com desrespeito as ofertas e os sacrifícios. O próprio Deus o confrontou: “Por que pisastes o meu sacrifício e a minha oferta de alimentos, que ordenei na minha morada, e honras a teus filhos mais do que a mim, para vos engordardes do principal de todas as ofertas do meu povo de Israel?” (1Sm 2.29).
Jesus também nos ensina que o amor a ele deve estar acima do nosso apego à família:
“Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lucas 14.26).
Muitas vezes pecamos por excesso de condescendência, quando a compaixão leva-nos à frouxidão. O profeta Samuel quase escorregava nesse erro, quando Deus então lhe sacudiu: “Até quando terás dó de Saul, havendo-o eu rejeitado, para que não reine sobre Israel” (1Sm 16.1). Não raro hoje, muitos pais estão querendo ter mais dó de seus filhos do que Deus tem por eles; muitos líderes querem ter mais compaixão de seus liderados do que Deus tem por eles. Esta Lição extraída de Levítico 10 deve levar-nos a refletir seriamente: Deus é bom e amoroso, tanto quanto santo e zeloso!
Conclusão
Nenhum de nós é perfeito e impecável – tais atributos são exclusivos de Deus. Entretanto, não podemos agir com atrevimento comparecendo ao Senhor para dar-lhe culto sem antes corrigirmos nosso coração diante dele. Jesus nos ensina, por exemplo, que se tivermos algo contra nosso irmão, devemos nos reconciliar com ele antes de oferecermos nossa oferta a Deus (Mt 5.23,24).
Ainda mais quando somos conhecedores da Palavra, não podemos acalentar pecados, pois Deus dará a cada um segundo as suas obras (Rm 2.6).
Sendo assim, que sirva para nós também o que Jesus disse a igreja de Éfeso:
“Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres” (Ap 2.5)
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REFERÊNCIAS
[1] [2] e [3] Comentário Bíblico Vida Nova, Vida Nova, p. 213
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