Haiti: família de missionária sequestrada está ‘devastada’

A missionária irlandesa Gena Heraty, diretora de uma unidade de atendimento a crianças com deficiência, foi sequestrada no dia 03 de agosto, na comuna de Kenscoff, cerca de 10 km ao sul da capital haitiana, Porto Príncipe. O sequestro foi uma ação planejada, de acordo com o prefeito local, Massillon Jean.

Segundo Jean, os sequestradores arrombaram uma parede do orfanato para entrar no prédio onde Heraty estava hospedada. A missionária, natural de Westport, no Condado de Mayo (Irlanda), estava acompanhada de colegas e de uma criança de três anos no momento em que foi levada.

A instituição, administrada pela organização católica Nos Petits Frères et Sœurs (Nossos Pequenos Irmãos e Irmãs), abriga mais de 250 crianças, incluindo muitas com necessidades especiais — público com o qual Heraty trabalha desde 1993.

A emissora irlandesa RTÉ News informou que a gangue responsável já foi contatada por intermediários e que negociações estão em andamento.

Família e amigos pedem orações

A família de Gena Heraty divulgou um comunicado dizendo estar “absolutamente devastada” e que a situação é “em evolução e profundamente preocupante“. Eles afirmaram estar cooperando com o NPFS no Haiti e na Irlanda, com o governo irlandês e com parceiros internacionais para garantir a libertação dos reféns.

“Por respeito aos esforços em andamento e à segurança de Gena, não estamos em condições de compartilhar mais detalhes neste momento”, declararam.

A amiga e colega Norma Lopez também se manifestou publicamente: “Estamos pedindo a Deus pelo seu retorno em segurança, para que possa continuar seu bom trabalho no Haiti. Especialmente com pessoas com necessidades especiais, esse é o foco dela, porque é uma grande necessidade no Haiti”.

No Condado de Mayo, a comoção é grande. Em uma igreja paroquial de Cushlough, onde Gena cresceu, o pároco pediu aos fiéis que orassem por ela. O radialista Tommy Marren, que conhece a missionária, afirmou: “Ela é considerada aqui como uma santa viva — apaixonada, altruísta e resiliente”.

Autoridades atuam no caso

O Tánaiste (vice-primeiro-ministro da Irlanda) e ministro das Relações Exteriores, Simon Harris, declarou que está em contato com autoridades da União Europeia e do Haiti. Na terça-feira, 05 de agosto, Harris conversou com a alta representante da UE para Relações Exteriores, Kaja Kallas, que concordou em designar um ponto de contato específico no Haiti para lidar com o sequestro.

Esse diplomata da equipe da UE no país trabalhará diretamente com a Irlanda nos esforços de negociação.

Harris também entrou em contato com o ministro das Relações Exteriores do Haiti, Harvel Jean-Baptiste, e solicitou que tudo seja feito para garantir a libertação de Heraty e das demais vítimas.

Violência no Haiti

Segundo o Le Nouvelliste, principal jornal do Haiti, há suspeitas de que gangues armadas estejam por trás do sequestro. Dados divulgados pelo Escritório de Direitos Humanos da ONU revelam que, entre janeiro e junho de 2025, cerca de 350 pessoas foram sequestradas e mais de 3.100 assassinadas no país.

Ainda de acordo com a ONU, aproximadamente 85% de Porto Príncipe está sob controle direto ou parcial de grupos armados. A situação, que já vinha sendo crítica, deteriorou-se nos últimos meses, principalmente nas áreas periféricas da capital.

O jornalista Harold Isaac, baseado em Porto Príncipe, declarou em entrevista à BBC: “Cerca de 80 a 90% da capital está sob controle de gangues. O bairro onde fica o orfanato está sob ataque há seis meses. Este novo sequestro é um lembrete de quão frágil a situação é”.