opinião
O bom-mocismo do padre Fábio de Melo
Não se sacrifique no altar do politicamente correto
O padre Fábio de Melo, que algum espirituoso resolveu chamar de “padre Favo de Mel”, é daquelas pessoas que se esforçam para estar sempre bem com todo mundo, o que em nossos dias parece constituir um tipo de virtude fundamental. Até que, no contexto de uma celebração católica em Cachoeira Paulista/SP, o padre falou algo absolutamente correto da perspectiva cristã: em outras palavras, disse que despacho de macumba não deve impor medo ao cristão, porque nada é diante do poder que Cristo nos deu. Concordo inteiramente com a afirmação. Se eu discordasse, teria de desacreditar na Bíblia.
Todavia, quando surpreendido pela repercussão “negativa” potencializada pelo tribunal das redes sociais, o padre artista e “autoajudista” saiu-se com uma nota em que praticamente se sacrifica no altar do politicamente correto, do pluralismo religioso pós-moderno e da suposta “tolerância religiosa”.
Comento abaixo a nota publicada pelo padre, após a transcrição de trechos da mesma. Vejamos:
“Sempre manifestei publicamente o meu respeito a todas as religiões. O candomblé fez parte da minha origem. Nunca quis ofender ou desmerecer quem quer que seja. Apenas expressei, durante uma celebração cristã, convicções cristãs. Peço perdão aos que se sentiram ofendidos”
Respeitar a todas as religiões não significa desprezar os cânones da própria religião. O cristianismo também precisa ser respeitado, e isso passa pela defesa da própria fé por parte de seus líderes e membros em geral.
Se a nota terminasse por aí, nem seria tão ruim, porque o padre se refere às suas “convicções cristãs”, ainda que eu não considere a necessidade de pedir desculpas por expressá-las. Mas parece que um outro autor pegou o papel e foi piorando as coisas. E é aí que entra o “padre Favo de Mel”, com todo o seu bom-mocismo.
“Eu não sou proprietário da verdade. Eu estou em busca dela. Quero o esclarecimento espiritual que me coloque ao lado de todos. Diferentes e iguais a mim. Somos irmãos e não me sinto melhor que ninguém. Se fui infeliz na forma como expressei o meu não crer, perdoem-me.”
Espere um pouco. Ninguém na religião cristã está dizendo que o padre Fábio de Melo é o dono da verdade. A verdade é Cristo (Jo 8.32,36; 14.6).
Dizer que está “em busca” da verdade soa um tanto perigoso, porque, se ele exerce liderança na Igreja Católica, uma igreja cristã, é normal afirmar que não encontrou a verdade? Ainda está procurando? Não seria mais correto, para um cristão, dizer que encontrou a verdade, que é Cristo, e que agora busca diariamente o crescimento espiritual?
A frase crucial, porém, aparece agora: “Quero o esclarecimento espiritual que me coloque ao lado de todos”. É isso que os bons-moços querem – estar ao lado de todos, o que sempre se dá à custa da verdade.
“Já fiz um contato com o babalorixá Ivanir dos Santos. Ele foi extremamente gentil comigo. Nosso desejo é esclarecer que tolerância religiosa não significa abrir mão do que cremos ou não cremos, mas conviver harmoniosamente, colaborando na construção de um mundo melhor”.
Ah, o babalorixá Ivanir dos Santos foi “extremamente gentil”. Foi esse mesmo líder candomblecista que mandou seu advogado notificar o padre para retirar o vídeo do ar. Deve ser culpa dos assessores, ou o babalorixá, apesar de sua extrema gentileza, não pode evitar que o padre sofra as consequências de seu “erro”.
O trecho que vem em seguida contraria fundamentalmente a essência desse pedido de clemência: se o objetivo é mostrar que tolerância religiosa não é renunciar às próprias crenças, e conviver harmoniosamente em prol de um “mundo melhor”, por que, então, esse julgamento público?
“O mundo já está dividido demais para que criemos outras divisões a partir de nós.”
Creio que o padre Fábio de Melo seja um leitor assíduo dos Evangelhos – digo-o com sinceridade. Assim, sugeriria ao mesmo que prestasse atenção ao texto de Mt 10.34-37, onde colhemos as seguintes palavras de Jesus:
34 Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada;
35 porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra.
36 E, assim, os inimigos do homem serão os seus familiares.
37 Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim.
Pode ser bem chato para os cristãos bons-moços, progressistas e politicamente corretos, mas Jesus veio trazer, sim, uma espécie de divisão: uma divisão radical, contundente e profunda entre aqueles que O conhecem e aqueles que não O conhecem. Não é divisão no sentido de segregação – tenho de explicar isso mesmo? -, mas no sentido de separação de um povo constituído pela graça, mediante a fé exclusiva no Filho de Deus, que morreu na Cruz para salvar os pecadores.
A exclusividade de Cristo ofende, provoca e aborrece aqueles que desejam estar “ao lado de todos”.
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