estudos bíblicos
O que a Bíblia diz sobre a sexualidade?
Conceitos e perspectivas bíblicas sobre a sexualidade.
De vez em quando ouvimos alguém dizer que estas são as três coisas que mais corrompem o homem: sexo, dinheiro e poder. Entretanto, eu diria de modo inverso: são três coisas que o homem mais costuma corromper: sexo, dinheiro e poder.
Sim, porque é o homem quem corrompe as coisas, devido a concupiscência que abriga em seu coração, e não as coisas que corrompem o homem. Não a toa a exortação bíblica é: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Pv 4.23).
O homem corrompe o poder quando ao invés de utilizá-lo para administrar o bem comum, utiliza-o para espoliar e oprimir pessoas.
Corrompe o dinheiro ou as riquezas quando ao invés de utilizá-lo para transações comerciais lícitas, sustento da família e socorro aos necessitados, usa-o para comprar pessoas, burlar a justiça e pisar os de menor condição social. E o homem corrompe o sexo quando vive-o desregradamente, não obedecendo aos limites morais e aos propósitos para que ele foi criado, apenas para satisfação momentânea da carne.
Se desfrutado legitimamente entre marido e mulher devidamente casados, o sexo pode ser uma benção, e trazer muitas alegrias ao casal. Todavia, sendo praticado fora do casamento, ainda que proporcione prazer momentâneo, tal prática sexual além de constituir-se pecado pode acarretar doenças, gravidez indesejada, culpa e até mesmo violência, além de destruição de casamentos e esfacelamento das famílias. E sendo vivida contra a ordem natural (homem e mulher), a sexualidade pode ainda acarretar degeneração da espécie humana e desarranjo social.
Sexualidade: conceitos e perspectivas bíblicas
O conceito mais elementar de sexualidade é este: a sexualidade representa o conjunto de comportamentos que concernem à satisfação da necessidade e do desejo sexual [1].
Sexualidade é criação divina
Deus criou o homem Adão e a mulher Eva com características anatômicas bastante distintas, e no intuito de que ambos se completassem: “serão uma só carne”. Aos que julgam o tema sexualidade ser um assunto “feio”, devemos lembrar que “tudo o que Deus criou é bom” (Gn 1.31; 1Tm 4.4). E não foi o diabo quem induziu Adão e Eva à relação sexual, mas o próprio Deus quem a estabeleceu quando disse: “crescei e multiplicai, povoai a terra” (Gn 1.28).
Já houve noutros tempos quem equivocadamente supôs que o fruto proibido do Éden fosse a prática sexual, a qual, sendo consumada pelo primeiro casal humano, acarretou a maldição sobre a terra. Nada mais estúpido do que tal “interpretachão”! Como veremos no tópico seguinte, a sexualidade foi ordenada por Deus para crescimento da espécie humana e alegria dos cônjuges.
Um livro bíblico sobre amor e sexualidade
Na Bíblia, inclusive, há um livro cujo teor é altamente romântico e a temática da sexualidade está bastante presente: é o livro dos Cântico dos Cânticos, ou Cantares de Salomão. Inclusive já ouvi uma pessoa dizer em tom bastante agressivo que este “livro profano e imundo” não deveria estar na Bíblia. Novamente, pura estupidez. A exaltação do amor conjugal é tão aprovada por Deus, que Ele concedeu entre os sessenta e seis livros da Bíblia um espaço exclusivo para isto. Não poucos casais cristãos hoje estão precisando revisitar Cantares de Salomão para reacender a chama que se apagou.
E para os que se consideram mais conservadores e evitam lidar com a temática sexualidade em Cantares de Salomão, preferindo optar por aquela velha interpretação tipológica que diz que Cantares de Salomão é uma alegoria do amor de Deus por Israel ou do amor de Cristo pela Igreja, é preciso dizer que nem contextualmente nem exegeticamente essa interpretação se sustenta (embora eu não negue que haja espaço para alguma abordagem alegórica moderada neste livro). T.D. Gledhill explica a origem do excesso de interpretação alegórica no livro do Cântico dos Cânticos:
“por que se pensou ser necessário reinterpretar as referências explícitas de Cântico dos Cânticos sobre namoro, carícias, beijo, beleza, seios e paixão? A igreja ocidental foi influenciada pela cosmovisão filosófica grega na qual a realidade espiritual se encontra em um plano moral superior, eterno e substancial, enquanto a ordem criada, em um nível inferior, inconstante, sujeito à corrupção e sob juízo. Na religião popular, as funções do corpo são consideradas secundárias, e o próprio corpo é a prisão da alma, de onde esta precisa se libertar para se elevar desprendida à presença imediata de Deus. Mas essa dicotomia não é bíblica. Ela tem levado algumas pessoas da igreja cristã a exaltar a doutrina da salvação à custa da doutrina da criação” [2]
A recomendação aos que leem e fazem uso do livro de Cânticos é: tirem os óculos do falso moralismo, percebam como a sexualidade legitimamente desfrutada é uma dádiva de Deus, e tenham coragem de lidar com este livro poético dentro dos propósitos para que ele foi escrito: celebrar alegre e poeticamente o amor, o romance, a beleza do casamento e a intimidade sexual.
O cristianismo enaltece a sexualidade do casal
“O cristianismo glorificou o casamento mais do que qualquer outra religião”, diz o crítico literário C. S. Lewis, “e quase todos os poemas de amor mais arrebatadores do mundo foram produzidos por cristãos. Se alguém disser que o sexo em si é algo ruim, o cristianismo irá contradizê-lo imediatamente” [3]. De fato, para o apóstolo Paulo, maior teólogo do cristianismo, trata-se de doutrina de demônios a proibição do casamento e das obrigações que o acompanham (1Tm 4.1-3). Como veremos no próximo tópico, Paulo até desaconselha a abstinência do sexo entre os casais.
É que estamos tão habituados a repreender as práticas sexuais ilícitas que nos acostumamos a ver apenas o lado negativo, enquanto que uma apreciação positiva da sexualidade fica restringida à esporádicos encontros ou seminários para casais aqui e acolá. Creio que este estudo dominical é por demais pertinente para falarmos da beleza da intimidade sexual entre os cônjuges.
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