estudos bíblicos
O que significa “fariseu”?
Fariseus, hipocrisia e legalismo: qual a relação?
No nosso linguajar evangélico, fariseu virou palavra sinônima de “hipócrita” e “legalista”, embora estes não sejam os significados da palavra.
Segundo o Dicionário Wycliffe, é incerta a origem tanto da palavra quanto do grupo religioso judeu que recebem este nome, mas provavelmente, como sugere a palavra hebraica “parash”, fariseu queira dizer “separado” e faça alusão ao partido religioso que ao menos em tese pretendia demonstrar uma vida moral elevada e distinta dos impuros.
Provavelmente surgiram durante o cativeiro de Judá em Babilônia ou durante o período interlinear, naqueles quase quatro séculos antes de Cristo.
Fariseus x saduceus
Dois grupos rivalizavam a interpretação do Antigo Testamento nos dias de Jesus. Eram os fariseus e os saduceus, sendo estes últimos membros de famílias ricas de Israel.
Diferentemente dos fariseus, os saduceus não criam na autoridade dos livros do Antigo Testamento senão somente do Pentateuco (a Torá), não criam não imortalidade da alma, não criam na existência de anjos e não criam na ressurreição dos mortos e julgamento final.
Ambos os grupos muitas vezes investiram contra Cristo para prendê-lo ou matá-lo, considerando-o uma ameaça para a religião judaica.
Nalgum sentido os fariseus eram mais “missionários” que os saduceus, pois os fariseus costumavam estar mais perto do povo, fazendo seu trabalho de proselitismo e aplicando as Escrituras numa linguagem mais acessível ao povo, enquanto que os saduceus estavam mais próximos das classes ricas, não gozando de popularidade. Ambos os grupos, porém, tinham crenças e práticas que foram reprovadas por Jesus.
Fariseus, escribas e doutores da lei
O leitor da Novo Testamento já percebeu que geralmente os fariseus são citados ao lado dos escribas e dos doutores da lei (mosaica).
Mas por que essa proximidade? Os escribas eram os copistas, os homens responsáveis por fazerem à mão cópias dos livros antigos, especialmente os livros do Antigo Testamento. De tanto lerem e copiarem, eles acabavam memorizando muitas porções e conhecendo todos os rolos que eram copiados.
Os doutores ou intérpretes da lei eram estudiosos, mestres da lei, os “rabinos” que ensinavam ao povo.
Como nos dias de Jesus, o trabalho dos sacerdotes era quase exclusivamente cuidar dos sacrifícios, das festas judaicas e da liturgia do templo, foram os escribas, doutores da lei e fariseus que assumiram a responsabilidade de instruir o povo.
A palavra deles tinha muito peso para os leigos, por isso Jesus muitas vezes os repreendia por torcerem a Palavra de Deus e fazerem seus prosélitos enganados.
“Fermento dos fariseus”
Jesus advertiu seus discípulos a que tivessem cuidado com o fermento dos fariseus e dos saduceus. Quando os discípulos pensavam se tratar do pão (fermentado) que pudesse vir a ser oferecido a eles por aqueles religiosos, Jesus corrige o pensamento deles, e eles “compreenderam que não dissera que se guardassem do fermento do pão, mas da doutrina dos fariseus” (Mt 16.12).
Fermento dos fariseus é, portanto, uma metáfora para a hipocrisia e o legalismo.
Embora ensinando muita coisa correta e conforme a ortodoxia judaica (Mt 23.3), os fariseus foram duramente denunciados por Jesus em razão de ensinarem coisas corretas, mas não viverem conforme seus discursos. Daí vem a fama de hipocrisia atrelada ao título de fariseu.
Fariseus também são conhecidos como legalistas, em virtude de uma interpretação não raras vezes demasiadamente literalista da lei de Moisés, bem como devido colocarem com força de lei para o povo as muitas tradições orais preservadas e perpetuadas por séculos entre os judeus, mas que nem sempre revelavam uma disposição correta para com a Palavra de Deus, senão uma vontade de colocar um fardo pesado sobre o povo iletrado.
Em Mateus 23 está a mais longa denúncia pública feita contra os fariseus em toda Bíblia. João Batista já havia chamado os tais de “raça de víboras” (Mt 3.7), mas neste capítulo de Mateus, Jesus os chama ainda de “hipócritas” (v. 13), “guias cegos” (v. 16), “tolos e cegos” (v. 17) e os compara a “sepulcros caiados” (v. 27), ou seja, túmulos bem acabados, rebocados e pintados por fora, enquanto no interior guardam decomposição e mal cheiro.
É incrível que Jesus não teve problema com o povo comum, os leigos; o problema de Jesus era justamente com esses homens religiosos e instruídos.
Fariseus ilustres
Dentre muitos fariseus no Novo Testamento, podemos citar dois renomados: Gamaliel, o respeitado membro do Sinédrio judaico, conselhou os judeus a não perseguirem os cristãos (At 5.34-39), e o apóstolo Paulo que fora inclusive treinado aos pés de Gamaliel, seu mestre (At 22.3; Fp 3.5).
Após conhecer Jesus Cristo, Paulo diz que reputou como perda o glamour de ser um fariseu zeloso na Lei, instruído aos pés de Gamaliel. Cristo deu-lhe as revelações, o discernimento e a sabedoria que anos de estudo exaustivos no farisaísmo jamais puderam lhe dar!