estudos bíblicos
O sacerdócio de Cristo e o Levítico
Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 11 do trimestre sobre “O Tabernáculo – Símbolos da Obra Redentora de Cristo”.
A Lição de hoje busca estabelecer um paralelo entre o sacerdócio dos levitas, ou mais apropriadamente, o sacerdócio araônico (já quem nem todos levitas eram sacerdotes, mas somente os filhos de Arão) e o sacerdócio de Cristo, percebendo este como muito superior àquele.
Até a Lição passada tínhamos refletido sobre como Cristo estava tipificado nas coisas ou nos ritos do tabernáculo; hoje veremos como Cristo está tipificado nos próprios oficiais do culto do tabernáculo, a saber, nos sacerdotes.
I. A escolha dos sacerdotes
1. Deus é soberano nas suas escolhas
O teólogo pentecostal Severino Pedro da Silva lembra-nos que “três sacerdotes, na Bíblia, receberam ofícios sacerdotais diretamente de Deus: Melquisedeque, Arão e Jesus” [1]. Sobre Melquisedeque e Jesus, veremos a correlação tipológica que há entre eles no próximo tópico. Por hora, reafirmemos a soberania divina na escolha de Arão para o sacerdócio levítico a partir da peregrinação no deserto e surgimento da nação de Israel.
A escolha de Arão para o sacerdócio não se deu por indicação de seu irmão Moisés, não foi por voto dos anciãos e líderes das tribos, nem por usurpação do próprio Arão, mas por soberana escolha de Deus. E como já vimos nos capítulos 16 e 17 de Números, os que questionaram essa escolha soberana de Deus amargaram a morte; quanto a Arão, sua escolha foi ratificada quando seu bordão floresceu milagrosamente. Estava, portanto, fechada a questão quanto a necessidade de os sacerdotes serem da tribo de Levi e filhos (ou descendentes) de Arão, irmão mais velho de Moisés.
2. Atribuições dos sacerdotes
Segundo aponta-nos Ellingworth [2], eram três as principais funções do sacerdote e/ou sumo sacerdote:
Primeiro, ministrar no altar, especialmente queimando as ofertas e apresentando o sangue do animal, “a parte mais sagrada da vítima” oferecida em sacrifício ao Senhor.
Segundo, trazer a direção de Deus para o povo, destacando-se aqui o uso do Urim e Tumim pelo qual se teria revelada a vontade de Deus numa situação impossível de ser resolvida pela habilidade humana.
Terceiro, instruir o povo, “não só em questões cultuais, como a distinção entre o santo e o profano, mas também em questões de conduta correta”. Os sacerdotes também foram a princípio intérpretes da Lei para o povo, “e da sua boca devem os homens buscar a lei porque ele é o mensageiro do Senhor dos Exércitos” (Ml 2.7). Mas como ressalta Ellingworth, “depois do exílio, essas funções foram exercidas cada vez mais por escribas, tornando-se a área de atividade sacerdotal principalmente restrita ao ritual. No tempo do NT, o ensino foi separado fisicamente da adoração sacrificial e situado na sinagoga”.
3. A consagração sacerdotal
Os sacerdotes também precisaram se lavar com água por ocasião de sua consagração, conforme Êxodo 29.4. Isso denotava a grande pureza moral e a santificação exigida daqueles que compareceriam diante de Deus em favor do povo. Deus chama e dá o dom, mas o homem precisa fazer sua parte, purificando-se de toda sujeira presente em seu coração e em sua mente, para que assim possa apresentar-se a Deus como um “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm 12.1).
Conforme Êxodo 29.1-35 e 30.22-33, Arão também foi ungido com óleo por ocasião de sua consagração para o serviço santo do Senhor. Inclusive é daí que vem a expressão “é como óleo precioso que desce sobre a barba de Arão” (Sl 133.2). O derramamento do óleo era a confirmação da unção, isto é, o chamado e a capacitação divina para um determinado ofício.
Como bem notou Abraão de Almeida, “Arão foi primeiramente lavado e depois ungido”. Os que quiserem a unção divina, devem se lavar primeiro! Como instruiu Paulo a Timóteo: “De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra” (2Tm 2.21)
II. A vestimenta sacerdotal para o serviço
1. Símbolo da vestimenta sacerdotal
Em O tabernáculo e a igreja (CPAD), Abraão de Almeida desenvolveu um capítulo inteiro sobre as vestes sacerdotais e as devidas aplicações simbólicas de cada uma de suas peças. Mas ele resume: “As roupas santas apontavam para a justiça de Cristo (Ap 19.8), e indicavam que os sacerdotes eram homens ativos e preparados para a obra de Deus” [3].
A mesma inspiração do Espírito que veio sobre os artesãos do tabernáculo estava sobre os tecelões que costurariam as “vestes sagradas” (Êx 28.2). Glória e ornamento revestiam não só o lugar do culto, mas igualmente os oficiais do culto (Êx 28.40). Quando estivessem fora do trabalho, porém, os sacerdotes não precisavam vestir-se distintamente.
Agora na nova aliança, Deus requer ordem e decência no ambiente de adoração (1Co 14.40), mas muito mais que isso, Ele requer santidade dos próprios adoradores aonde quer que eles estejam, mesmo foram do ambiente de culto (Ef 5.15,16; Cl 4.5). “Em santidade e justiça perante ele, todos os dias da nossa vida” – este deve ser o nosso lema de vida (Lc 1.75).
2. A túnica chamada éfode
Embora tivessem também a sua beleza, as vestimentas dos sacerdotes comuns eram simples túnicas longas até as coxas feitas de linho fino branco, com cintos e tiaras (Êx 28.40-43; 39.27). Já as vestimentas do sumo sacerdote traziam muitos detalhes, adornos e cores. São estas as vestimentas descritas em Êxodo 29.1-39. Em ambos os casos, porém, não são mencionados calçados, o que sugere que os sacerdotes serviam descalços, como quando Moisés se descalçou diante de Deus no monte Horebe (Êx 3.5).
Atenção especial é dada no texto bíblico tanto ao éfode (ou estola) como ao peitoral. O éfode era todo ornamentado e com variedade de cores. Sobre ele estava o peitoral, uma espécie de pequeno colete ou sacola quadrada, e no qual estavam o Urim e o Tumim, além de doze pedras preciosas representando as doze tribos de Israel as quais o sumo sacerdote representava diante de Deus. Como as imagens valem mais que palavras, oferecemos abaixo um vídeo com descrições das vestimentas sacerdotais. Assista neste link:
– VESTIMENTAS SACERDOTAIS -Se você puder, leve este vídeo para a aula de domingo e apresente aos seus alunos (usando TV, computador, data-show, etc.). Diz respeito ao segundo tópico da Lição 11.#Assista e #Compartilhe
Posted by Escola Bíblica Dominical Inteligente on Thursday, 13 June 2019
3. O Urim e o Tumim
Junto à vestimenta sumo sacerdotal estavam o Urim e o Tumim (Êx 28.30), objetos que ninguém sabe exatamente o que eram e como eram usados. O texto bíblico é obscuro quanto a isso. Mas sabe-se que eram o meio de apelar, pela sorte, para a vontade ou conhecimento de Deus quando havia duas alternativas cuja decisão fosse difícil para o homem discernir naturalmente (1Sm 28.6). Todavia, com o exílio babilônico, o uso do Urim e Tumim tornou-se muito raro (conf. Ed 2.63; Ne 7.65).
Nos dias de Jesus e dos apóstolos já não se ouve mais falar destes objetos, pelo que se presume que seu uso tinha se tornado obsoleto, embora mesmo entre os cristãos ainda se ouça falar do “lançar de sortes” (At 1.26). Entretanto, neste caso, não se deve pensar que se tratava do Urim e Tumim, pois seu uso era restrito aos sacerdotes. Em nenhum momento os cristãos recorrem ao uso daqueles objetos sagrados.
Para saber mais sobre o Urim e o Tumim leia este outro artigo que escrevemos: www.goodprime.co/o-que-significa-urim-e-tumim-e-como-eram-usados-na-biblia
III. O sacerdócio de Cristo
1. Um novo e perfeito sacerdócio
Jesus, que era da tribo de Judá (Hb 7.14), não poderia exercer o sacerdócio segundo a lei mosaica. Todavia, Jesus é muito superior ao sacerdócio levítico e à lei mosaica! O sacerdócio do Senhor, do qual somos participantes, é semelhante ao de Melquisedeque.
O autor da Carta aos Hebreus deixa claro que Melquisedeque é um tipo de Cristo, isto é, alguém cuja vida prefigurou ou apontou profeticamente para Jesus. Partindo de uma aplicação messiânica do Salmo 110, o autor de Hebreus afirma que Jesus é o “sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque” (Hb 5.6,10; 6.20; 7.21).
Apenas o leitor deverá entender que “ordem de Melquisedeque” não quer dizer que foi Melquisedeque, antigo rei e sacerdote de Salém (Gn 14), que ordenou, isto é, que deu a ordem para Jesus ser sumo sacerdote; “ordem” aqui não significa palavra de ordem, mas “agrupamento”, “disposição”, “posto” ou “qualidade”. Portanto, Jesus é sumo sacerdote segundo a qualidade do sacerdócio de Melquisedeque e não nas mesmas qualidades do sacerdócio levítico ou araônico (Conf. Hb 7).
Abaixo oferecemos ao leitor um quadro pelo qual se visualiza a correlação entre o sacerdócio de Melquisedeque e o de Jesus:
2. Jesus trouxe salvação perfeita
Enquanto o sacerdote do AT oferecia sangue alheio, sangue de animal no sacrifício, Jesus ofereceu seu próprio sangue, sangue humano para expiação de nossos pecados. Neste sentido, Cristo não foi só o sacerdote como foi também a própria vítima, o próprio sacrifício.
E diferentemente dos sacerdotes que ofereciam sacrifícios também para expiação de seus pecados – devendo antes se purificarem para os rituais do tabernáculo ou do Templo -, Jesus não precisou purificar-se de qualquer pecado nem oferecer sacrifício em seu benefício próprio, pois ele é “…santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores…” (Hb 7.26). Somente um cordeiro perfeito como Jesus “pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus” (Hb 7.25)!
Visto que ele aprendeu a obediência pelo sofrimento (Hb 5.8) e foi obediente até mesmo em face da morte (Fp 2.8), qualificou-se completamente para ser nosso “grande sumo sacerdote” (Hb 4.14). E como muito nos ama, constituiu-nos “reis e sacerdotes” (Ap 1.6; 5.10), “sacerdócio santo” (1Pe 2.5), “sacerdócio real” (1Pe 2.9), para sermos co-participantes de sua glória eterna. Que privilégio o nosso pelos méritos de Cristo!
3. Jesus, o mediador de uma aliança melhor
Deus falou ao povo através de Moisés, o mediador daquela antiga aliança; os ensinos de Deus foram gravados em tábuas de pedra e que por longos séculos foram preservadas na arca da aliança até que finalmente vieram a se perder (embora cópias daqueles mandamentos já tivessem sido desde cedo providenciadas).
Na nova aliança, porém, Deus “…falou-nos nestes últimos dias pelo Filho” (Hb 1.1). A instrução de Jesus é superior à dos sacerdotes araônicos e também dos escribas porque suas palavras são “espírito e vida” (Jo 6.63), e sua hermenêutica é correta e irretocável.
Jesus não só tem e sabe a verdade, como é ele mesmo a verdade! (Jo 14.6). Ele também trouxe a direção de Deus para os homens não mais com uso do Urim e Tumim, mas pelo uso de sua perfeita sabedoria e conhecimento. De tal modo é que ele pode dizer: “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8.12) e ainda “Eu sou o caminho” (Jo 14.6). Não seguir a orientação que Deus dá através do Filho é permanecer vagueando na escuridão das trevas e da ignorância, caminhando para a perdição eterna.
Como nosso Sumo Sacerdote e mediador diante de Deus, ainda destacamos as intercessões de Jesus pelos seus, feitas de contínuo no altar celestial. Se a ocupação mais comum do trabalho sacerdotal era no altar, Cristo realiza hoje comumente no altar celestial este ofício sacerdotal: interceder por aqueles que se achegam a ele com fé (Jo 17.9,20). Cristo “vive sempre para interceder por eles” (Hb 7.25), pois como disse Paulo, Ele “ressuscitou e está à direita de Deus, e também intercede por nós” (Rm 8.34).
Conclusão
Na última Lição desse trimestre, intitulada O sacerdócio celestial, voltaremos a falar do sacerdócio de Cristo, ofício este que agora exerce em favor da Igreja no céu. Será uma nova oportunidade para aprofundarmos o tema abordado hoje, ressaltando outros aspectos da mediação e intercessão que Cristo realiza diante do Pai. Neste Sumo Sacerdote temos o sangue da propiciação, a palavra de instrução e a segurança de sua incessante intercessão. Sim, Cristo é o nosso perfeito Mediador! Louvado seja!
___________
Referências
[1] Severino Pedro da Silva citado em Teologia Sistemática Pentecostal (Antônio Gilberto, ed.), CPAD, p. 143
[2] Novo Dicionário de Teologia Bíblica, Vida, pp. 1136,7
[3] Abraão de Almeida. O tabernáculo e a igreja, 3° ed., CPAD, p. 77
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