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Perseguição aos cristãos

O Domingo da Igreja Perseguida será dia 13 de outubro de 2020. São mais de 260 milhões de cristãos perseguidos hoje no mundo

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Cristãos protestantes no México
Cristãos protestantes no México (Reprodução/Portas Abertas)

Um momento dedicado ao clamor. A igreja se unindo em oração. Será no próximo domingo, dia 13 de setembro de 2020. A Missão Portas Abertas fará o Domingo da Igreja Perseguida (DIP). Todas as igrejas brasileiras podem participar.

Basta fazer um cadastro no site (portasabertas.org.br/dip) e as Portas Abertas ensinam como organizar o evento. Também disponibilizam vídeos para serem exibidos na programação de clamor pelos cristãos perseguidos.

Os cristãos começaram a ser perseguidos, torturados, presos e mortos no século I, na cidade de Jerusalém. Passado muito tempo, agora no século XXI, a igreja da cruz continua sendo encarcerada. Ou seja, a tentativa de destruir os crentes nunca acabou. A dor e a morte ainda são uma dura realidade que os seguidores de Jesus enfrentam.

Para relatar sobre o tema, faremos um recorte histórico mostrando três períodos diferentes. Falaremos dos séculos I, II e III. Depois iremos para os relatos do século XVI. Por fim, citaremos os problemas do século XXI.

A perseguição nos séculos I, II e III

No século I, o Novo Testamento registra as prisões de Paulo (depois de convertido), João, Pedro e Tiago, irmão de João. O rei Herodes mandou matar Tiago e Pedro (Atos 12:1). Também existe o registro da morte de Estêvão (Atos 7:54).

Em Atos 8:1-3 está escrito que “fez-se um dia de grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém. E todos foram dispersos pelas cidades da Judeia e Samaria, exceto os apóstolos. E uns homens piedosos foram enterrar Estêvão.

Fizeram sobre ele grande pranto. E Saulo (nome de apóstolo Paulo antes da conversão) assolava a igreja, entrando pelas casas; arrastando homens e mulheres, os encerrava na prisão”.

De acordo com os textos bíblicos, os judeus foram os primeiros perseguidores dos cristãos. Depois foram os romanos. 

As causas da perseguição

Até o ano 100, podemos perceber perseguições locais. Já narramos a morte de Estêvão e a perseguição aos personagens citados no Novo Testamento. Mas o mal não acabou por aí. No ano de 64 d.C., o imperador Nero perseguiu a igreja e colocou culpa nos cristãos pelo incêndio em Roma. Paulo e Pedro morreram nesse período. Em 95 d.C. era o governo de Domiciano. Os judeus recusam pagar imposto para sustentar o templo de Júpiter Capitolino (o imposto era para manutenção do templo).

Nesse período, João foi exilado em Patmos, onde escreveu o livro de Apocalipse. Depois do ano 250, a perseguição torna-se universal. No trono sobe o imperador Décio. O Império Romano passava por calamidades naturais e ataques externos. O imperador disse que os cristãos eram uma ameaça por causa do crescimento rápido. Por isso foram acusados de querem criar um estado dentro do Estado.

Antes do ano 250, a perseguição era local, esporádica e popular. Depois de 250, a perseguição era estratégia romana. Tertuliano disse que “o sangue dos cristãos é a semente (da igreja)”.

No ano de 250, Décio promulgou um édito que exigia um sacrifício anual nos altares romanos aos deuses e ao imperador. Quem fizesse o sacrifício receberia um certificado chamado Libellus. Muitos cristãos negaram a fé para ter o certificado. O que era o Libellus? Um documento dado a um cidadão romano certificando a realização de um sacrifício pagão. Atestando, portanto, sua lealdade às autoridades do Império Romano.

Diocleciano sobe ao poder (245-313). O Império estava em desordem. Ele acaba com a diarquia (criada por Cesar, em 27 a.C., onde imperador e senado dividem poder). Dioclesiano não tolerou crenças consideradas hostis ao Estado. Nessa época, os cristãos sofreram a mais dura perseguição. Diocleciano ordenou o fim das reuniões cristãs, a destruição dos templos, a deposição de oficiais das igrejas, a prisão de quem continuasse sendo seguidor de Jesus. Houve destruição da Bíblia pelo fogo.

Outros éditos obrigavam cristãos a sacrificarem para deuses pagãos. Quem não fizesse deveria morrer. Nesse tempo, as prisões ficaram cheias de cristãos que foram punidos com confisco de bens, exílio, prisões ou mortes (por espada ou animais ferozes). Muitos foram mandados para campo de trabalho forçado e lá morreram. No ano de 305, Diocleciano abdicou do trono e a perseguição amenizou. Já em 311, Galério promulga édito com tolerância aos cristãos, desde que não violassem a paz do Império. Mesmo assim, a perseguição continuou.

Foi somente no ano de 313 que Licínio e Constantino fizeram o Édito de Milão garantindo liberdade de cultos aos cristãos e todas as religiões até o ano 381. Houve liberdade religiosa. O Édito de Milão dizia que o Estado romano seria neutro em relação à religião. O cristianismo passou a não ser mais perseguido. Os lugares de culto foram devolvidos aos cristãos, mas sem o pagamento de indenização.

O escritor Earle Cairns afirma as causas políticas da perseguição. A igreja primitiva sofreu pouco enquanto era vista como parte do judaísmo (que era uma religião lícita). Quando se diferenciou do judaísmo, foi entendida como sociedade secreta. Então o Estado romano a perseguiu. O cristianismo tornou-se religião ilegal, ameaça à segurança do Estado romano. Se tivesse que escolher, os cristãos eram leais a Jesus Cristo e não a César. O Estado romano só tolerava a religião que contribuísse para estabilidade dele próprio. Os cristãos eram uma ameaça porque os fiéis tinham lealdade moral e espiritual a Cristo. Os romanos achavam que os cristãos estavam fundando um estado dentro do Estado. Achavam que cristãos eram desleais ao Estado.

As práticas cristãs eram consideradas deslealdade ao Estado romano. Os cristãos se recusavam a oferecer incenso nos altares que ofereciam culto ao imperador. Quem sacrificasse nesses altares poderia praticar uma segunda religião (a sua religião). E também recebia aquele documento, chamado Libellus, que dizia que a pessoa havia cumprido a lei de cultuar o imperador. A igreja cristã se recusava a adorar e oferecer sacrifício ao imperador. Outra questão para a perseguição é que os cristãos do século I realizavam a maioria das reuniões à noite e em segredo. Por isso, os romanos achavam que estavam tramando conspiração contra segurança do Estado.

Existiram também causas religiosas que serviam de desculpa para o Império Romano perseguir. A religião romana era externa. O que isso significa? Que os romanos tinham altares, ídolos, sacerdotes, cânticos processionais, ritos e práticas que o povo podia ver quando se praticava o culto. Os romanos não se opunham a acrescentar um novo ídolo ao grupo do panteão, desde que a divindade se subordinasse às pretensões de primazia feitas pela religião do Estado. Os cristãos tinham uma religião interna. Não tinham ídolos e no culto cristão nada havia para ser visto. Seu culto era espiritual e interno. Eles se colocavam de pé e oravam de olhos fechados. As orações não eram dirigidas a nenhum objeto visível como uma imagem, uma vela, uma cruz, por exemplo. Para as autoridades romanas, acostumadas às manifestações materiais simbólicas de seus deuses, isso nada mais era do que ateísmo. Parece inacreditável, mas os cristãos sofreram perseguição por terem sido acusados de prática de ateísmo.

O sigilo dos encontros dos cristãos também suscitou ataques morais contra eles. Por não saber como eram os cultos, surgiram boatos de que eles praticavam incesto e canibalismo durante as celebrações. O entendimento equivocado sobre o significado de “comer e beber” – os elementos que representavam o corpo e o sangue de Cristo (ceia), geraram rumores de que os cristãos matavam e comiam crianças em sacrifício a Deus. A expressão “beijo da paz” foi entendida como conduta imoral. Mas o “beijo da paz” nada mais era do que um cumprimento.

Algumas causas sociais podem ser apontadas para os romanos perseguirem os cristãos nos séculos I, II e III. Os cristãos eram bem vistos por pobres e escravos, mas odiados pelos líderes aristocráticos que temiam a influência sobre as classes pobres. Os cristãos defendiam a igualdade entre as pessoas. E os líderes aristocráticos se serviam do trabalho de muitos para sustentar poucos privilegiados. Os aristocratas temiam que os cristãos fizessem um motim, arregimentando pobres e escravos. Seria a ruína dos privilégios da classe rica.

Os cristãos afastaram-se dos ajuntamentos pagãos dos templos, teatros e lugares de recreação. Por isso foram vistos como antipáticos. Os cristãos tinham alta moralidade e ética. A classe alta da época levava vida escandalosa e reprovava a pureza dos cristãos. Como era o padrão ético dos cristãos? O teólogo Franklin Ferreira explica que os cristãos davam auxílio aos menos favorecidos, proibiam o infanticídio, condenavam o aborto, o divórcio, o incesto, a infidelidade conjugal e a poligamia. Todas essas práticas eram comuns na sociedade romana da época (e em outras sociedades também). Os cristãos recusaram esses padrões sociais. Então os pagãos criam que eram um perigo para a sociedade. Cristãos eram considerados pessoas que “odiavam a humanidade” e que poderiam incitar as massas à revolta.

As causas econômicas para a perseguição merecem ser comentadas. O cristianismo gerou prejuízo para o comércio. Como as pessoas se convertiam, deixavam de comprar ídolos. Então o comércio teve prejuízo financeiro porque deixou de vender. Os sacerdotes, fabricantes de ídolos, videntes, pintores, arquitetos e escultores dificilmente se entusiasmariam com uma religião que ameaçasse seus meios de sustento. Como os cristãos faziam culto sem imagem e estavam crescendo rapidamente, os comerciantes vendiam menos produtos. Isso estava dando prejuízo para o comércio. Por isso, esse grupo se virou contra os cristãos. Um bom exemplo desse problema é relatado pelo apóstolo Paulo que saiu da cidade porque um ourives, chamado Demétrio, causou grande tumulto (Atos 19:23). O ourives fazia imagens de Diana, deusa da cidade de Éfeso. Ele acusou Paulo de atrapalhar os negócios por pregar que não eram deuses as imagens feitas por mãos humanas. O comércio venderia menos peças da deusa se o cristianismo prosperasse na cidade. O apóstolo foi acusado de destruir a majestade da deusa da fertilidade que toda a Ásia Menor adorava. Paulo foi forçado a deixar a cidade e partiu para a Macedônia (Atos 20:1).

A perseguição no século XVI

Depois de falarmos de perseguição nos três primeiros séculos da nossa era, vamos dar um salto na história e concentrarmos no século XVI.

Nessa época, João Calvino foi um líder influente que lutou contra a perseguição aos cristãos. Foi a perseguição aos protestantes franceses que levou Calvino a publicar a primeira edição das Institutas, em 1536. A intenção era defender os cristãos franceses como pessoas leais e sugerir o fim da perseguição.

A perseguição no século XXI

Hoje em dia o tema é atual e a violência ainda acontece. Parece inacreditável, mas os cristãos continuam sendo presos, torturados e mortos somente por causa da fé em Jesus Cristo. Várias organizações missionárias pesquisam e ajudam a igreja perseguida. A Voz dos Mártires (vozdosmartires.com) e Portas Abertas (portasabertas.org.br) são duas instituições que servem de exemplo de atuação contra a perseguição aos cristãos.

O que mudou, do século I para hoje, é a forma de se fazer perseguição. Estima-se, de acordo com Portas Abertas, que atualmente existem 260 milhões de cristãos perseguidos no mundo. Anualmente a instituição faz uma lista de 50 países que ainda perseguem a igreja. Vamos citar somente os 10 primeiros países perseguidores. No topo da lista está a Coréia do Norte, seguido do Afeganistão, Somália, Líbia, Paquistão, Eritreia, Sudão, Iêmen, Irã e índia. A lista completa pode ser acessada na página www.portasabertas.org.br/lista-mundial/paises-da-lista.

Quando ocorre a perseguição? Quando são negados os direitos à liberdade religiosa; quando a conversão é proibida por ameaças do governo ou grupos da sociedade; quando os cristãos são forçados a deixar casas e empregos por causa da violência que podem sofrer; quando são agredidos fisicamente ou mortos por causa de sua fé; quando são presos, interrogados e torturados por se recusarem a negar Jesus.

Os tipos de perseguição são os mais variados. Pode acontecer a perseguição individualmente, quando, por exemplo, a pessoa não é livre para escolher qual religião quer seguir, não pode orar a Deus dentro de casa ou em local público, ter a Bíblia e possuir livros cristãos para uso pessoal. A perseguição também pode se do tipo familiar quando a pessoa convertida ao cristianismo é proibida de praticar sua fé em casa e enfrenta problemas em assuntos civis como casamento, enterro de familiares ou herança. Muitas vezes a família retira a herança do cristão somente por causa da conversão a Jesus.

Também existe perseguição da sociedade que é quando o cristão sofre pressão por meio de atitudes preconceituosas, leis, casamento forçado, dificuldade de acessar recursos, pressão para renunciar a fé, discriminação no trabalho, intimações à delegacia. O país também pode fazer perseguição mais ampla. O cristão enfrenta oposição, pois não há leis que garantam liberdade de culto e a prática da fé. É considerado crime a prática da evangelização e, em casos mais extremos, a conversão.

O cristão pode enfrentar, por exemplo, problemas para tirar o passaporte. E ainda existe a perseguição aos templos. Os grupos sofrem para realizar atividades comunitárias como culto, reunião de oração, batismo ou aula bíblica.

A opressão pode vir dos vizinhos, do governo ou da polícia. Também é considerado perseguição quando a comunidade cristã não tem acesso à Bíblia e a outros materiais religiosos. Além de material impresso ser censurado, muitos países controlam o uso da internet pela população. Isso dificulta a comunicação entre as pessoas e a divulgação de informações.

Quem são os perseguidores hoje

Não são somente os protestantes que atuam pelo fim da perseguição. Muitas ONGs católicas romanas também estão preocupadas com o problema.

A Canção Nova, por exemplo, traçou o perfil dos perseguidores. Os principais grupos radicais que perseguem os cristãos são: Estado Islâmico (Síria e Iraque), Al Qaeda (Afeganistão), Boko Haram (Nigéria) e Al Shabab (Somália).

Os católicos na luta

Desde o ano passado, a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), com sede no Vaticano (ACN – Aid to the Church in Need, em inglês), alerta para o possível fim do cristianismo em países do Oriente Médio. O relatório, chamado “Perseguidos e Esquecidos?”, apontou que 90% dos cristãos do Iraque foram dizimados. A religião cristã também está ameaçada e pode acabar na Síria.

De acordo com a AIS, havia 1,5 milhões de cristãos no Iraque antes de 2003. Em 2019 esse número era de 150 mil. Os números mostram um declínio de 90% em curto espaço de tempo. Se nada for feito, a igreja cristã poderá desaparecer no Iraque e na Síria.

Em um pronunciamento no ano passado, o papa Francisco disse que os cristãos perseguidos “sofrem, mas não negam a fé”. Já este ano, o papa voltou a comentar sobre o assunto e disse que os “cristãos perseguidos são os mártires dos nossos dias”. O discurso foi feito na Praça São Pedro quando o papa comentou sobre a violência e a perseguição às pessoas que amam a Jesus e a igreja.

Todos unidos

A preocupação é que parece que o mundo assiste à destruição da fé cristã em silêncio. Diante do grave problema da perseguição, da tortura e da morte, realmente comenta-se pouco sobre o assunto. As reportagens da imprensa são raras. As igrejas evangélicas parecem se mobilizar pouco. As paróquias católicas também. Ninguém ouve os gritos dos perseguidos? No momento de dor e de morte, não pode haver separação. Todos os cristãos devem se unir em oração e serviço pela igreja que sofre. Não deve prevalecer a divisão entre protestante, romano, ortodoxo ou anglicano. O corpo pede socorro. O corpo tem que socorrer.

Outro nome para perseguição é intolerância religiosa. Unir em socorro não é fazer ecumenismo. É ser solidário à dor alheia. Esse é o amor verdadeiro pregado por Jesus Cristo. Ainda existem cristãos perseguidos. E se fosse você? Acredite: os cristãos são o grupo religioso mais perseguido do mundo. Somos corpo verdadeiramente quando a dor do outro dói em nós também. E um detalhe importante: ao interceder pelos que sofrem, não deixe de abençoar o opressor. Porque Romanos 12:14 diz que é para abençoar os que perseguem. É para abençoar, jamais amaldiçoar.

Como ajudar a igreja perseguida

A Voz dos Mártires diz que a Bíblia é o bem mais valioso que os cristãos precisam. Além da doação de Bíblias, as pessoas podem ajudar orando, indo ao campo missionário ou contribuindo financeiramente. Muitos missionários já estão em campo trabalhando. E quem não pode viajar para os países perseguidores, pode patrocinar quem já está atuando.

Como ajudar? Basta acessar o site das agências e se inscrever. Todo o mês o voluntário contribui com um valor.

Assim o trabalho de preservação de vidas pode ser levado adiante.

Esse é o tripé de missões: orar, ir e contribuir. A informação ajuda a conhecer para amar. A oração ajuda salvar. E a ação é doar para ajudar.

Serviço

Domingo da igreja perseguida – dia de oração
Data: 13 de setembro de 2020
Horário: cada igreja estabelece a sua agenda (pode ser durante a Escola Bíblica Dominical ou culto noturno)
Para participar gratuitamente, acesse e cadastre-se: portasabertas.org.br/dip

Jornalista, teóloga e professora. É doutoranda em Teologia pela Escola Superior de Teologia, no Rio Grande do Sul. Tem mestrado em Teologia pela Escola Superior de Teologia. Pós-graduação em MBA Gestão da Comunicação nas Organizações pela Universidade Católica de Brasília. Bacharelado em Comunicação Social, Jornalismo, pelo Centro de Ensino Unificado de Brasília. Licenciatura plena em História pelo Centro de Ensino Unificado de Brasília. Bacharelado em Teologia pela Faculdade Evangélica de Brasília

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