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“Valores, princípios e a Constituição não podem ser relativizados”, diz deputada Liziane Bayer
Deputada gaúcha concedeu entrevista exclusiva ao Gospel Prime.
Pastora da Igreja Internacional da Graça de Deus, a deputada federal Liziane Bayer (PSB-RS) vem se destacando em seu primeiro mandato. Eleita com com 52,9 mil votos, tem tido uma atuação longe de polêmicas.
A parlamentar é uma das integrantes da Frente Parlamentar Evangélica (FPE) e já foi deputada estadual no Rio Grande do Sul.
Apesar de ser discreta, marcou posição em votações importantes da Casa, destacando-se na prisão arbitrária do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ). Votou contra e justifica de forma assertiva: “Não podemos permitir que uma decisão com base jurídica questionável seja vista com normalidade”.
Em 2019, Liziane foi ameaçada de punição pelo partido por ter votado favoravelmente à reforma da Previdência, mas não recuou da decisão.
Em entrevista exclusiva ao Gospel Prime ela fala sobre a atual situação do país e suas perspectivas para o futuro.
Leia na íntegra:
Como a senhora vê a atual situação do país, enfrentando pandemia, crise econômica e política simultaneamente?
Há pouco mais de um ano, ninguém sabia exatamente a provação a que o coronavírus submeteria todos nós. Há crise na área social, na área econômica, na área da saúde. Muitas pessoas perderam seus empregos, viram seus negócios fechar e tiveram de se adaptar a uma nova realidade. Muitos perderam amigos, familiares, pessoas queridas e lutam para superar esse momento.
Há muita guerra de versões sobre fatos, mas neste momento todos devem se unir contra um inimigo poderoso e invisível: o vírus que está dizimando milhares de vidas.
É sobre isso que devemos falar, é propondo ações que ajudem no combate ao vírus que devemos trabalhar. É para que as pessoas tenham emprego, renda e suas rotinas de volta que devemos lutar. O momento exige união e que todos olhemos na mesma direção para que o Brasil saia maior desta crise.
Qual deve ser o papel do cristão na política?
Cristãos têm o chamado natural de trazer princípios e valores do Reino para os espaços de atuação, seja na família, no trabalho, na escola ou nos grupos sociais que pertencem.
Na vida pública, não é diferente, temos que lutar por um Brasil melhor, trazendo os valores eternos e contribuindo para o desenvolvimento da sociedade em todos os setores. Precisamos participar e opinar na construção de pautas que, muitas vezes, são deixadas de lado. Tomar posição e lutar pelo que defendemos. E evitar que projetos que trazem prejuízo a vida e a família alcancem êxito.
Por que a política brasileira não consegue atender às demandas sociais?
Há muitos projetos na área social em andamento pelos governos federal, dos estados e nos municípios. Como exemplo cito a inclusão das Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) no Programa Saúde da Família, que prioriza visitas periódicas das equipes de saúde da família em instituições de acolhimento. A ação é liderada pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, comandado pela ministra Damares Alves, com quem temos uma forte parceria.
E, sim, há uma grande mobilização dos parlamentares para que as ações sejam efetivadas e saiam do papel. O Brasil vem avançando em áreas como a defesa dos direitos da mulher, das políticas de prevenção ao suicídio e à automutilação, em políticas de atenção à saúde da mulher, no enfrentamento à violência doméstica.
Mas, sozinhos, os governos não fazem tudo — ainda mais em um país de dimensões continentais como o Brasil. Com a pandemia, a crise social e as desigualdades se acentuaram ainda mais. Para dar conta dessas demandas é preciso que haja uma grande rede de solidariedade, com organizações sociais, entidades e cidadãos engajados numa corrente do bem, junto aos governos, em favor dos que mais precisam. É dessa forma que vamos seguir em frente!
A senhora foi uma das deputadas que votou contra a prisão arbitrária de Daniel Silveira. Por que tomou essa decisão?
A prisão do parlamentar abre um precedente para a interferência indevida de um poder sobre o outro. Coloca questões pessoais acima da legitimidade institucional.
Não podemos permitir que uma decisão com base jurídica questionável seja vista com normalidade. O fórum de avalição da conduta do parlamentar é a Casa Legislativa ao qual pertence. Por isso, votei não. Não à manutenção da prisão do deputado. Valores, princípios e a Constituição não podem ser relativizados.
A Frente Parlamentar Evangélica teve avaliação negativa durante a pandemia. Como a senhora vê a atuação do colegiado?
A Frente Parlamentar Evangélica (FPE) teve — e está tendo — um papel de suma importância nesses tempos de pandemia, como vem tendo nos últimos anos no país. Vivemos momentos muito difíceis com o isolamento social e em decorrência elevados índices de ansiedade, perda de familiares e amigos e, infelizmente, aumento dos casos de suicídio.
A FPE está atenta a todas essas questões que, além das reuniões de orações pela nação brasileira, se debruça sobre as pautas do Congresso Nacional afim de que possamos dinamizar as matérias primordiais ao enfrentamento desta calamidade.
Estamos em constante oração, pedindo sabedoria a Deus para que juntos possamos tomar as melhores decisões e superar este momento tão difícil.
De que forma a Frente Parlamentar Evangélica poderia agir para atender as expectativas dos evangélicos?
A bancada tem como pilares principais a luta pelos valores da família e da vida, levantando bandeiras contra o direito ao aborto, a ideologia de gênero nas escolas, entre outras pautas que ferem os valores cristãos.
A formação do grupo tem o objetivo de fortalecer o debate em torno do que é defendido pelos parlamentares. A FPE trabalha pelas conquistas da igreja, para evitar que uma legislação pudesse prejudicar os valores que o povo cristão defende. Temos tido uma atuação de resistência. Não calarão a igreja do Senhor!
Existe uma ameaça contra a representatividade cristã no pleito eleitoral?
A representatividade das bancadas religiosas – mais especificamente, da evangélica – tem crescido nos últimos anos. E isso pode se relacionar ao fato do crescimento da população evangélica no Brasil e no mundo, além da identificação e da valorização da sociedade a questões relacionadas à família e aos valores.
Contudo, é inegável que há movimentos nascidos no preconceito religioso e de um ativismo ideológico que tentam barrar esta representatividade natural e orgânica. Mas acredito muito no trabalho e na força da Igreja do Senhor. E será com estes valores que seguiremos atuando, crescendo e conscientizando.
E quanto à nossa democracia, vê risco?
A democracia é o bem mais precioso e o mais poderoso regime jurídico contra os abusos, porque é o próprio povo que legitima o funcionamento dos Poderes do Estado. Tem sua base na eleição dos seus representantes e no diálogo. E aqui cabe lembrar que o sentido maior das atividades do parlamentar está na representação democrática, no trabalho em favor daqueles que nos elegeram e de atuar pelas necessidades reais daqueles que precisam do Estado.
Em nosso mandato, quebramos um paradigma com o projeto Você Decide: além de ouvir as pessoas, abrimos espaço para que as comunidades efetivamente decidam onde querem aplicar os recursos de emendas parlamentares. Isso é transparência e democracia. É participação política, liberdade de escolha e respeito à decisão da maioria. E, para nos fortalecermos e crescermos como Nação, devemos sempre respeitar o Estado Democrático de Direito.
O Poder Judiciário tem invadido competência do Legislativo?
Como disse anteriormente, valores, princípios e a Constituição não podem ser relativizados. A autonomia e a independência dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário estão asseguradas pela Constituição. E o respeito às funções e competências de cada Poder devem ser respeitados, para que o País siga no rumo do desenvolvimento e para que as instituições se fortaleçam e se aperfeiçoem.
O que a senhora espera para o futuro do país?
Meu mandato está a serviço da dignidade humana, da família, da vida e da liberdade religiosa. Uma família forte é base para o respeito a todos e ajuda a consolidar uma sociedade mais humana.
Precisamos ser a voz daqueles que não têm voz, trabalhar pelos que necessitam do amparo do Estado e, principalmente, formar uma grande rede de cooperação e diálogo para que o Brasil saia ainda maior desta pandemia. O Brasil e cada um de nós pode mais!
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