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opinião

A igreja on-line

Muitas igrejas continuaram com a presença virtual com a transmissão de cultos em tempo real.

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Igreja Online
Igreja On-line (Foto: Direitos Reservados/Deposiphotos)

A Covid-19 fez os líderes religiosos perceberem a importância de a igreja investir na internet. Muitas já transmitiam os cultos pelas redes sociais, mas na pandemia os acessos aumentaram. Por ordem dos governadores que baixaram decretos, muitas igrejas foram fechadas durante a pandemia como, por exemplo, em Brasília. Impedidos de se reunir, membros optaram por participar dos cultos on-line. A pandemia acabou, mas a cultura da igreja em rede permaneceu. Muitas igrejas continuaram com a presença virtual com a transmissão de cultos em tempo real e ainda de modo gravado.

Pesquisas comprovam o avanço da igreja na rede. Por exemplo, um levantamento de dados realizado por pesquisadores da UNICAMP mostrou que, entre janeiro e abril de 2020, a busca pelo termo “culto on-line” aumentou 10 mil por cento no buscador Google. A pesquisa diz que esse aumento reflete a busca de respostas da fé para o enfrentamento do vírus Covid-19. Isso foi uma mudança no cotidiano de muitas igrejas que tiveram que se adaptar a essa nova forma de culto. A pesquisa PoderData mostra que 45% dos brasileiros, que seguem alguma religião ou acreditam em um ser superior, estavam acompanhando cultos pela TV ou internet por causa da pandemia de Covid-19. Outros 30%, que também professam religiões, estavam praticando suas crenças apenas em casa. Os que estavam indo às igrejas ou templos são 14%. E 5% estavam praticando sua fé de outras maneiras.

Igrejas que investem na internet

O culto on-line, ou seja, com transmissão pelo YouTube, Facebook e Instagram, é uma forma de alcançar maior número de pessoas. Um exemplo foi o culto no dia 4 de junho de 2023, às 17 horas, no canal da Igreja do Amor, em Recife, presidida pelo pastor Arthur Pereira e pela pastora Thalita Pereira. Sabe-se que o número de pessoas assistindo ao culto varia muito. Em média, nesse dia, cerca de 121 pessoas assistiram o culto no YouTube e 456 mensagens foram deixadas no chat. No YouTube a Igreja do Amor, com o campus virtual, tem 900 mil inscritos e 980 vídeos publicados. Uma equipe da comunidade presta assistência ao público virtual interagindo com os internautas, respondendo às perguntas e, no momento de apresentar os visitantes que estão no culto presencial, os pastores citam nomes das pessoas que estão on-line dando atenção a esse público também. No total, até a data do fechamento deste artigo, a Igreja do Amor tem 10 campus, inclusive na cidade da Flórida, nos Estados Unidos. O campus on-line também não foi esquecido.

Outro exemplo é a Igreja Memorial Batista de Brasília que também investe na transmissão do culto on-line por meio do canal no YouTube. No domingo, 4 de junho de 2023, a transmissão do culto noturno teve 1,6 mil visualizações. O canal tem 10,3 mil inscritos. A igreja também tem um grupo de voluntários que atende às pessoas que conversam pelo chat. É comum tirar dúvidas sobre as atividades da igreja e receber pedidos de oração.

Os pontos positivos e negativos

As opiniões se dividem quanto aos serviços religiosos oferecidos pela internet. Existem pessoas que concordam e outras que discordam da ceia, do batismo e da transmissão dos cultos on-line.

O culto virtual ajuda no desigrejamento ou aumentou o número de desigrejados? Não existe dados estatísticos para afirmar se os cultos on-line ajudam no desigrejamento. O segmento evangélico carece de pesquisa nesse assunto. Então, com a inexistência de dados estatísticos, toda análise se torna subjetiva e empírica. Cada pessoa dará a sua opinião baseada na experiência de vida que tem.

As vantagens na transmissão do culto on-line são:

Pode ser a chance de agregar os desigrejados e alimentá-los espiritualmente porque se recusam a frequentar um templo.

Flexibilidade geográfica. O culto on-line pode ser assistido mundialmente. Além de gerar comodidade, a mensagem alcance maior número de pessoas no mundo.

Agiliza o trabalho de fazer missões (evangelização) a um custo mais baixo porque alcança o mundo em tempo real.

É uma forma de praticar o discipulado.

Há a possibilidade de conquistar novas pessoas.

A pessoa pode participar e conhecer vários ministérios pelo mundo, sem a necessidade de sair de casa. Sem a igreja virtual talvez essa possibilidade seria impossível, pois demandaria viajar pelo Brasil e mundo para visitar diferentes igrejas.
É mais barato a igreja estar presente nas redes sociais do que na televisão e no rádio. Com a igreja virtual há economia de custos com aluguel e infraestrutura.

Por meio da presença digital, além de transmitir o culto on-line, a igreja pode ainda criar outros meios de pregação como site, blog, podcast, fórum de oração, grupo de aconselhamento em redes sociais e sermão pregado via webinar.

O culto on-line não precisa ser ao vivo. Pode-se gravar o conteúdo e disponibilizar virtualmente.

Há a flexibilização de horário, pois as pessoas podem assistir, no tempo que escolher, às gravações disponibilizadas nas mais diversas mídias. Isso é chamado de “on demand” que é o serviço sob demanda para atender a pessoa na hora e com conteúdo que escolher. O usuário é livre para escolher em quais horários quer assistir o conteúdo.

O material fica arquivado podendo ser acessado quando o usuário quiser. É uma espécie de memória da igreja que está acessível às pessoas em escala mundial.

Aproximar-se do público jovem que hoje prefere se conectar à internet do que assistir televisão ou ouvir rádio.

Aumento das doações on-line.

A transmissão do culto ao vivo não exige edição. Isso facilita o trabalho da equipe de comunicação.

Mesmo com tantas vantagens, é necessário dizer que a participação no culto virtual não substitui a presença no culto físico. Um não excluiu o outro, mas se complementam.

As desvantagens do culto on-line são:

Idosos podem ter pouca habilidade no uso de novas tecnologias, dificultando o acesso aos cultos on-line. Lembre-se que uma parte da membresia da igreja é de pessoas idosas.

Muitas pessoas podem ser somente expectadoras e não participantes reais do culto e do momento de adoração a Deus. Assistem ao culto como se estivesse assistindo a um programa de televisão. Esse ponto precisa ser abordado pelos pastores que devem ensinar que as pessoas prestam culto a Deus e não assistem um culto. O culto on-line vira quase um espetáculo que a pessoa só assiste.

A falta de comunhão com as pessoas da mesma fé e o isolamento social são outras características on-line.

A falta de acesso à tecnologia é um dos empecilhos para a atuação da igreja virtual. As desigualdades digitais são enormes no Brasil. A desigualdade social se reflete na desigualdade digital, pois as pessoas têm pouco ou nenhum acesso à tecnologia. Muitas igrejas protestantes e evangélicas estão nas periferias e os membros têm baixa renda, o que pode dificultar o acesso à tecnologia, contribuindo para que a igreja não invista em participação virtual e o membro não tenha equipamento de qualidade para acessar cultos virtuais.

Há resistência de alguns pastores quanto a ter presença na internet. Muitos são contra o culto on-line.

As resistências

Na minha opinião, a resistência das pessoas à presença da igreja na internet precisa ser superada. Tem pessoas que não aceitam o culto on-line, outros aceitam o culto, mas não concordam que a ceia seja virtual. O batismo virtual é outro questionamento. É preciso entrar em consenso sobre a igreja praticar a ceia e o batismo virtuais, mas isso não deve ser impedimento para que o culto on-line aconteça.

A internet é somente o meio de comunicação da mensagem do Evangelho. E a igreja cristã sempre usou o meio de comunicação de sua época para pregar e edificar os fiéis. Um bom exemplo foi o apóstolo Paulo que usou cartas para se comunicar com as igrejas espalhadas no mundo conhecido da época. A carta era o meio disponível no século I. O reformador Martinho Lutero, no século XVI, também usou os meios de comunicação de seu tempo para expandir o Evangelho, quando a imprensa foi criada pelo alemão Johannes Gutenberg. A internet é o meio disponível hoje. Cada pessoa deve usar os meios de seu tempo para pregar as boas novas de Jesus.

O engajamento do público

Criar uma atmosfera de engajamento e participação da membresia no universo digital é importante para que a igreja on-line seja bem-sucedida. Há dicas para manter as pessoas engajadas como, por exemplo, falar com o público durante os cultos, motivando-as a interagir nos comentários do chat. Realizar pesquisas on-line durante os cultos. Depois, compartilhar o resultado delas ao longo da pregação. Certamente o público se sentirá especial percebendo a relevância de suas opiniões. Criar métodos de interação e comunhão antes e depois dos cultos. Um exemplo muito bom e utilizado é a “virtual lobby”, uma sala virtual de conversa para que os membros mantenham um relacionamento e desenvolvam diálogos, como nos cultos presenciais. Investir no monitoramento do chat durante o culto on-line. Outro exemplo bastante interessante é criar linhas específicas para pedidos de oração – que devem estar disponíveis durante todo o culto – e as salas virtuais privadas para que essas orações ocorram.

É necessário trazer o nível de engajamento da igreja física para a igreja on-line. Em ambiente on-line, as pessoas não possuem a mesma interação umas com as outras – ou até mesmo com o evento que está ocorrendo em si, igual ao que acontece na igreja física. Em contrapartida, mesmo com as dificuldades, é necessário fazer com que as pessoas sintam que estão envolvidas e fazem parte de algo.

Desafios e oportunidades

Para a igreja marcar presença digital, os desafios a serem superados são muitos. É preciso entender que a igreja on-line não veio para substituir, mas para estender a igreja física. A liderança tem que saber que a igreja está em todo lugar. É a igreja no cotidiano. O ministério digital representa a igreja presente no cotidiano. A igreja on-line não se resume apenas à realização dos cultos on-line. Os cultos virtuais representam somente a porta de entrada para um ministério digital. O culto on-line é uma boa maneira de reconquistar as pessoas que decidiram não mais frequentar os templos seja pelos mais diversos motivos. Os desigrejados são exemplo de público que pode ser alcançado on-line. A igreja virtual é ainda uma oportunidade de ter a participação de pessoas que não estão no culto físico. Por exemplo, pessoas que moram no exterior, as que têm necessidade de isolamento social, as doentes, as que moram em país que estão em guerra, que passam por perseguição religiosa ou que tiveram mudança de endereço.

Jornalista, teóloga e professora. É doutoranda em Teologia pela Escola Superior de Teologia, no Rio Grande do Sul. Tem mestrado em Teologia pela Escola Superior de Teologia. Pós-graduação em MBA Gestão da Comunicação nas Organizações pela Universidade Católica de Brasília. Bacharelado em Comunicação Social, Jornalismo, pelo Centro de Ensino Unificado de Brasília. Licenciatura plena em História pelo Centro de Ensino Unificado de Brasília. Bacharelado em Teologia pela Faculdade Evangélica de Brasília

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