Siga-nos!

estudos bíblicos

A mordomia do trabalho

Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 9 do trimestre sobre “Tempo, Bens e Talentos”.

em

Soldador. (Foto: Christopher Burns / Unsplash)

III. Princípios cristãos para o trabalho

1. O homem deve trabalhar “com o suor de seu rosto”

Há trabalhos e trabalhos, profissões e profissões. Alguns mais penosos que outros; alguns mais agradáveis que outros. Não se pode dizer que o enfado ou prazer do trabalho de um gari equipara-se ao de um redator de jornal, nem que o serviço de um policial militar num estado brasileiro com alto índice de criminalidade seja equiparável em satisfação ao de um guia de turismo num país desenvolvido da Europa. Toda ocupação é digna para o trabalhador, desde que “fazendo com as mãos o que é bom” (Ef 4.28). Mas é indiscutível que alguns trabalhos “suam” e “sujam” mais que outros. Em tudo, porém, deve o homem dar graças a Deus!

O “suor do rosto” (Gn 3.19) com que o homem deve galgar o seu sustento significa “esforço” e “fadiga”. Quem vive, ainda mais em tempos de crise, procurando emprego “que não canse muito” ou que seja só moleza, deve refletir se não está morando no planeta errado! Há muitas ofertas de ganho fácil mundo a fora, especialmente propostas de trabalhos virtuais, mas quando não são pura propaganda fraudulenta, são trabalhos indignos para o cristão e até convites escusos para atividades ilícitas. No início, tudo parece mil maravilhas, até que a Polícia Federal bata à porta exigindo apresentação de notas fiscais…

O cristão desempregado e até mesmo o empreendedor devem desconfiar de toda promessa de lucro fácil e rápido, especialmente quando prometem dispensar o “suor do rosto”. Afinal, já dizia a sabedoria popular que nem tudo que reluz é ouro!

2. O trabalho deve ser diuturno

Segundo o Houaiss, diuturno é aquilo “que se prolonga, prorroga ou protela no tempo; que subsiste por muito tempo; longo”. Não é o mesmo que diurno, isto é, de dia, até porque o trabalho também pode ser noturno, isto é, de noite. Dizer que o trabalho deve ser diuturno não quer dizer que cada pessoa deve trabalhar dia e noite (pode ser, mas não necessariamente; e há leis específicas em nosso país que regem as relações de trabalho). Quer dizer sim que o trabalho deve ser intenso e constante, como uma ocupação regular de todo homem ou mulher que almeje viver bem na vida.

A igreja de Tessalônica, ao que tudo indica, estava sofrendo com a influência de cristãos com uma visão errada quanto a vinda de Cristo: “se Cristo breve virá, não temos que nos preocupar com ocupações seculares, vamos espera-lo!”, pensavam alguns. Nisto, foram se entregando à ociosidade e à preguiça, além de começarem a viver às custas dos outros. Paulo então os escreve com linguagem contundente para adverti-los e chamarem-nos de volta à ocupação: “mandamos, e exortamos por nosso Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando com sossego, comam o seu próprio pão” (2Ts 3.12; confira este capítulo na íntegra).

Na sabedoria dos Provérbios vemos muitas exortações quanto ao trabalho, e umas delas é atualíssima: “A alma do preguiçoso deseja, e coisa nenhuma alcança, mas a alma dos diligentes se farta” (Pv 13.4). Quem fica esperando ganhar na loteria, apostando em jogos de azar ou dependendo de assistência social da igreja ou de governos, tendo saúde para trabalhar, nada terá na vida, antes viverá na contínua penúria! Ao passo que os corajosos e desinibidos, sob a graça e a sabedoria divinas, sairão em busca de provisões, trabalhando regularmente e colhendo os frutos de seu esmero (veja o que se diz sobre a mulher virtuosa em Provérbios 31, especialmente os versos 13 a 27).

Apenas ressaltamos um cuidado que se deve ter nesse ponto: o trabalho deve ser constante, mas não ao ponto de esgotar-nos física ou psicologicamente, levando-nos à doenças, além de separação da família e da nossa igreja local. Há dois extremos que demandam cautela aqui: o extremo da preguiça e o outro extremo da escravidão do trabalho!

Contra essa vida de ativismo profissional descontrolado é que pesam as palavras de Salomão no Salmo 127: “Será inútil levantar cedo e dormir tarde, trabalhando arduamente por alimento” (v. 2). Ainda Salomão adverte: “Melhor é a mão cheia com descanso do que ambas as mãos cheias com trabalho, e aflição de espírito” (Ec 4.6). Ou seja, o homem deve trabalhar e juntar suas economias, mas também deve descansar (esse é o princípio do sábado que permanece para os cristãos, o princípio do descanso).

Não são poucos os casos de cristãos que fizeram do trabalho a sua família, a sua igreja e o seu deus! Sob o pretexto de trazerem provisões para dentro de casa, se distanciaram de suas esposas e filhos, abandonaram a comunhão com a igreja local e já não encontram mais tempo e ânimo para orar, ler a Bíblia e louvar ao Senhor. Há tempos não ceiam mais em suas igrejas, já nem lembram quando foi o último beijo que deram nos filhos e menos ainda quando comemoraram um aniversário em família! Péssimos mordomos do trabalho!

É muito pertinente a ponderada reflexão do pastor José Gonçalves neste quesito:

“Não dá para prosperar mantendo-se de braços cruzados, e muito menos ficando eternamente em repouso! É preciso se mexer (…) Não devemos, todavia, nos fazer escravos do trabalho. Devemos estar disponíveis para cultuar a Deus, cuidar de nossa família e, com ela, recrear-nos” [2]

Cuidemos para que na busca pela realização profissional não percamos nossa família, nossa igreja, nossa saúde e… nosso Deus!

3. Não ser pesado a ninguém

O apóstolo Paulo colocou-se como exemplo neste ponto: “porque não vivemos ociosamente quando estivemos entre vocês, nem comemos coisa alguma à custa de ninguém. Pelo contrário, trabalhamos arduamente e com fadiga, dia e noite, para não sermos pesados a nenhum de vocês” (2Ts 3.7,8). Coisa boa é desfrutar de independência financeira e poder prover-se, sob a graça de Deus, de suas próprias economias e ainda ter o que repartir com os que estiverem em necessidade (Ef 4.28)!

Muitos se constituem a si mesmos um peso para pai e mãe ou para sogro e sogra justamente por não seguirem este conselho de Salomão: “Termine primeiro o seu trabalho a céu aberto; deixe pronta a sua lavoura. Depois constitua família” (Pv 24.27, NVI). Deveriam primeiro trabalhar, juntar economias e somente depois constituir sua família; mas “colocaram os carros na frente dos bois”, e agora comem “o pão que o diabo amassou” na casa de um parente!

Há ainda aqueles aventureiros que, buscando fazer carreira no ministério itinerante, largam o trabalho para “viver da fé”. Da fé dos outros, na verdade! Pois os outros terão que sustenta-lo com ofertas e cachês, não raros altíssimos! Nada temos contra aqueles que foram verdadeiramente vocacionados para a dedicação exclusiva no serviço do Senhor, os quais são obreiros fiéis de suas igrejas locais, santos em seu caráter e de trabalhos relevantes prestados à Igreja do Senhor. Sobre os aventureiros, dizemos como Salomão: “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso” (Pv 6.6); porém, sobre os obreiros fiéis de reputação ilibada, chamados para o trabalho na obra do Senhor em tempo integral (cantando, pregando ou ensinando, liderando igrejas, fazendo missões, etc.), dizemos como disse o apóstolo Paulo: “peço que vocês o recebam no Senhor com grande alegria e honrem a homens como este” (Fp 2.29).

4. O preguiçoso não deveria comer

Essas palavras de Paulo são tanto veementes quanto cômicas em relação aos preguiçosos: “se alguém não quiser trabalhar, também não coma” (2Ts 3.10). A Bíblia nos ensina reiteradas vezes a dar assistência aos órfãos e às viúvas (Tg 1.27), bem como jamais esquecermos dos pobres (Gl 2.10), e ainda nos exorta a repartir nossos bens com aqueles mestres que nos instruem na Palavra de Deus (Gl 6.6). Todavia, em lugar nenhum nos ordena suprir as necessidades do preguiçoso!

A Palavra de Deus nunca trata com condescendência o preguiçoso, antes repreende-o contundentemente: “Ó preguiçoso, até quando ficarás deitado? Quando te levantarás do teu sono?” (Pv 6.9). A preguiça é um mal tão sério que “o preguiçoso deixa de assar a sua caça” (Pv 12.27). Imagina isso? Ele teve trabalho de encontrar a caça, mas quando a pega, já não quer assá-la por pura preguiça! Morrerá de fome, apesar de ter comida bem à sua frente.

Infelizmente, algumas pessoas saudáveis se viciaram em pedir auxílio da igreja para pagar conta de água, luz, remédios e até de internet! E como alguns pastores não fazem caso de “ajudar” essas pessoas, elas também se viciaram na preguiça! No programa de assistência social de Éfeso, somente as que fossem “verdadeiramente viúvas” é que podiam usufruir do socorro da igreja (1Tm 5.3), e aquelas que ficassem ociosas, andando de casa em casa, entregando-se à fofocas e mexericos, estavam reprovadas para receberem tal benefício (1Tm 5.13). Precisamos ter cuidado com ovelhas preguiçosas que querem se escorar no departamento social da igreja!

5. A relação de empregados e empregadores

Tanto os empregadores cristãos precisam serem justos nos salários pagos aos funcionários, bem como no pagamento dos devidos benefícios garantidos em lei para o trabalhador, além de proverem condições favoráveis aos seus empregados no ambiente de trabalho (Ef 6.9; Tg 5.1-4), como os empregados cristãos precisam serem justos no trabalho, cumprindo devidamente a função e os serviços para que foi contratado e pelos quais estão sendo pagos (Ef 6.5-8; Cl 3.22-25; 1Tm 6.1). Deve haver uma relação profissional de reciprocidade.

E nada de relaxar no trabalho só porque “o patrão é crente”! Pelo contrário, deve tal patrão ser melhor servido por seus empregados que desfrutam de mesma comunhão na fé (confira 1Tm 6.2). Há quem pense que pelo patrão ser crente, deve liberar os empregados crentes do horário de trabalho para irem pregar, cantar, participar de festividades na igreja ou passear com a família. Onde aprenderam isso? Na escola da malandragem ou na faculdade da esperteza? No caso de o patrão ser um descrente mau, não deve o empregado crente amaldiçoa-lo e ameaça-lo com imprecações, antes deve orar por ele e trabalhar para ele com temor (1Pe 2.18,19).

Em caso de direitos trabalhistas estarem sendo desrespeitados, deve o diálogo franco ser a primeira opção para solução do problema; somente se o problema persistir sem nenhuma prontidão para solução por parte do empregador, é que deve o empregado crente recorrer à justiça para garantir seus direitos. Mas deve antes certificar-se de que cumpriu com seus deveres, para que não seja envergonhado diante das autoridades! E não esquecer que o empregador também tem direitos, pelos quais ele poderá reclamar judicialmente contra o seu empregado. Se houver fidelidade de ambas as partes, esse processo jamais será cogitado. E assim deseja o Senhor.

Conclusão

Concluo este estudo relembrando uma história muito conhecida, que nos ensina sobre o trabalho para glória de Deus (1Co 10.31). Um sapateiro convertido perguntou a Lutero o que deveria fazer para servir bem a Deus. Ele talvez esperasse o conselho de fechar o seu negócio e tornar-se pregador do Evangelho ou dedicar-se ao serviço religioso. Porém, a resposta do reformador alemão foi muito sábia: “Faça um bom sapato e venda-o por um preço justo”. O sapateiro aprendeu que poderia glorificar a Deus através de um trabalho competente e honesto. Já meditou nisso, caro irmão?

________
Referências

[1] Elinaldo Renovato. Tempo, bens e talentos: sendo mordomo fiel e prudente com as coisas que Deus nos tem dado, CPAD, p. 21
[2] José Gonçalves, Revista de Professor 4° Trimestre de 2013, CPAD, p. 22-3

Páginas: 1 2 3

Trending