Protesto denuncia prisão de cristãos na Eritreia há mais de 20 anos

A Embaixada do Estado da Eritreia recusou-se a receber uma carta que pedia a libertação de líderes cristãos presos no país há mais de duas décadas sem acusações formais. O ato ocorreu na quinta-feira (21), em frente à representação diplomática em Washington, liderado pela campanha Vozes pela Justiça da Religious Liberty Partnership e por organizações como 21 Wilberforce, Set My People Free, Christian Freedom International e Jubilee Campaign. A manifestação antecedeu o Dia Internacional em Memória das Vítimas de Atos de Violência, lembrado nesta sexta-feira, 22 de agosto.

Líderes cristãos detidos sem julgamento

Sete líderes religiosos continuam encarcerados no Centro de Investigação Criminal Wengel Mermera, descrito pela Comissão dos EUA para a Liberdade Religiosa Internacional como uma prisão de condições “atrozes”. Entre os presos estão o Rev. Million Gebreselassie, pastor da Igreja Evangélica Rhema, detido desde junho de 2004, e o Dr. Kuflu Gebremeskel, presidente da Aliança Evangélica Eritreia, preso após uma invasão em sua residência no mesmo ano.

Também permanecem presos os padres ortodoxos Gebremedhin Gebregiorgis, Tekleab Menghisteab e Futsum Gebrenegus, além do Rev. Kidane Weldou, da Igreja do Evangelho Pleno, e do Rev. Haile Naizge, ex-colaborador da organização humanitária Visão Mundial. Muitos deles sofrem com problemas de saúde agravados pela detenção prolongada.

Pressão internacional e cartas rejeitadas

Após os discursos, Ella Elwin, da Christian Freedom International, tentou entregar à embaixada uma carta assinada por entidades e cidadãos, denunciando violações à Constituição da Eritreia de 1997, à Carta Africana dos Direitos Humanos e ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos. A embaixada não aceitou o documento. Lou Ann Sabatier, da 21 Wilberforce, afirmou que os defensores insistirão no envio da carta às autoridades.

Vozes da diáspora eritreia

Dois cristãos eritreus que vivem nos Estados Unidos viajaram de Delaware para participar do protesto. Araya Debessay, radicado há mais de 40 anos no país, disse ao The Christian Post que se tornou “persona non grata” em 2000 após assinar uma carta criticando o governo. “Não há liberdade religiosa na Eritreia. Muitos estão sendo perseguidos por causa de suas crenças religiosas. Isso é inconstitucional, é errado e não deveria acontecer”, declarou.

Haile Tesfay, exilado há quase duas décadas, destacou que não pode retornar ao país devido às represálias contra dissidentes. “Tudo é controlado pelo governo, e há infiltração do governo em todas as instituições religiosas”, afirmou.

Relatos de tortura e repressão

Durante o protesto, cartazes exibiram fotos dos líderes detidos com os dizeres “Libertem os 7”. Wendy Wright, da Christian Freedom International, relatou casos de prisão arbitrária e agravamento de doenças crônicas entre os religiosos. Faith McDonnell, do grupo Katatismos Global, lembrou que prisioneiros já foram mantidos em contêineres por falta de espaço nas prisões, testemunho corroborado pela cantora gospel Helen Berhane, que afirmou ter passado 32 meses nesse regime.

McDonnell citou ainda relatos de torturas chamadas de “Jesus Cristo”, em que prisioneiros são suspensos em posição semelhante à crucificação. Alguns também teriam sido submetidos a abusos sexuais.

A Eritreia ocupa a sexta posição na Lista Mundial da Perseguição de 2025, elaborada pela organização Portas Abertas. O Departamento de Estado dos EUA classifica o país como “de preocupação particular” devido às “violações sistemáticas, contínuas e flagrantes da liberdade religiosa”.