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devocional

Debaixo da figueira

Natanael fala-nos de duas dificuldades básicas para reconhecer Jesus e nos rendermos a Ele.

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Jesus ensinando a multidão (Free Bible Images)

O texto de João 1:43-51 fala do processo de crença e de revelação num momento em que Jesus chama alguns para o seguirem de perto, no início do seu ministério público.

Natanael fala-nos de duas dificuldades básicas para reconhecer Jesus e nos rendermos a Ele: 

A primeira dificuldade é uma dúvida relacionada com a legitimidade, a tradição, a cultura ou o preconceito: muitos têm dificuldade em aceitar o Evangelho porque não se enquadra na sua tradição religiosa, na sua cultura ou suscita-lhes preconceitos.

Considere-se o exemplo de Saulo e a sua resistência inicial ao evangelho devido à tradição religiosa.

Ou o fenómeno de desidentificação religiosa que grassa sobretudo na Europa, onde já quase não existe transmissão de património religioso duma geração à geração seguinte, ou mesmo as influências secularista e materialista.

Qual é resposta? Não discutir doutrina nem religião, mas apenas o convite para experimentar (“vir e ver”):

“No dia seguinte quis Jesus ir à Galileia, e achou a Filipe, e disse-lhe: Segue-me. E Filipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro. Filipe achou Natanael, e disse-lhe: Havemos achado aquele de quem Moisés escreveu na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José. Disse-lhe Natanael: Pode vir alguma coisa boa de Nazaré? Disse-lhe Filipe: Vem, e vê” (v 43-46).

Evangelismo é convidar a vir, ver e experimentar. Acima de tudo, testemunhar é falar do amor de Jesus. 

A segunda dificuldade é o desconforto de não conhecer mas ser conhecido: muitas pessoas renderam-se a Jesus ao ouvirem a sua vida exposta pelo pregador por obra do Espírito Santo.

Deus conhece todas as coisas:

“Jesus viu Natanael vir ter com ele, e disse dele: Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo. Disse-lhe Natanael: De onde me conheces tu? Jesus respondeu, e disse-lhe: Antes que Filipe te chamasse, te vi eu, estando tu debaixo da figueira” (v 47-48).

Jesus já viu a cada um debaixo da sua figueira (história de vida, profissão, casamento).

Quando se ultrapassam estas duas dificuldades, dá-se a rendição:

“Natanael respondeu, e disse-lhe: Rabi, tu és o Filho de Deus; tu és o Rei de Israel” (v 49).

Mas a conversão é apenas o início da caminhada cristã: A figueira é considerada na Bíblia uma árvore boa, que dá bons frutos e a sua sombra protegia do sol quente de Israel:

“Jesus respondeu, e disse-lhe: Porque te disse: Vi-te debaixo da figueira, crês? Coisas maiores do que estas verás” (v 50).

A figueira, na Bíblia, representa o Antigo Israel. Estar debaixo da figueira significa que Natanael era um israelita justo que aguardava o Messias.

A tradição diz que debaixo da figueira é um lugar ideal para a leitura e a meditação da palavra de Deus. E provavelmente aquilo que João Evangelista quer dizer, com a sua linguagem simbólica, é que Natanael era alguém que estudava as Escrituras e procurava entendê-las. Além disso, pelo elogio que Jesus lhe fez, deduz-se que Natanael era um homem que buscava a verdade com sinceridade.

Muitos hoje estão debaixo da figueira no sentido em que tiveram princípios de vida cristãos, mas ainda não tiveram um encontro pessoal com o Salvador. A religião não responde à necessidade essencial do coração das pessoas, mas uma relação com Cristo, sim.

Natanael (que significa “Deus deu”), a partir deste momento tornou-se parte do grupo dos amigos de Jesus. Esteve com o grupo dos apóstolos que pescavam no mar de Tiberíades que se encontrou com o Cristo ressuscitado (João 21,1-14).

Para Jesus não basta estar “debaixo da figueira”, pois a fé abre novos caminhos, para experimentar a glória de Deus:

“E disse-lhe: Na verdade, na verdade vos digo que daqui em diante vereis o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem” (v 51).

Ou seja, a partir de agora Jesus ia começar a revelar-se enquanto Messias de Israel e Salvador do mundo.

Nasceu em Lisboa (1954), é casado, tem dois filhos e um neto. Doutorado em Psicologia, Especialista em Ética e em Ciência das Religiões, é director do Mestrado em Ciência das Religiões na Universidade Lusófona, em Lisboa, coordenador do Instituto de Cristianismo Contemporâneo e investigador.

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