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Pastores demonstram preocupação com formação teológica em tempos de IA

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Pastores demonstram preocupação com formação teológica em tempos de IA

A formação teológica, historicamente compreendida como resposta ao chamado divino e fundamento do ministério pastoral, atravessa um momento de transição em meio ao avanço da tecnologia e da inteligência artificial (IA). O tema tem gerado reflexões entre líderes evangélicos e educadores, que observam impactos significativos na maneira como o conhecimento bíblico é buscado, transmitido e aplicado no cotidiano das igrejas.

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Nos últimos anos, a IA — antes restrita à ficção científica — passou a integrar o cotidiano de milhões de pessoas, inclusive em contextos religiosos. Ferramentas como assistentes virtuais, tradutores automáticos, algoritmos de recomendação e plataformas que geram sermões ou simulam aconselhamentos pastorais estão cada vez mais presentes entre líderes cristãos e membros de igrejas.

Apesar dessas inovações, pastores entrevistados pela Revista Comunhão reforçam que a fidelidade à Bíblia permanece como critério inegociável para uma formação teológica saudável. Eles afirmam que, assim como em outros momentos da história a teologia dialogou com a ciência ou com a globalização, hoje é necessário refletir com discernimento sobre a realidade digital que influencia as novas gerações.

Antes e depois das redes sociais

O pastor Wagner Scatamburgo, professor da Faculdade Evangélica de São Paulo (FAESP), avalia que a formação pastoral entrou em um novo ciclo, dividido em dois momentos distintos: antes e depois das redes sociais — agora somadas à presença da inteligência artificial.

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“Antigamente, os pastores buscavam conhecimento bíblico com o propósito de edificar a fé da igreja, estruturando-a doutrinária e espiritualmente”, afirmou Scatamburgo. Ele observa que, no cenário atual, o conhecimento bíblico tem sido usado por alguns como ferramenta de performance digital. “Hoje, muitos utilizam esse conhecimento como forma de performance, buscando seguidores e relevância digital.”

Na avaliação do docente, parte da liderança cristã passou a priorizar objetivos pessoais, em vez de se dedicar à missão bíblica de evangelização. “A intenção era ganhar almas para Cristo, mas muitos buscam associados para seus próprios interesses, como vemos em Atos 8.18-20”, declarou.

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Seminários esvaziados

Outro ponto destacado por Scatamburgo é o esvaziamento dos seminários teológicos. Com o fácil acesso a conteúdos prontos — oferecidos por aplicativos e mecanismos de IA — muitos líderes têm deixado de investir tempo em estudo bíblico e oração.

“Adotam um modelo mais próximo do coaching motivacional e negligenciam a suficiência das Escrituras, como Paulo adverte em 2 Timóteo 4.10-15”, alertou o professor.

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Segundo ele, algumas instituições têm revisado seus currículos para incluir disciplinas que abordam a realidade digital, como ética pastoral nas redes sociais. No entanto, ele reforça que essa atualização deve vir acompanhada de um compromisso inegociável com a Bíblia. “O alcance virtual é significativo, mas é preciso preparo para que se promova o Reino de Deus, e não apenas visibilidade pessoal.”

Cursos sem vínculo confessional

O pastor Acyr de Gerone Junior, doutor em teologia, membro da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) e professor na Faculdade Vitória em Cristo, no Rio de Janeiro, também expressou preocupação com a formação teológica nos dias atuais. Ele observa um crescimento no número de cursos disponíveis, mas aponta que muitos deles carecem de compromisso com a fé cristã.

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“Há faculdades ofertando teologia sem nenhum vínculo com a Bíblia, a igreja ou a ortodoxia. Muitos desses cursos priorizam disciplinas estratégicas ou genéricas e oferecem pouco conteúdo bíblico ou sistemático”, afirmou.

Embora reconheça o valor dos recursos tecnológicos no ensino, Acyr defende que a centralidade do conteúdo bíblico deve ser mantida. “Não podemos confundir forma com conteúdo. A formação teológica precisa priorizar a profundidade bíblica. O ideal é que a tecnologia sirva como apoio, não como substituto do ensino sério e fiel à Palavra.”

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Entre a fidelidade e a inovação

Ao refletir sobre os rumos da formação pastoral, Acyr citou o teólogo britânico John Stott: “Precisamos ouvir a Deus e ouvir o mundo”. Para ele, a frase sintetiza o desafio de manter o equilíbrio entre a fidelidade à revelação bíblica e a sensibilidade para compreender os dilemas do presente.

“Parafraseando Stott, precisamos de fidelidade a Deus sem perder nossa capacidade de compreender e responder ao mundo contemporâneo”, concluiu o pastor.

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A discussão sobre o papel da IA na teologia continua em aberto, mas entre os líderes ouvidos, permanece a convicção de que “o servo de Deus deve manejar bem a Palavra da verdade” (2 Timóteo 2.15), mesmo em tempos de avanços tecnológicos e mudanças culturais rápidas.

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