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estudos bíblicos

O exílio de Davi

Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 8 do trimestre sobre “O Governo Divino em Mãos Humanas – Liderança do Povo de Deus em 1º e 2º Samuel”.

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Caverna. (Foto: Ksenia Kudelkina / Unsplash)

A vida não foi só de glórias para Davi após sua vitória contra o gigante filisteu Golias. Como dissemos no estudo passado, ele não assumiu o trono de imediato após a unção recebida na casa de seu pai Jessé. Ali era só o começo de uma longa jornada – de muitas aflições! – rumo ao trono que Deus separara para Davi.

Davi foi sendo preparado por Deus em meio à perseguições, ameaças e exílios. Como bem disse o teólogo Payne, “o soldado bem-sucedido havia se tornado um fugitivo bem-sucedido”. Hoje estudaremos parte desse contexto, conforme registro de 1 Samuel 22, quando Davi fugia de Saul para proteger sua vida e de sua família.

I. As características do exílio de Davi

1. A caverna de Adulão

As ameaças do rei Saul contra Davi têm início no capítulo 18 de 1Samuel, quando o ciúme e a inveja do rei moveram-no em campanha contra o jovem guerreiro para mata-lo. Com o cântico das mulheres que declamavam a vitória de Davi sobre “dez milhares”, ao passo que Saul tinha matado “milhares” (v. 7), e acrescentando-se o fato de o Espírito de Deus já haver se apartado do monarca de Israel, o coração de Saul enche-se de um ódio descontrolado e de um terrível desejo homicida.

Conforme registram os capítulos 19 e 20 de 1Samuel, buscando salvar sua pele, Davi põe-se em fuga, contando com a ajuda do próprio filho de Saul, Jônatas, cujo coração estava mui apegado a Davi, e também conta com a benção do profeta Samuel.

Em seguida (capítulo 21), Davi vai até Nobe, que certamente era agora o centro religioso de Israel, onde estava o tabernáculo do Senhor, e, querendo ocultar sua real intenção que era fugir de Saul, engana o sacerdote Aimeleque, dizendo-se estar ao encargo de uma missão secreta do rei. Ali, o medo e a insegurança de Davi falaram mais alto do que sua confiança em Deus para protege-lo, e tal atitude custará mais à frente a vida do próprio sacerdote que foi enganado por Davi, bem como de todos os outros sacerdotes do Senhor e suas respectivas famílias, com exceção de um que conseguiu escapar.

Ainda neste capítulo, vemos Davi fugir para o território filisteu, o que demonstra ousadia impensada de sua parte. Afinal, o que Davi, portando a espada do gigante filisteu que ele vencera outrora, esperava receber em território filisteu? Percebendo que corria perigo quando sua identidade foi descoberta, Davi lança-se ao ridículo, e passa a agir como um louco diante do rei de Gate, que finalmente ordena que o “doido” seja afastado de sua presença e mandado embora dali. Nessa ocasião, Davi revelou uma inusitada habilidade para as artes cênicas! Mas não fosse por uma superstição dos filisteus, Davi estaria em “maus lençóis”. DeRothschild explica que Davi sabia muito bem “que os loucos eram considerados invioláveis, feridos pela Divindade, mas, ao mesmo tempo, protegidos por ela”[1].

Após esse episódio digno de uma teledramaturgia, finalmente chegamos ao capítulo 22 de 1Samuel, onde novas fugas de Davi são registradas, agora, porém, não mais sozinho, senão acompanhado de seus parentes e de outros tantos homens que a ele se juntaram. São tantos os exílios de Davi, registrados no primeiro livro de Samuel, que este livro bem poderia ser intitulado “Livro das Fugas de Davi”. É o livro bíblico em que há a maior incidência do verbo fugir (hb. nuwc): dez ocorrências ao total.

Depois que Davi escapou dos filisteus em Gate, ele escondeu-se numa caverna em Adulão, cidade que distava 15 Km a sudeste de Gate e 24 Km a sudoeste de Jerusalém. Segundo apontam os comentaristas bíblicos, foi durante esse isolamento na caverna que Davi escreveu os Salmos 57 e 142, que são orações dirigidas a Deus, suplicando por sua proteção e providência, como se vê nesses versos em destaque:

“Tem misericórdia de mim, ó Deus, tem misericórdia de mim, porque a minha alma confia em ti; e à sombra das tuas asas me abrigo, até que passem as calamidades… A minha alma está entre leões, e eu estou entre aqueles que estão abrasados, filhos dos homens, cujos dentes são lanças e flechas, e a sua língua espada afiada. Sê exaltado, ó Deus, sobre os céus; seja a tua glória sobre toda a terra. Armaram uma rede aos meus passos; a minha alma está abatida. Cavaram uma cova diante de mim, porém eles mesmos caíram no meio dela” (Sl 57.1,4-6).

“Quando o meu espírito estava angustiado em mim, então conheceste a minha vereda. No caminho em que eu andava, esconderam-me um laço. Olhei para a minha direita, e vi; mas não havia quem me conhecesse. Refúgio me faltou; ninguém cuidou da minha alma. A ti, ó Senhor, clamei; eu disse: Tu és o meu refúgio, e a minha porção na terra dos viventes” (Sl 142.3-5).

2. Os exilados da caverna de Adulão

Davi que até então era um fugitivo solitário, em Adulão recebeu a sua família e cerca de quatrocentos homens que vieram até ele, colocando-se voluntariamente sob sua liderança.

Os pais e irmãos de Davi certamente vieram a ele temendo as ameaças de Saul, que não poupara de agressão nem o seu próprio filho Jônatas, que dirá os familiares daquele a quem o rei constituíra sem razão seu arqui-inimigo!

Quanto aos quatrocentos homens, dada a forma como o autor bíblico os descreve, eles certamente fugiam de alguma opressão e privação econômica que o impiedoso rei pudesse vir a lhes impor. Eram “homens que se achavam em aperto, e todo homem endividado, e todos os amargurados de espírito” (1Sm 22.2).

Davi, que já se encontrava em aflição devido as ameaças de morte, agora teria ainda a árdua tarefa de proteger seus parentes e encorajar os homens que se juntaram a ele. O homem que precisava de proteção, deveria fazer-se protetor; o homem que precisava ser encorajado, deveria fazer-se encorajador! São as ironias de Deus para forjar em Davi o espírito de liderança, e transformá-lo no mais importante rei de Israel que aquele jovem viria a ser alguns anos depois. As palavras de Paulo traduzem muito bem esses momentos desafiadores de um líder espiritual: “Como contristados, mas sempre alegres; como pobres, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo, e possuindo tudo” (2Co 6.10).

Você já viu em situação semelhante? Estando em necessidade, mas tendo que repartir com outros em maior necessidade? Estando em angústia, mas incumbido de consolar outros? Se sentindo fraco, mas tendo que encorajar outros? Nestas situações Deus nos ensina ao menos duas grandes lições: (1) não somos as únicas pessoas com problemas no mundo; (2) na medida em que nos doamos aos outros, ainda que nós mesmos estejamos necessitados, Deus provê para nós o milagre que precisamos.

3. O simbolismo da caverna de Adulão

Dissemos no estudo da Lição passada que Davi é um tipo de Cristo, isto é, alguém cujo caráter e obras prefiguram, ilustram e apontam no Antigo Testamento para o caráter e as obras de Jesus no Novo Testamento.

De fato, em Adulão vemos que ao reunir sua família e outros muitos homens falidos e abatidos para protege-los e encorajá-los, Davi estava apontando para Jesus Cristo, aquele que amorosamente chamou a si “todos os que estavam cansados e oprimidos”, prometendo-lhes dar descanso (Mt 11.28,29).

Como os fugitivos de Saul que já não suportavam mais seu governo apóstata e fugiram para o esconderijo de Davi, assim devem os pecadores fugirem da opressão do tirânico dominador do reino das trevas e se abrigarem sob as asas do bom Salvador Jesus, onde podem viver os “tempos do refrigério” (At 3.19). Jesus é o nosso “esconderijo do Altíssimo” (Sl 91.1), onde encontramos descanso para as nossas almas, não mais vivendo sob o fardo do pecado.

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Casado, bacharel em teologia (Livre), evangelista da igreja Assembleia de Deus em Campina Grande-PB, administrador da página EBD Inteligente no Facebook e autor de quatro livros.

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