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estudos bíblicos

O que a Bíblia diz sobre direitos humanos?

Origem dos direitos humanos e sua relação com a Bíblia e com a igreja.

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Pessoas unem suas mãos (Perry Grone / Unsplash)

A Igreja e os direitos humanos

Qual a posição e os deveres da Igreja em relação aos temas dos direitos humanos? Vejamos:

Assistência às viúvas (Ex 22.22; 1Tm 5.3; Tg 1.27). Foi em virtude da necessidade das viúvas, que surgiu o ofício do diaconato na igreja (Atos 6). A primeira carta de Paulo a Timóteo sugere que havia um programa robusto de assistência às viúvas (1Tm 5). Como está o programa de assistência social de sua igreja? E o quanto nós, individualmente, temos contribuído para garantir que os direitos das viúvas, que são “verdadeiramente viúvas”, sejam respeitados?

Assistência aos órfãos (Ex 22.22; Pv 23.10,11; Is 1.17). Aos meninos e meninas que perderam seus pais, vitimados por guerras, crimes, acidentes, doenças ou desastres naturais, que estamos fazendo nós? Estamos tomando parte no serviço social, exercendo dons de socorro e misericórdia (Rm 12.8; 1Co 12.28) para com os pequeninos, ou estamos a exemplo dos discípulos (Lc 18.15), pensando erradamente que crianças não são um interesse do Senhor? A Escola Dominical no século 18 em Gloucester, Inglaterra, nasceu quando um jornalista congregacional, Robert Raikes, resolveu fazer mais que noticiar fatos, e oferecer às crianças que viviam largadas nas ruas nos dias de domingo (não só órfãs, mas também crianças que tinham pai e mãe) um pouco de instrução cívica, moral e religiosa. Nascia ali o maior movimento de ensino gratuito regular no mundo, e que dura até hoje, ainda que com características quase que exclusivamente religiosas (mas não sem implicações em outras áreas da vida), a nossa Escola Dominical! Como nosso irmão Raikes, podemos fazer muito mais do que ficar trancados em quatro paredes e ir em busca dos que estão lá fora, debaixo das pontes, jogados nas ruas, inclusive nos vícios e nas drogas.

Socorro aos pobres (Ex 22.25,26; Am 5.11; Gl 2.10). Nosso Deus não faz acepção de pessoas (Rm 2.11), e nos ordena que também não façamos (Tg 2.1). A Palavra é contundente: “se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado” (Tg 2.9). A igreja não precisa abandonar a oração e a pregação da Palavra para servir às mesas dos pobres, como se fosse correta a substituição da chamada espiritual pela ocupação na provisão material dos pobres. Não! Antes, deve, enquanto proclama o Evangelho, também estimular as boas obras de caridade em favor dos que se encontram desassistidos pela família ou pelo poder público. Mesmo igrejas pentecostais não precisam esperar que em toda necessidade Deus intervenha por meio de um milagre para socorrer a quem precisa, pois ele já nos ordenou: “Lança o teu pão sobre as águas… reparte com sete e ainda com oito…” (Ec 11.1,2). Não podemos em nome da fé negligenciar o amor – o que seria uma grande contradição e hipocrisia. No sermão O médico dos médicos, pregado em 1878, o famoso pregador inglês Charles Spurgeon, disse palavras que cabem muito bem aqui:

“Seria lastimável se se considerasse que a benevolência está separada do cristianismo, porque até agora a coroa da fé em Jesus tem sido o amor aos homens; é realmente, a glória do cristianismo que, onde ela penetrar, levanta prédios totalmente desconhecidos ao paganismo – hospitais, asilos e outras habitações de caridade. O gênio do cristianismo é compaixão pelos pecadores e por aqueles que sofrem. Que a igreja sirva para curar, assim como seu Senhor; se ela não pode derramar poder a partir de um toque na orla da sua veste, nem ‘dizer uma palavra’ para afugentar a enfermidade, que ela esteja entre os mais dispostos a ajudar em tudo quanto possa aliviar a dor ou mitigar a pobreza”

Assistência aos encarcerados (Mt 25.36; Hb 13.3). Primeiro, assistência aos nossos irmãos em Cristo, presos em países hostis ao Evangelho “por causa da palavra de Deus, e pelo testemunho de Jesus Cristo” (Ap 1.9). A Bíblia prevê que socorramos primeiro aos domésticos da fé (Gl 6.10). Mas também, devemos estender a mão de compaixão aos que não conhecemos, como o samaritano que socorreu o homem caído ao chão, sem se importar de onde ele era. Este é um assunto amargo, pois numa época em que a insegurança pública tem custado à sociedade brasileira a violência urbana e a morte de milhares de pessoas todos os anos, quase sempre desejamos impulsivamente o pior fim possível para os criminosos. Entretanto, ressalto, “o amor é benigno”, como diria Paulo. Os ninivitas, na ótica do profeta Jonas, deveriam morrer sem compaixão, devido as muitas atrocidades por eles cometidas contra outros povos. Mas a Deus agradou estender seu braço gracioso e conceder perdão àquela gente. Não deseja fazer o mesmo hoje em favor dos que estão presos? Oremos por eles e levemos a eles o Evangelho que pode de fato e de verdade ressocializá-los e fazê-los mais que cidadãos de bem, cidadãos dos céus! Este foi o compromisso assumido no século 18 por aqueles jovens ingleses apelidados de “O Clube Santo”: John Wesley, Charles Wesley e George Whitefield. Eles oravam juntos, liam a Bíblia juntos, pregavam o Evangelho ao ar livre, mas também visitavam os encarcerados para levar-lhes a mensagem de salvação. Segundo o teólogo Don Thorsen, “Wesley promoveu evangelismo, missões, e vários ministérios sociais. Além de criar escolas e orfanatos para crianças, ele advogou e prol da reforma presidiária e a abolição da escravatura” (2). Imitemos o que é bom!

Hospitalidade com os estrangeiros (Ex 22.21; Mt 25.35). O mundo vive em nossos dias uma verdadeira crise de imigração. Fugitivos de guerras civis no oriente médio e em países do continente africano buscam refúgio em países europeus ou americanos. Todos os dias os telejornais informam de uma embarcação que afundou nalgum oceano do planeta, enquanto dezenas de pessoas tentavam refugiar-se em outro país onde não há guerra. A igreja deve olhar para essas multidões com a mesma compaixão com que Cristo olhou para as multidões em sua volta, “porque andavam como ovelhas sem pastor” (M 6.34). Devemos orar e estender a mão de auxílio a quem nos pedir, pois independente de cor de pele, etnia e classe social, são nossos semelhantes, que também precisam de um abrigo e de descanso.

Proteção às mulheres (Ef 5.25; 1Pe 3.7). Jesus foi certamente a pessoa em toda Bíblia que mais conferiu dignidade às mulheres: nasceu de uma pobre virgem de Nazaré; conversou publicamente com uma mulher samaritana; deixou-se ungir por uma mulher pecadora; frequentava regularmente a casa de Maria e Marta; foi ajudado por mulheres ricas; esteve assistido em sua morte por mulheres que lhe acompanharam desde o início de seu ministério; foi visto ressurreto primeiramente por mulheres, e derramou seu Espírito Santo também sobre muitas mulheres, com vistas a também capacitá-las para a maravilhosa obra de Deus! Ao marido é ordenado amar sua esposa sacrificialmente, e também aos homens é advertido não maltratarem suas mulheres, sob pena de terem suas orações interrompidas. Longe de propor uma cultura opressora e machista, embora ressalte o papel de liderança masculina no lar e na igreja (o que não impede a mulher de ter relevante papel na família, na sociedade e na obra do Senhor), a Bíblia enaltece a posição e a função da mulher na família, na igreja e na sociedade! De tal modo que “a mulher sábia edifica a sua casa” (Pv 14.1a)

Educação dos filhos (Pv 22.6; Ef 6.4). Tanto na Declaração Universal dos Direitos Humanos como na própria Bíblia, encontramos enfatizado o direito proeminente da família sobre o Estado, bem como sua obrigação na educação moral e religiosa dos filhos. Senão vejamos:

“Os pais têm um direito preferencial para escolher o tipo de educação que será dada aos seus filhos” (Declaração Universal dos Direitos Humanos, Artigo 26, n° 3)

“E vós, pais, não provoqueis à ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor” (Efésios 6.4)

Aliás, diga-se de passagem, que o trecho “vós, pais, não provoqueis à ira a vossos filhos” também já expressa indiretamente o direito das crianças, tão reivindicado hoje no Estatuto da Criança e do Adolescente. Embora tenha direito de repreender e disciplinar os filhos, nenhum pai tem o direito de provocar-lhes à ira, tratando-os com desrespeito e truculência!

Trabalho remunerado justamente e respeito na relação patrão-empregado (Ef 6.9; 1Tm 5.18; Tg 5.14). É óbvio que a Bíblia não tem a pretensão de estabelecer a regulamentação do trabalho, inclusive mesmo nos dias do Novo Testamento ainda vemos a prática não totalmente abolida de escravatura (veja-se a carta de Filemon, por exemplo). Todavia, não só a relação senhor e escravo, como também a relação patrão e empregado, devem obedecer rigorosamente princípios bíblicos, de tal modo que o trato humanizado, justo e digno seja conferido ao servo/funcionário e o serviço prestativo, respeitoso e fiel seja oferecido ao senhor/patrão (1Pe 2.18,19; 1Ts 4.6)

REFERÊNCIAS

(1) Abraão de Almeida. Teologia Contemporânea: a influência das correntes teológicas e filosóficas na Igreja, ed. ampl. (RJ: 2002), CPAD, p. 317, grifo meu

(2) Don Thorsen. Calvino versus Wesley: duas teologias em questão, Carisma, p. 28.

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Casado, bacharel em teologia (Livre), evangelista da igreja Assembleia de Deus em Campina Grande-PB, administrador da página EBD Inteligente no Facebook e autor de quatro livros.

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