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Pastor preso no Quirguistão sob acusações contestadas denuncia tortura

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Pastor preso no Quirguistão sob acusações contestadas denuncia tortura

O pastor Pavel Shreider, de 65 anos, da Igreja Adventista do Sétimo Dia Verdadeira e Livre Reformada, permanece em prisão preventiva em Bishkek, capital do Quirguistão, enquanto aguarda o desfecho de um processo criminal no qual é acusado de “incitação à inimizade racial, étnica, nacional, religiosa ou regional”. A audiência decisiva está marcada para esta quinta-feira. Caso condenado, ele poderá cumprir pena de seis a sete anos de prisão.

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Segundo informações divulgadas pelo grupo de direitos humanos Fórum 18, o pastor foi preso em 13 de novembro de 2024, por volta das 8h, ao sair de sua casa nos arredores da capital. Agentes do Serviço de Segurança Nacional (NSC) o algemaram e o levaram ao prédio do órgão, onde ele afirma ter sido agredido fisicamente. Em queixa formal enviada ao Centro Nacional para a Prevenção da Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, posteriormente rejeitada, Shreider relatou: “Recebi pancadas na cabeça, no peito e chutes na coluna por trás, vindos de cinco policiais”. Ele acrescentou que os agentes o atingiram com um cano de ferro a fim de forçá-lo a confessar crimes que afirma não ter cometido.

Ainda de acordo com o Fórum 18, os policiais obrigaram médicos a assinarem documentos afirmando que o pastor não havia relatado maus-tratos, e utilizaram uma arma de choque elétrica em um membro da igreja, Igor Tsoy, com o objetivo de coagi-lo a incriminar Shreider. Tsoy teria se recusado, apesar de sofrer “múltiplos ferimentos”, e foi libertado no mesmo dia.

O julgamento de Shreider teve início em 17 de abril. Seu advogado, Akmat Alagushev, afirmou ao Fórum 18 que a acusação não apresenta provas concretas nem nomes de supostos cúmplices: “Não há uma única referência na acusação às pessoas em conluio com as quais Shreider supostamente cometeu os crimes mencionados, e nenhuma referência a quaisquer nomes específicos”. Segundo Alagushev, também não foi apresentada evidência de ações ilegais por parte do pastor “na mídia, na internet, publicamente ou de outra forma”.

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A filha do pastor, Vera Shreider, relatou que visitou o pai na prisão no dia 21 de maio. “Ele está bem fisicamente”, declarou, acrescentando que a família tem autorização para fornecer alimentos e remédios. “Ele foi examinado por vários médicos recentemente, após nossos inúmeros telefonemas para diversas autoridades. A comida na prisão é normal. Ele consegue ler a Bíblia, que guarda na cela, e tem permissão para orar.”

A prisão de Shreider envolveu nove agentes, conforme apuração do Fórum 18. Entre eles, foram identificados Siymik Bolotov, investigador da polícia secreta do Conselho Nacional de Segurança; Azim Kurmanbekov, do Ministério do Interior; e dois policiais armados do Destacamento Especial de Polícia. Segundo Vera, “tocaram a campainha da nossa porta e, quando abrimos, entraram com meu pai algemado”. Ela afirmou ainda que os agentes impediram qualquer comunicação com o pastor, confiscaram os celulares da família e negaram o acesso ao advogado.

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Após a detenção, o pastor foi levado algemado a um prédio utilizado para cultos na vila de Lenin, no distrito de Alamudun, região de Chuy. No mesmo dia, a casa de um parente, Pavel Yantsen, e as residências de outros nove membros da igreja foram revistadas. Foram apreendidos mais de 2.000 livros — incluindo cerca de 200 obras de Ellen White e pelo menos 50 Bíblias —, além de computadores, equipamentos eletrônicos, dinheiro, documentos e veículos. Os itens foram posteriormente devolvidos, exceto um celular, declarado como perdido, e os livros, que seguem retidos como evidência.

A Igreja Adventista do Sétimo Dia Verdadeira e Livre Reformada, da qual Shreider é líder, integra o chamado Movimento de Reforma, surgido durante o período soviético. Um de seus líderes históricos, Vladimir Shelkov, morreu em um campo de trabalho em 1980. A igreja não possui registro oficial junto às autoridades do Quirguistão, o que, segundo a legislação local, a torna ilegal.

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Um membro da comunidade, que pediu anonimato por receio de represálias, declarou ao Fórum 18: “Desde 2022 as autoridades estavam considerando fechar nossa igreja e buscando desculpas”. Ele afirmou ainda que o caso contra o pastor é “fabricado” e faz parte de uma tentativa mais ampla de criminalizar a liderança e os fiéis. Em 2021, um processo foi aberto contra dois membros da igreja, sob a alegação de que teriam manipulado uma senhora idosa a vender sua casa, supostamente sob orientação de Shreider.

Segundo relatos, o material apreendido na operação de 2024 tem sido utilizado como evidência no caso atual. O Fórum 18 relatou que diversas autoridades foram contatadas para responder às alegações de prisão arbitrária e tortura, mas não houve retorno.

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O Quirguistão é signatário da Convenção das Nações Unidas contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, tratado que exige a investigação imediata e imparcial de qualquer denúncia de maus-tratos por parte do Estado.

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