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estudos bíblicos

Vivendo com a mente de Cristo

Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 14 do trimestre sobre “A obra da salvação”

em

Cérebro. (Raman Oza por Pixabay)

Chegamos ao final de mais um trimestre, e não só isso, mas ao final de um ano!

Nesta última Lição, nos distanciaremos um pouco das demais Lições estudadas ao longo deste trimestre – todas elas dentro da Soteriologia –, e, como um bônus para este trimestre que foi mais comprido, estudaremos um tema importante, dentro do comportamento cristão: vivendo com a mente de Cristo.

I. PEREGRINOS NESTA TERRA

– Tendo a mente de Cristo quanto a transitoriedade da vida terrena

Ser cristão tem duas facetas: CRER em Cristo e VIVER como Cristo. As duas coisas são inseparáveis na construção de uma verdadeira identidade cristã. São duas faces de uma mesma moeda. Buscar viver como Cristo, sem, no entanto, crer nele como único e suficiente Salvador, Filho de Deus encarnado e ressurreto, desembocará cedo ou tarde num falso moralismo; mas crer em Cristo, sem ter o real interesse de seguir os passos dele, é um grande contrassenso. Na verdade, tal fé se demonstrará, cedo ou tarde, uma grande farsa! O verdadeiro cristão é aquele que creu em Cristo para salvação, e que segue os passos de Cristo para sua santificação – “sem a qual ninguém verá a Deus” (Hb 12.14).

Cristo viveu abnegadamente. Sua abnegação começou no céu quando ele, na eternidade por nós desconhecida, determinou despir-se de sua majestade celestial, para assumir a limitada forma humana e padecer tentações, perseguições, experiências humanas de dor, enfado e tristeza, e, sobretudo, os horrores do Calvário quando foi “ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades” (Is 53.5). Mas Cristo já sabia que, para além da cruz e da tumba, lhe estava proposto um gozo (Hb 12.2). Cristo via além do Calvário; de tal modo que ele já orava por aqueles que lhe seriam dados pelo Pai, através da fé, como frutos de seu penoso trabalho, e por estes ele já orava há dois mil anos (Jo 17.20). Cristo já sabia que sua vida terrena seria transitória, a despeito de sua forma humana ser carregada com ele para sempre após a encarnação. “Céus e terra passarão”, disse o nosso Senhor (Mt 24.35) – aí está revelada de modo mais contundente a transitoriedade da vida terrena. Não deveríamos, sabendo disso, prepararmo-nos para a eternidade que nos espera do outro lado do véu?

Cristo não construiu aqui casa permanente. Alguém sabe dizer com precisão o endereço em que Jesus morou? Onde está a sua manjedoura em Belém? E sua casa em Nazaré onde passou a infância? E sua casa na beira-mar em Cafarnaum onde viveu sua juventude? Salomão, rei de Israel, construiu para si um luxuoso palácio, que impressionou reis de grandes nações em sua época; mas Jesus, o Rei dos reis, não construiu nenhum palacete para si aqui nesta terra. “O Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça”, disse ele (Lc 9.58). Não deveríamos nós, tendo a mente de Cristo, começar a refletir sobre nossos empreendimentos aqui nesta vida? Sobre o quanto nos gastamos para erigir patrimônios e bens que sequer poderão ser desfrutados? Falta-nos a consciência de peregrinos! Falta-nos perceber que “não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura” (Hb 13.14). Aliás, quantos há que recusam veementemente deixar o conforto de suas casas para fazer a obra do Senhor em terras distantes e sofridas, simplesmente porque não querem queimar a pele sob o calor do sol, nem querem ofuscar o brilho de sua maquiagem ou perder os finais de semana na piscina? As palavras do profeta Ageu caem bem para os que assim se portam, desprezando a obra do Senhor e alimentando um profundo cuidado por seus interesses pessoais: “Acaso é tempo de vocês morarem em casas de fino acabamento, enquanto a minha casa continua destruída?” (Ag 1.4)

Peregrino não constrói casa permanente, antes habita em tendas ou em hospedarias, pois sabe que “só está de passagem”. É óbvio que isto não significa que crente não deva construir casa de alvenaria ou desfrutar de algum conforto, antes significa que não deve colocar nestas coisas seu coração, nem se cansar para acumular bens, em detrimento do amor e da partilha que deve manifestar para com o seu próximo. Já dizia Salomão: “Não esgote suas forças tentando ficar rico; tenha bom senso! As riquezas desaparecem assim que você as contempla; elas criam asas e voam como águias pelo céu” (Pv 23.4,5). É em razão da transitoriedade desta vida presente que “os que usam as coisas do mundo, [devem agir] como se não as usassem; porque a forma presente deste mundo está passando” (1Co 7.31). É lamentável que os peregrinos de Cristo briguem por pedaços de terra, por paredes de tijolos, por cargos e posições, por dinheiro e poder, quando todas estas coisas estão fadadas à falência! “Os céus desaparecerão com um grande estrondo, os elementos serão desfeitos pelo calor, e a terra, e tudo o que nela há, será desnudada”, adverte-nos o apóstolo Pedro (1Pe 3.10). E em seguida ele instrui como peregrinos devem se portar em sua jornada: “Visto que tudo será assim desfeito, que tipo de pessoas é necessário que vocês sejam? Vivam de maneira santa e piedosa, esperando o dia de Deus e apressando a sua vinda” (2Pe 3.11,12).

“Meu reino não é deste mundo”, disse Jesus. Afinal, “o mundo passa” (1Jo 2.17). Sim, haverá um reino de Cristo ainda nesta terra, mas não é um reino que parte dos homens, não será fruto de eleição nas urnas, nem por votação da ONU (Organização das Nações Unidas). O reino milenar de Cristo virá do céu, conforme determinado pelo Pai, e terá em Jerusalém a sua capital mundial. No reino milenar de Cristo, cumprir-se-á em maior medida o anseio expresso na oração modelo: “…venha a nós o teu reino” (Mt 6.10). O reino que hoje é espiritual e já está entre nós (Lc 17.21) será um reino visível e material, onde o “filho de Davi” governará sobre tudo e sobre todos. Mas não poucos estão procurando o reino que é deste mundo, o reino dos homens, o reino político, o reino das barganhas, das negociatas, das transações ilícitas, da lavagem de dinheiro, do acúmulo indevido de poder! Mas não devem se comportar assim aqueles que têm a mente de Cristo, pois sobre os tais nosso Senhor tem dito: “Não são do mundo, como eu do mundo não sou” (Jo 17.16).

A um homem que buscava juntar cada vez mais dinheiro e bens para sua satisfação pessoal, ignorando que a vida aqui tem prazo de validade, Deus lhe disse: “Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?” (Lc 12.20). Esta palavra não está na Bíblia por acaso. Cristo deseja que seus discípulos reflitam muito sobre onde eles têm colocado seu coração. Às vezes nos gastamos tanto em estudos, em formações profissionais, em trabalhos, e esgotamos nossas forças e saúde nestas coisas, mas nos esquecemos de nutrir nossa alma, moldá-la à estatura de Cristo e prepara-la para o encontro com Deus, que pode ser dar a qualquer momento. Conta-se que em tempos antigos, certo rei, sucumbindo em meio à enfermidade que o levava para morte, chamou o bobo-da-corte para entretê-lo e tentar aliviar suas dores e tormentos. O bobo-da-corte aproximou-se e antes de começar suas peripécias fez a seguinte pergunta: “Meu rei, o senhor se preparou para a eternidade?”, ao que o rei respondeu: “Eu nem tive tempo de pensar nisso”. O bobo-da-corte retirou o chapéu de sua cabeça e pôs sobre a cabeça do rei, dizendo-lhe: “Meu rei, o senhor é o verdadeiro bobo aqui”.

A morte chega e pega-nos de surpresa, quando já é tarde para reaver o tempo desperdiçado! O mundo pode tratar estas pessoas que consumiram cada minuto de suas vidas em busca de bens, luxo e fama como “heróis”, “esforçadas”, “supertalentosas”, “ricas”, “poderosas”, “estrelas” e – para usar um termo que está se popularizando – “empoderadas”. Entretanto, Deus as vê como “loucas”! Mas quem tem a mente de Cristo não sofre desta loucura. Tens a mente de Cristo, meu irmão?

– Tendo a mente de Cristo quanto ao padrão de vida que devemos viver aqui

Não só da transitoriedade da vida devemos ter consciência, mas também do padrão de vida que devemos demonstrar enquanto peregrinamos aqui. É preciso deixar claro que os peregrinos de Cristo não são “sem-terra”, pois eles têm uma terra, que já lhes está garantida e da qual eles tomarão posse no porvir: “novos céus e nova terra, onde habita a justiça” (2Pe 3.13). O movimento sem-terra no Brasil, por exemplo, tem sido marcado por desrespeito à propriedade privada, invasões, e brigas violentas, que tem enchido os noticiários policiais. Definitivamente a agenda do MST não coaduna com o Evangelho de Jesus Cristo, que jamais sugeriu apropriação de bens com uso de força, mas pela força do trabalho honesto e digno!

Os peregrinos de Cristo devem viver de modo exemplar, afinal são “o sal da terra e a luz do mundo” (Mt 5.13,14). Eles devem temperar a vida aqui, para que ela não caia em total degeneração. Devem, como dizia Myer Pearlman, preservar os bons valores morais e a boa conduta na sociedade. Devem dissipar as trevas da ignorância, conduzindo com a pregação evangélica e com o testemunho santo muitas almas para Deus!

No sermão do monte (Mateus 5-7) temos um resumo dos valores éticos do reino de Deus. O salvo deve olhar para este sermão e ver uma radiografia de sua vida! Caso não veja, deve encontrar a parte deficiente, para corrigi-la, e ajustá-la em conformidade com a Palavra de Deus. Humildade, empatia, justiça, misericórdia, pureza, paz, resiliência… são algumas bem-aventuranças do reino de Deus que Cristo compartilha com os seus seguidores. A mente do cristão deve assimilar esta cultura do céu, em oposição à cultura dominante neste mundo, onde impera: “a cobiça dos olhos, a cobiça da carne e a soberba da vida” (1Jo 2.16). Ele está proibido de se conformar (se ajustar) com as injustiças, ganâncias, disputas, violências, sensualidades e outros comportamentos mundanos, pois “não recebemos o espírito do mundo” (1Co 2.12); antes deve apresentar-se a Deus como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, já que ele teve sua mente renovada (Rm 12.2) por meio do “Espírito que provém de Deus” (1Co 2.12).

No padrão de vida do cristão não cabe: “imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes” (Gl 5.19-21). Os que têm a mente de Cristo não abrigam estes sentimentos e comportamentos perversos, pois Cristo “não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano” (1Pe 2.22). Ter a mente de Cristo é viver como Cristo, em pureza!

Como diz o apologista Ravi Zacharias, o amor é a ética suprema do universo. Cristo amou os pecadores, mesmo aqueles que lhe aborreciam. Por isso, assim se reconhece os que têm a mente de Cristo: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13.35). O amor é o carro-chefe do fruto do Espírito (Gl 5.22) e é o caminho excelente para a experiência correta dos dons espirituais (1Co 12.31 – 13.1-13). O apóstolo João, conhecido como o apóstolo do amor, diz que “quem não ama seu irmão, não é de Deus” (1Jo 3.10).

Foi por amor que Cristo despiu-se de sua glória celestial, para viver cerca de 33 anos aqui nesta terra, afim de vestir de glória eterna os pecadores que nele cressem e leva-los ao céu. Paulo diz que devemos ter o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, o sentimento de abnegação, de empatia e amor pelo próximo: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (Fp 2.3-5).

Quem tem a mente de Cristo não vive sensualizando nas redes sociais, com roupas curtas, justas e decotadas. Pois a mente de Cristo não coaduna com sensualidade. Quem tem a mente de Cristo não abriga ódio em seu coração nem priva-se de dar perdão ao ofensor, pois Cristo era paciente e benevolente, especialmente com aqueles que humildemente vinham até ele suplicando misericórdia. Quem tem a mente de Cristo é perdoador! Quem tem a mente de Cristo não vive murmurando pelos cantos da parede, antes dá graças ao Pai por tudo, mesmo diante do túmulo, como Cristo que rendeu graças ao Pai na morte de Lázaro, sabendo que uma coisa grandiosa aconteceria em seguida. Quem tem a mente de Cristo transborda de gratidão em toda e qualquer circunstância!

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Casado, bacharel em teologia (Livre), evangelista da igreja Assembleia de Deus em Campina Grande-PB, administrador da página EBD Inteligente no Facebook e autor de quatro livros.

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