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“A liderança atual precisa ter uma gestão mais eficaz das emoções”, diz pastor

Pastor Oseias Santos falou sobre sua saída da CIEPADERGS.

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Pastor Oseias Santos (Foto: Reprodução/Arquivos Pessoais)

Há 25 anos, um jovem com sonhos e uma vontade inabalável de alcançar o mundo para Jesus começou sua jornada no ministério pastoral. Na época, ele vinha de uma longa experiência missionária ao lado dos pais e de um encontro com o Senhor que lhe fez iniciar sua caminhada de fé.

Esse jovem é ninguém menos que o pastor Oseias Santos. Formado em Teologia e uma visão de liderança incomparável, ele foi criado em um lar assembleiano, mas decidiu fazer uma mudança radical em seu ministério.

Pastor Oseias Santos e família (Foto: Reprodução/Arquivos Pessoais)

No último mês, o pastor Oseias decidiu se desligar da Convenção de Igrejas Evangélicas e Pastores da Assembleia de Deus no Rio Grande do Sul (CIEPADERGS), deixando a liderança da Igreja Assembleia de Deus dos Vales, em Gravataí, para fundar a iVales.

Casado há 23 anos e pai de dois filhos, Oseias falou ao Gospel Prime sobre os desafios da liderança e sua saída forçosa da maior denominação evangélica do país.

Em entrevista exclusiva ao Gospel Prime, o pastor fala sobre ministério, vida pessoal e liderança. Leia na íntegra:

Quando aconteceu o seu encontro pessoal com Jesus Cristo?

É muito difícil para quem cresceu na igreja, como no meu caso, tendo pais pastores, determinar o dia exato em que o encontro com Jesus aconteceu. Meus pais foram enviados como missionários para a Colômbia quando eu tinha apenas 7 meses de idade e cresci em um ambiente hostil, com presença de guerrilha.

Mais tarde, voltamos para o Brasil e meu pai foi designado para trabalhar na fronteira com o Uruguai. Eu já estava na pré-adolescência e participava exclusivamente de atividades promovidas pela igreja.

Quando completei 15 anos, meu pai me perguntou se eu gostaria de me batizar. Respondi que me sentia confuso e preferia esperar para ser mais digno do batismo. Sem hesitação, meu pai disse: “você nunca estará pronto nem digno o suficiente!”. Foi um alívio ouvir aquilo e então decidi me batizar.

Depois do batismo, o Espírito Santo passou a me inquietar diariamente para conhecer mais sobre ele. Comecei a buscá-lo com muita vontade até que recebi o Batismo com o Espírito Santo, o que foi um dia inesquecível! Tenho certeza de que foi nesse dia pleno que tive o verdadeiro encontro com Jesus, conduzido pelo doce Espírito.

Como foi o seu chamado para o ministério pastoral?

O exemplo dos meus pais foi um fator chave para despertar o meu chamado. Viver bem de perto a prática e os resultados do exercício da vocação foi ativando cada vez mais o desejo de fazer o que eles faziam. Mas foi na prática, quando comecei as primeiras reuniões nos lares, que tive a certeza de que havia nascido para o ministério.

O senhor se tornou uma grande referência para a nova geração de líderes. A que se deve essa aceitação?

Fui uma criança muito tímida e essa característica me atrapalhou bastante nos relacionamentos. Na adolescência, não tive muitos amigos e vivia uma vida solitária. Apesar da minha casa ser ativa e meus irmãos serem alegres e dinâmicos, a timidez me jogava cada vez mais numa bolha de pensamentos depressivos e suicidas. Não era culpa deles, mas da minha incapacidade de me comunicar bem.

No entanto, algo maravilhoso aconteceu quando ministrei pela primeira vez num grupo familiar e algumas pessoas aceitaram Jesus e começaram a me pedir ajuda. Eram jovens com depressão, timidez e dificuldade em se relacionar socialmente. Esse foi apenas o começo, desde então sou convidado para ministrar para jovens em diversos lugares.

Tenho uma conexão com eles porque sei o que estão pensando e passando. Automaticamente, líderes de várias regiões do Brasil me procuram para mentoria e aconselhamento.

Quais os maiores desafios da liderança?

A liderança atual precisa ter uma gestão mais eficaz das emoções, uma vez que as pessoas estão passando por uma instabilidade emocional sem precedentes. Existem diversos conceitos estabelecidos sobre liderança, tais como inspirar, motivar e conduzir, mas, para mim, liderar sempre foi sentir o pulso das pessoas de perto.

O que significa liderança gestora das emoções e por que é importante para a liderança de hoje?

Cada pessoa possui um jeito único de ver e viver a vida porque foi moldada pelas crenças herdadas dos pais ou cuidadores, da escola, do bairro e do convívio com amigos. Essa peculiaridade deve ser cuidadosamente respeitada pelos líderes, pois existe um padrão comportamental em cada indivíduo a ser observado.

Eu cresci num ambiente intenso de liderança e, por muitas vezes, ouvi algo do tipo: “vassoura nova varre bem”. Ou seja, se alguém foi chamado para liderar, os primeiros dias já dirão se ele é bom ou se ainda não serve. O que ocorre nesse tipo de pensamento é que muitas vezes a pessoa obteve um desempenho satisfatório em uma área e logo é chamada para liderar outra. A expectativa é que o desempenho seja igual ou melhor do que na função anterior, mas o que é desprezado aqui é o perfil de cada pessoa para diferentes tipos de trabalhos e desafios.

Portanto, liderar também é saber lidar com suas próprias emoções e, a partir disso, ajudar as pessoas a se conhecerem e receberem estímulos e ferramentas necessárias para ajustar as emoções para uma vida mais equilibrada.

Nós vivemos uma crise de liderança no Brasil. Como podemos superar essa crise?

Sim, na verdade é uma crise de referências. Não existe uma fórmula mágica para isso. A igreja é a maior modeladora social através das esferas de influência. Saber disso é uma coisa, mover-se nessa perspectiva é o desafio. Não fomos chamados para dominar as pessoas, mas sim para ajudá-las a influenciar o meio onde vivem. Para isso, precisamos entender nossa responsabilidade vocacional e a urgência de expandir a cultura dos Céus na terra.

Qual a importância da igreja na modelagem social e qual é o desafio para liderar nessa perspectiva?

Mateus 5:16 é um dos textos mais claros sobre como a igreja deve se mover na terra. “Para que o mundo veja as vossas boas obras”, diz. Não se trata de caridade, mas sim de um conjunto de verdades com as quais estamos seriamente comprometidos. Todas as grandes campanhas para dominar os povos à partir dos Gregos e Romanos, começaram pela força bélica e terminaram na educação, governo e economia. Os governos tiranos sempre se utilizam das mesmas armas. Assumem a dianteira nas comunicações, restringem o acesso a informação verdadeira, doutrinam e formam professores a partir da ideia marxista sobre sociedade e estado, dividem as pessoas por classes, procuram reduzir a igreja em apenas um grupo de pensamento irrelevante e por fim, tomam o poder com alianças patrocinadas pelo mais alto nível de corrupção. 

A igreja sempre foi precursora de mudanças e reformas estratégicas para as nações. 

A reforma protestante por exemplo, trouxe a dignidade do trabalho, mudou a maneira de ver e tratar economia, ampliou a liberdade do indivíduo, provocou mudanças sérias nas leis, no casamento, na família, entre tantos outros benefícios para o mundo. O papel da igreja continua sendo de resgate e influência nas esferas da educação, da economia, da religião, das artes, nas mídias e entretenimento, da política e da família. 

O maior desafio de liderar com essa perspectiva, é o de sair da redoma da religião e entender que o Evangelho possui duas perspectivas. A primeira é que o Senhor deseja que todos se salvem, essa é o Evangelho da Salvação. A segunda perspectiva é que Jesus veio trazer vida em abundância e para que a pessoas possa experimentar o Evangelho do Reino, precisam de lideres que propositalmente dirigiam uma verdadeira incursão aos princípios do Reino para que o céu se manifeste aqui na terra até que Ele venha.

Recentemente o senhor tomou uma decisão surpreendente para o seu ministério, que foi deixar a convenção da Assembleia de Deus no Rio Grande do Sul. Por que tomou essa decisão?

Meus pais e dois irmãos são pastores na Assembleia de Deus. Fui ordenado oficialmente como pastor em 2007 e imediatamente empossado como pastor presidente em uma cidade no RS.

A denominação tem uma história inspiradora. Ao estudá-la um pouco, nota-se que o Espírito Santo a impulsionou para um crescimento sem precedentes. Sabemos que toda instituição precisa fazer ajustes, mas acredito que existem pessoas sérias e interessadas em promover as mudanças e renovações necessárias.

Pode parecer contraditório elogiar a instituição e, ao mesmo tempo, sair dela, mas posso explicar. Enquanto pastoreava uma igreja no interior, fui convidado para uma palestra para líderes. Decidi participar para desestressar um pouco.

O convidado falava de uma igreja que se movia por propósitos bem definidos e não por uma agenda pré-definida. Era uma igreja contemporânea, que poderia alcançar muitos sem perder sua espiritualidade e doutrina bíblica. O pastor Carlito Paes falava com tanto entusiasmo sobre a igreja primitiva, que se reunia no templo e nas casas, e que caía na graça do povo. Eles serviam a cidade e cresciam de fora para dentro.

Essa escapada que era para desestressar virou uma chave na minha mente que nunca mais me permitiu ver a igreja da mesma maneira. Logo depois, fomos transferidos para outra cidade, e eu já sabia o que queria e como fazer.

Encontrei a igreja onde o pastor Carlito liderava e levei os novos líderes que estava formando. Levei todos os que pude para receber treinamento em diversas áreas. Na verdade, acendi um estopim que não poderia mais ser contido!

Antes de assumir a nova igreja, recebi um relatório que dizia haver 3.500 pontos de umbanda ao redor dela. Fiquei um pouco assustado, mas fui verificar. Encontrei dois templos onde eles se reuniam, mas comecei a ouvir sinos tocando em diversas casas. O Senhor disse ao meu coração: “eles estão fazendo o que vocês deveriam ter feito”. Fomos para uma conferência na Igreja da Cidade e optamos por assistir ao LAB sobre como iniciar células. Ao retornar, aplicamos tudo e iniciamos uma jornada sem retorno nas casas.

Muitas pessoas começaram a se converter, muitas casas que antes serviam aos demônios agora eram lugares de cura. Abrimos uma escola para capacitar novos líderes, criamos uma rede de ensino para uma jornada de maturidade e nos associamos à Rede Inspire de Igrejas, que nos conectou com muitos líderes de igrejas relevantes. Não paramos mais de crescer.

Tínhamos um limite territorial determinado pela instituição que não permitia nosso avanço para nenhum outro local que saísse da área delimitada. A igreja estava localizada em um bairro e, por isso, construímos um templo maior para acomodar nossa congregação. Chegamos a realizar até cinco reuniões aos domingos para dar conta da demanda, mas mesmo assim não era o suficiente. Não havia mais espaço para estacionamento, nem salas para crianças ou estrutura para os ministérios que precisavam expandir.

Começamos a procurar terrenos, prédios, galpões e qualquer outro lugar que pudesse ser utilizado para reuniões, mas a única solução viável era mudar para outro espaço na cidade e deixar o bairro para trás.

Porém, não era uma decisão fácil. Para isso, eu precisaria romper com a instituição onde fui criado pelos meus pais e onde meu irmão é pastor sênior e outro é pastor auxiliar. Teria que abrir mão de todo o patrimônio e começar tudo de novo em outro lugar. E foi exatamente o que fiz.

Deixei a instituição com a bênção do presidente e recebi o novo pastor e sua comitiva em nossa igreja. Saímos com minha família, amigos e filhos espirituais pela porta da frente. Estamos assustados com o que está acontecendo agora. Embora o espaço seja consideravelmente grande, não imaginávamos que teríamos problemas de acomodação desde o início. Mas essa é outra história.

Não haveria como o senhor permanecer na convenção com essa visão de liderança?

A instituição se move por um conjunto de regras que limitam a expansão e parece que isso não mudará por um longo tempo. Mais do que nunca, observamos a estagnação progressiva das igrejas institucionais, pois sua visão de Reino se restringe apenas ao universo estatutário e nunca a uma revelação divina sobre o tempo presente. Observamos que estávamos vivendo uma realidade sufocante, onde a única saída era parar de crescer para ficar onde estávamos.

No contexto, já havíamos construído o máximo possível e adaptado tudo que podíamos para acomodar a todos. Além disso, entendemos que o templo é um lugar onde a igreja frequenta para adorar ao Senhor. Mas sabemos que esse lugar tem como missão encorajar as pessoas a encontrarem sua verdadeira vocação para o aperfeiçoamento do Corpo. Por essa razão, cada indivíduo é membro de um corpo chamado igreja, que se move no templo, nas casas e na cidade. Portanto, permanecer na instituição seria um contrassenso gigante.

O senhor sai com alguma queixa contra os líderes da convenção gaúcha?

Creio de todo o meu coração que tanto o presidente da convenção gaúcha quanto a mesa diretora estão imbuídos de uma vontade absurda de servir ao Senhor e realizar o melhor trabalho possível. Eu não poderia me queixar de alguém que não me fez nada. Foi por decisão minha, de minha esposa, filhos e das pessoas que liderei por mais de uma década, que saímos voluntariamente.

Tratando de cultura denominacional, o senhor diria que a iVales carregará a cultura assembleiana ou irá adotar o estilo batista, já que é inspirada pelo pastor Carlito Paes?

Meus pais sempre foram meus grandes mentores. Pastores, missionários e evangelistas, eles, os dois, fizeram de tudo para alcançar o maior número de pessoas para Jesus. Fui criado vendo e ouvindo tudo. O exemplo deles me arrastou. Grande parte da convicção de meu chamado, vem do fato de ter acompanhado meus pais no dia a dia da prática ministerial. Tenho raizes pentecostais, fui batizado com o Espírito Santo aos 15 anos com a imposição de mãos do meu pai. 

Pr Carlito é um mentor de pastores e igrejas, mas nunca vendeu um programa enlatado ou ditou alguma cultura. Nós respeitamos a cultura da cidade onde estamos e entendemos que a igreja é um corpo vivo, que por isso deve ter uma mentalidade de expansão, um espírito profético e um coração pastoral. Somos uma igreja bíblica, contemporânea, que se move no sobrenatural e honra o dom que cada pessoa carrega. 

Quais são os principais conceitos e práticas que um líder evangélico deve seguir para inspirar, motivar e conduzir sua congregação?

Primeiramente, um líder deve ser equilibrado. Creio que as pessoas estão saturadas de líderes movidos por emoções passageiras. Alguém que se propõe a liderar pessoas em nome do Senhor deve ter Jesus como modelo de caráter, inspiração e equilíbrio. Jesus sabia se comportar nos momentos de crise e nos dias de festa. Basta olhar ao nosso redor para notar o que o desequilíbrio de líderes religiosos tem causado no nosso país e no mundo. Por exemplo, a ênfase exagerada na tentativa de influenciar nas esferas políticas ou econômicas tem exibido cenas lamentáveis de mistura clara do evangelho com partidarização ou exaltação de nomes e tendências que não representam a verdade da igreja que o Senhor Jesus criou.

Para inspirar, motivar e conduzir de forma constante e bíblica, o líder deve possuir um faro aguçado para discernir a rede de amigos e influências que deve ter, e balizar suas decisões sempre pela Palavra de Deus, que é atemporal.

Qual é a importância da formação e treinamento de novos líderes evangélicos?

Não existem igrejas e líderes para o passado. Quem acredita que já sabe tudo está preparado para uma realidade que não existe mais. A Bíblia é absoluta e irrefutável, mas as tendências se movem na velocidade da luz. Um líder que não se capacita para entender as ferramentas utilizadas hoje para ensinar as verdades absolutas da Bíblia e liderar pessoas, é alguém que não terá relevância e não participará da formação de novos líderes para a igreja forte e maravilhosa que está marchando na terra.

Mostre-me uma igreja relevante e eu presumirei que horas foram investidas em treinamento e capacitação de sua equipe ministerial. Nada acontece por acaso. Jesus investiu a maior parte do tempo de seu ministério terreno capacitando líderes. Ele servia a multidão e treinava seus discípulos para irem anunciar a chegada do Reino. O revestimento de poder veio para que os povos conhecessem a grandeza de Deus e para que os discípulos tivessem autoridade para anunciar.

Quando Paulo escreve suas cartas, ele inicia a era da instrução para as igrejas. Pedro, Tiago, João e Judas também cooperaram escrevendo para os cristãos da Ásia Menor. São cartas de instrução pastoral. Ali era possível saber como se comportar e como se mover diante de uma sociedade dividida pela religião e por impérios de domínio.

As culturas mudaram ao longo do tempo, e nosso maior desafio é entender as demandas do tempo presente sem corromper os princípios bíblicos, recebendo capacitação para comunicar de forma clara e contemporânea o papel da igreja na terra.

Que conselhos o senhor daria para os novos líderes evangélicos?

Fique perto de quem anda perto de Jesus. Desconfie de propostas fáceis. Ame e sirva as pessoas. Tenha mentores sábios que amam e cuidam da família, tementes a Deus e que servem a igreja do Senhor. 

Mas deixo aqui o conselho do Criador: Não deixe de falar as palavras deste Livro da Lei e de meditar nelas de dia e de noite, para que você cumpra fielmente tudo o que nele está escrito. Só então os seus caminhos prosperarão e você será bem sucedido.

Não fui eu que lhe ordenei? Seja forte e corajoso! Não se apavore, nem se desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar”. Josué 1:8,9

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