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opinião

Abuso Infantil em Cristo?

Sobre a insana acusação de que a Cruz é um exemplo de “abuso infantil”.

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Jesus carregando a cruz
Jesus carregando a cruz (Foto: Direitos Reservados/Deposiphotos)

Uma doutrina da cruz robusta e lúcida precisa-se! Uma doutrina realista que exalte de forma Bíblica o envolvimento sublime do Pai no Calvário. O que aconteceu no Calvário? Por que é que Deus agiu assim com o Seu Filho? O que estava em jogo na Cruz de Cristo?

E que dizer da afirmação mais específica de que a cruz é um exemplo de “abuso infantil” (o adjetivo “cósmico” é aqui redundante, uma vez que não foi o cosmos, mas Deus Pai, que foi alegadamente culpado de abuso). A acusação é completamente ridícula, porque isola a história da crucificação do testemunho que todo o Novo Testamento dá de Jesus.

Amor do Pai

Ignora, por exemplo, o fato de que durante toda a sua vida Jesus desfrutou do amor, proteção, e encorajamento do seu Pai. É por isso que pode viver uma vida livre de ansiedade, confiante de que nunca estava só (João 8:16); e é por isso que também podia dizer que a Sua “comida e bebida” era fazer a vontade d’Aquele que O tinha enviado (João 4,34).

Uma criança maltratada e traumatizada, Ele nunca foi. Nunca. Crianças abusadas não falam assim! Da mesma forma, a acusação ignora deliberadamente o fato óbvio de que na altura do alegado “abuso” Jesus não era uma criança, mas um adulto maduro, capaz de fazer as suas próprias escolhas e disposto a assumir as consequências.

Deste ponto de vista, e até mesmo na sua pior situação, a cruz não equivale ao abuso de crianças. Durante a Segunda Guerra Munidal os governos Aliados deixaram muitos homens e mulheres atrás das linhas Nazis como agentes de Operações Especiais. Eram voluntários. Eram resistentes. Tal como eles, Jesus foi um voluntário ativo. Ele foi ativamente até à Cruz. Estando no mundo, Ele escolheu livremente o caminho que conduzia ao Calvário (Fil. 2:8), e, também de forma livre, tinha decidido dar a Sua vida pelos Seus amigos (João 15:13). De acordo com esta decisão, Ele não fez qualquer tentativa de escapar quando O vieram prender apesar de já ter muitas vezes evadido os seus inimigos. Ele simplesmente disse: “Não hei-de eu beber o cálice que o Pai me deu?” (João 18:11).

Testemunho do Novo Testamento

Ainda mais gritante é a forma histriónica como esta acusação de abuso infantil ignora o testemunho claro do Novo Testamento sobre a identidade única de Jesus. Ele não só não era uma mera criança; não era um mero ser humano. Ele era Deus: o Logos eterno, o Filho divino, o Senhor perante quem cada joelho um dia se dobrará (Fil 2:10). Esta não é uma vítima indefesa. Este é o igual do Pai. Este é aquele que no sentido mais profundo é UM com Deus; Aquele em quem Deus se julga a si próprio; Aquele em quem Deus se faz condenação; Aquele em quem Deus se deixa castigar.

A esta gente crítica dos Evangelhos não pode ser permitido o luxo de uma utilização seletiva do Novo Testamento. As Escrituras retratam a cruz como um acto de Deus o Pai e a doutrina resultante não pode ser arrancada do seu enquadramento na doutrina cristã da Trindade. A “criança maltratada” é “Deus na Sua essência”. É sangue divino derramado no Calvário (Act 20:28) à medida que Deus se rende ao pior que o homem pode fazer e suporta todo o custo da Redenção Vicária. Contudo, Jesus nunca é, nem por um momento, uma vítima indefesa. Pelo contrário. Ele é indomável na sua humanidade cheia de Espírito. E quando completa a sua missão entregando o Seu Espírito, Deus – o Pai alegadamente “abusivo” – exalta-o ao lugar mais alto, ordena a cada joelho que se dobre, e ordena a todo o universo que O confesse como Senhor de todos (Fil 2:9-11).

Ação do Pai

Mas o que podemos dizer sobre a natureza da acção do Pai no Calvário? A resposta do Novo Testamento é de cortar a respiração. Ele agiu como sacerdote. Tal como Jesus “deu” a Sua vida em resgate por muitos, (Marcos 10:45), assim Deus Pai “deu” o Seu Filho único; tal como Cristo “se entregou” a si mesmo como uma oferta perfumada (Ef. 5:2), assim Deus Pai “entregou” o Seu próprio Filho (Rm. 8,32). Claramente, este acto divino a “duas mãos” correspondendo ao papel de sacerdote. Deste ponto de vista, o Gólgota torna-se o templo de Deus, onde, longe de abusar de uma criança ou de infligir uma crueldade sádica, Ele está envolvido na mais solene das transacções que o mundo já viu. Ele está a oferecer um sacrifício. A cruz é o Seu altar, e o Seu próprio Filho o sacrifício.

A evidência de que Jesus e os seus apóstolos compreenderam a cruz em termos de sacrifício é esmagadora. Não foi o engenho humano que descobriu no Antigo Testamento os sacrifícios como um quadro interpretativo para a cruz. Pelo contrário, o próprio Deus já tinha providenciado essa estrutura. Na ordem de saber, os sacrifícios levíticos vieram antes do sacrifício do Calvário; mas na ordem de ser, o sacrifício de Cristo veio primeiro. Ele foi o Cordeiro ordenado antes da fundação do mundo (que MARAVILHA!), e o sistema levítico era apenas a sua sombra. Temos de ter um cuidado extra aqui: Cristo não era um sacerdote apenas metaforicamente. Ele era o verdadeiro sacerdote, e o Seu sacrifício o verdadeiro sacrifício. O sacerdócio Aarónico, esse era figurativo, e os seus sacrifícios eram metafóricos. Tal como Jesus era “a raiz de David” (Apoc. 5:5), assim também ele era a raiz da Páscoa, a oferta pelo pecado e o bode expiatório, todos eles divinamente configurados para o prefigurar. A compreensão da morte “de Jesus” como sacrifício não é uma convenção humana, mas uma revelação divina. Qualquer outro “evangelho” é anátema. Somente a Deus toda a Glória!

Formou-se em Teologia na Inglaterra, exerceu trabalho pastoral durante 25 anos em Portugal e vive há 12 anos no Brasil onde ensina Inglês como segunda língua.

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