O Sínodo Geral da Igreja Evangélica Luterana da Finlândia rejeitou, em 8 de maio, uma proposta que permitiria a coexistência de duas definições de casamento em sua Ordem Eclesiástica. A medida foi votada com 62 votos favoráveis, 40 contrários e seis abstenções. Apesar da maioria simples, o projeto não atingiu a maioria qualificada de três quartos necessária para ser aprovado.
A proposta, apresentada com base em um relatório do comitê jurídico, buscava oficializar duas visões distintas de casamento dentro da Igreja: uma como união entre um homem e uma mulher, e outra como união entre duas pessoas. A iniciativa daria liberdade para que líderes eclesiásticos decidissem, conforme sua consciência, se realizariam ou não casamentos entre pessoas do mesmo sexo.
Após o resultado, o arcebispo Tapio Luoma reconheceu o empenho dos membros do Sínodo e manifestou pesar pela rejeição da proposta. Em pronunciamento, declarou: “Se a Igreja não levar a sério a mudança mundial, ela acabará sendo incapaz de mudar o mundo em si”.
Luoma expressou ainda a expectativa de que a Igreja encontre, futuramente, uma solução para a questão matrimonial, que tem gerado divisões internas e pressões externas.
Debate e argumentos
Durante o debate, que contou com 60 intervenções, o presidente da comissão jurídica, Viking Vuori, defendeu a proposta. Ele afirmou que, na prática, padres já celebram casamentos entre pessoas do mesmo sexo sem interferência episcopal, e que a alteração visava estabelecer diretrizes uniformes para todo o país.
Entretanto, a proposta enfrentou oposição dentro da própria comissão jurídica. O teólogo Eino Nissinen liderou os argumentos contrários, fundamentando-se na doutrina bíblica e nas Confissões Luteranas. Segundo ele, a proposta baseava-se em valores culturais contemporâneos, e não nas Escrituras.
“A ideia de que a revelação bíblica do casamento como uma união entre um homem e uma mulher é inadequada para os tempos modernos devido a diferenças históricas, culturais ou sociais é problemática”, afirmou Nissinen. Ele acrescentou: “A sugestão de que Jesus não tinha compreensão da sexualidade humana enfraquece seu papel como Filho de Deus e mestre infalível”.
Acusações e críticas ao episcopado
O pastor Sammeli Juntunen criticou os bispos da Igreja por permitirem que as paróquias decidissem, individualmente, se realizariam casamentos entre pessoas do mesmo sexo, o que teria contribuído para uma “situação de fato” que, segundo ele, agora tentava ser usada como argumento a favor de mudanças doutrinárias.
A crítica mais contundente veio com a utilização do termo finlandês suhmurointi, traduzido como “conspiração”, para descrever a tentativa de institucionalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo sem ampla fundamentação doutrinária, de acordo com o Evangelical Focus. Segundo os opositores, isso representaria um desvio da prática teológica histórica da Igreja.
Com a rejeição da proposta, permanece a definição tradicional da Igreja Luterana da Finlândia. Embora a votação tenha frustrado parte do episcopado, o resultado mantém a definição tradicional do casamento no texto da Ordem Eclesiástica. A continuidade do debate é esperada nos próximos encontros do Sínodo, em um cenário que segue refletindo as tensões entre doutrina e transformações culturais.
“Por isso deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher, e serão os dois uma só carne” (Gênesis 2:24).