Pastor é questionado se o céu será entediante e resposta surpreende

Em um episódio recente de seu podcast, o pastor e teólogo John Piper respondeu a uma pergunta frequente entre cristãos: será que a eternidade no Céu pode se tornar monótona? A inquietação partiu de um ouvinte que disse estar lutando para compreender a ideia de um tempo sem fim.

“Pastor John, tenho lutado com o conceito de eternidade ultimamente”, disse Mason. “Comecei a ler o livro de Randy Alcorn sobre o Céu. No início, tive dificuldade em imaginar como seria o Céu, mesmo que por pouco tempo. Mas depois de ler, comecei a entender a alegria por milhares, milhões ou até bilhões de anos. No entanto, mesmo cem trilhões de anos ainda parecem nada diante da eternidade. Tenho dificuldade em processar algo sem fim. Como não ficaremos entediados?”

Piper, que também atua como chanceler do Bethlehem College & Seminary em Minneapolis, Minnesota, afirmou que a dúvida é compreensível e reflete um dilema humano legítimo: “Não há dúvida de que a eternidade — quer a concebamos como um tempo sem começo nem fim, quer a concebamos como uma dimensão além do tempo, atemporal — é difícil de entender. Quer dizer, eu nem sei o que significa entender quando se trata de algo assim”, declarou.

Ele citou Eclesiastes 3:11 como fundamento bíblico para essa limitação humana: “Deus colocou a eternidade no coração do homem, mas de tal forma que ele não pode descobrir o que Deus fez do princípio ao fim”. Para Piper, isso mostra que “Deus pretende que tenhamos consciência de uma realidade de um tipo de tempo eterno ou não-tempo que não é totalmente compreensível”.

Piper também recorreu à conhecida frase de C.S. Lewis: “Se encontro em mim um desejo que nenhuma experiência neste mundo pode satisfazer, a explicação mais provável é que fui feito para outro mundo”.

Apesar da dificuldade de compreensão, o pastor defendeu que Deus deixou pistas sobre a glória eterna. “Há tantos lugares na Bíblia onde Deus parece determinado a tentar nos ajudar a confiar nele, dando-nos dicas”, afirmou. Entre os exemplos citados está Apocalipse 21:18, que descreve a nova Jerusalém como “ouro puro, semelhante a vidro límpido”.

Piper relembrou um sermão do teólogo Jonathan Edwards, que interpretava esse ouro como algo sem equivalente terrestre, sugerindo que “não há nada na Terra que seja suficiente para representar para nós as glórias do Céu”.

Outro texto mencionado foi 1 Coríntios 15, que trata da ressurreição e transformação dos corpos dos crentes:

“O que é semeado é perecível; o que é ressuscitado é imperecível. É semeado em desonra; é ressuscitado em glória. […] É semeado um corpo natural; é ressuscitado um corpo espiritual”.

Piper explicou que esse corpo espiritual será “como ouro puro” e “incompreensivelmente diferente dos nossos corpos atuais”. “Você nunca perderá a capacidade de ver a glória, se maravilhar, se revigorar, se emocionar para sempre”, afirmou.

Ele também citou a oração de Jesus em João 17:24–26, em que Cristo roga ao Pai que seus seguidores vejam sua glória e participem do amor divino:

“‘O amor com que me amaste esteja neles’”, destacou Piper, referindo-se ao versículo 26. “Não é esta uma oração que Deus Pai nos dará… a capacidade de amar e desfrutar de Deus Filho com a mesma capacidade que o Pai tem de amar o Filho, que é infinita?”

Segundo ele, essa experiência será uma extensão da própria comunhão eterna da Trindade. “A capacidade que manteve a Trindade em felicidade infinita por toda a eternidade será compartilhada conosco”, concluiu.

Em outros episódios, Piper tem abordado o tema da vida eterna diante do que percebe como um declínio na compreensão bíblica sobre Céu e Inferno entre cristãos americanos. Ele citou, por exemplo, uma pesquisa Gallup de 2023, que mostrou queda na crença no Céu: 67% dos entrevistados disseram acreditar na existência do Céu, ante 83% registrados em 2001, segundo dados publicados pelo The Christian Post.

Uma pesquisa de 2020 também apontou que 52% dos cristãos nos Estados Unidos acreditam que boas obras são suficientes para alcançar o Céu, enquanto um levantamento adicional revelou que ao menos um terço dos pastores seniores no país consideram possível entrar no Céu apenas sendo uma boa pessoa.

Além da experiência espiritual, Piper também afirmou, em episódio anterior, que os crentes terão atividades no Céu. “Será um trabalho profundamente satisfatório, doce e agradável”, disse. “Ninguém no mundo vindouro dirá: ‘Preciso de um fim de semana’.” Segundo ele, o trabalho celestial será a restauração do propósito original estabelecido em Gênesis, antes da queda: algo “emocionante, gratificante e criativo”.

Outros líderes cristãos compartilham da visão de uma eternidade dinâmica. O pastor Jack Hibbs, fundador da Calvary Chapel Chino Hills, na Califórnia, afirmou recentemente que o Céu será um lugar de “descoberta sem fim”.

“Deus criou você com uma paixão avassaladora por descobertas. É o que impulsiona todas as ciências, todas as disciplinas. É o que impulsiona a curiosidade. E o Céu será assim para nós”, declarou Hibbs.