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vida cristã

“Precisamos nos manter como sal e luz”, diz pastor sobre crescimento da Igreja

“Se o Brasil está se tornando de maioria “evangélica”, está ao mesmo tempo se tornado de maioria honesta?”

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Edilson de Lira Vasconcelos

Médico formado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o pastor Edilson de Lira Vasconcelos tem dedicado sua vida para cuidar das pessoas. Aos 37 anos, ele lidera a igreja Verbo da Vida em Petrolina, interior do estado de Pernambuco.

O pastor é casado com Mizia Elian, com quem tem uma filha, a pequena Liz, de 1 ano. Há 22 anos exerce o ministério como pregador itinerante, e há 10 anos como pastor local, desenvolvendo vários projetos no sertão nordestino.

Durante a pandemia de covid-19, o pastor viu as ações da igreja se intensificarem, lembrando que que o fato de a igreja ter cerca de 2 mil anos lhe dá experiência de outras pandemias que atuou.

“Vale lembrar que no Brasil as igrejas têm um papel social fundamental, especialmente em tempos de calamidade, de responder humanitariamente com ampla capilaridade e eficácia aos setores da sociedade mais excluídos”, reforça.

Vasconcelos afirma que como pastor e médico de formação acabou tendo um duplo envolvimento em sua atuação durante a pandemia da covid-19.

“O fato de ser um profissional de saúde me fez estar ainda mais sensível às demandas da nossa região nos hospitais e demais unidades de saúde”, disse.

Pastor Edilson, a esposa e a filha

Pastor Edilson, a esposa e a filha (Foto: Reprodução/Assessoria)

Em entrevista exclusiva ao Gospel Prime, o pastor comentou sobre os desafios que enfrentou. Leia a entrevista na íntegra:

Qual a sua avaliação sobre a atuação da igreja brasileira na pandemia?

Precisamos lembrar que essa não é a primeira pandemia que o mundo experimentou: a igreja tem cerca de 2.000 anos de experiência em pandemias! A Organização Mundial de Saúde diz que saúde não significa apenas ausência de doença, mas um estado de completo bem-estar físico, mental e social (1947), e em 1998 a executiva da OMS propôs acrescentar a dimensão espiritual no conceito de saúde. Nesse sentido, as igrejas abertas, por si só, já promoviam a saúde da população. A assistência religiosa em tempos de calamidade também promove uma reconhecida proteção à saúde mental da população, diminuindo índices de suicídios, depressão, transtornos ansiosos e outras patologias tão ou mais danosas que a própria covid-19.

Por fim, vale lembrar que no Brasil as igrejas têm um papel social fundamental, especialmente em tempos de calamidade, de responder humanitariamente com ampla capilaridade e eficácia aos setores da sociedade mais excluídos, chegando em lugares que o poder público não chega, através da doação de alimentos, ação social, educação, consultoria profissional e até doação de EPIs (equipamentos de proteção individual).

Que tipo de desafios o senhor teve de lidar em meio a crise?

Como pastor e médico de formação, acabei me envolvendo duplamente nesta pandemia, e a cada ovelha com um familiar contaminado, eu invariavelmente precisava atuar nestas duas frentes. Além disso, o fato de ser um profissional de saúde me fez estar ainda mais sensível às demandas da nossa região nos hospitais e demais unidades de saúde, e nos levantamos para suprir, na medida do possível, cada uma dessas demandas. Um exemplo disso foi que durante o primeiro semestre da pandemia, onde o fornecimento de máscaras para os profissionais estava em escassez, nós transformamos um dos auditórios da igreja numa fábrica de máscaras. Criamos também uma fábrica de máscaras com os alunos de nosso curso bíblico (Rhema) dentro da presídio de Petrolina. Através dessas duas iniciativas, e do engajamento de nossos voluntários, produzimos e doamos mais de 95.000 máscaras às unidades de saúde de nossa região, e todas dentro dos melhores protocolos de biossegurança recomendados pela ANVISA.

Mas pessoalmente, digo que o maior desafio que enfrentei durante essa pandemia foi precisar lutar para manter os nossos cultos presenciais em certos momentos. Nunca imaginei que viveríamos um período em nossa nação onde o livre exercício dos cultos religiosos e a proteção aos locais de culto seriam violados. Nossa Constituição, bem como a Declaração Universal dos Direitos do Homem, foram desconsideradas, e como pastor precisei me envolver em celeumas jurídicas e políticas para preservar entre os membros de nossa igreja o direito de cultuar livremente, com os devidos protocolos sanitários. Mediamos interlocuções com o Ministério Público Estadual, com a Procuradoria do Município, com conselhos de pastores, jornalistas, políticos e muitos outros agentes nesse processo, e ao final, acabamos articulando um projeto de lei, no estado e no município, para reconhecer a igreja como essencial em momentos de pandemia. Foi desafiador e desgastante ter que lutar, presencialmente e nas redes sociais, para fazer políticos e parte da população reconhecerem o óbvio, e já constitucional, mas foi necessário. Faria tudo outra vez, pois entendo que a igreja é o reduto maior e supremo de esperança para a humanidade, principalmente em tempos de calamidade, e nunca deve fechar suas portas.

Edilson de Lira Vasconcelos

Edilson de Lira Vasconcelos (Foto: Reprodução/Assessoria)

Em tempos de crise, o trabalho da igreja é sempre essencial. De que forma a Verbo da Vida atuou para oferecer ajuda espiritual?

Mesmo quando por um breve período os cultos presenciais foram proibidos, transformamos nosso estacionamento em um palco para cultos drive-in, onde as pessoas podiam assistir os cultos de dentro de seus carros, em perfeita segurança, e os testemunhos desse período foram tremendos. Experimentamos muitas conversões, dentre elas a do reitor da maior universidade de nossa região, a UNIVASF, e também arrecadamos alimentos para assistir as pessoas que passavam fome devido ao desemprego e à quarentena. Já doamos mais de 30 toneladas de alimentos para essas pessoas, e atendemos mais de 4.000 famílias em vulnerabilidade social.

Apesar de nossa igreja ter cerca de 2.000 membros, fizemos questão de, nos momentos mais críticos, dividir os contatos dos membros entre os pastores e ligar para todos, um a um, e ouvir seus desafios, orar com eles e aconselhá-los. Entendemos que cada ovelha é importante, e muitos foram levantados através de palavras inspiradas de encorajamento. Além do mais, nossas reuniões em pequenos grupos, que chamamos de Grupos de Conexão, foram fundamentais para manter uma rede de comunhão e assistência espiritual durante essa pandemia.

A igreja Verbo da Vida tem tido uma forte atuação no Nordeste. Como é fazer missão no Brasil?

Concordo com o pensamento que o Brasil é um país cristão, mas somos um país de proporções continentais, e existem muitas áreas do Nordeste, especialmente no sertão, onde poucas igrejas atuam, e a Palavra de Deus não é pregada com tanta frequência. Estatísticas apontam que nas pequenas cidades e comunidades rurais do sertão, mais de 80% da população ainda não ouviu nem aceitou a mensagem do Evangelho. Esta realidade faz alguns estudiosos chamarem o sertão de “Janela 10-40* do Brasil”. O desafio desta região também é cultural: A necessidade extrema, somada à falta de oportunidades e de informação, cria uma mentalidade assistencialista, marcada por uma profunda dependência de um Estado omisso. Essa conjuntura é favorável ao surgimento de aproveitadores no cenário político, que perpetuam os ciclos de dependência de um povo já sofrido. Acreditamos que só o Evangelho é capaz de ser a resposta para este cenário, e de trazer liberdade genuína para esse povo: socialmente, economicamente, culturalmente e espiritualmente.

Nossa igreja está localizada geograficamente no coração do sertão nordestino: Petrolina é a sede do maior aglomerado urbano do interior do nordeste, e a melhor cidade para se tornar um centro de avivamento para essa região! Sua posição estratégica a coloca no centro de um círculo, com raios de 600-700km até as principais capitais do nordeste. Seu aeroporto é a principal porta de entrada aérea para o sertão. Sua prosperidade, fruto das águas do Rio São Francisco, faz a cidade ter uma economia viva e dinâmica, sendo a 3ª maior exportadora de frutas do mundo. Historicamente era conhecida por “Passagem”, pois sempre acolheu viajantes, inclusive missionários, que a tinham como base antes de romper novas fronteiras na expansão do território brasileiro. Mais uma vez, creio que nossa cidade será uma base: Uma base para o avivamento que vai inundar o sertão, e respingar pelo mundo! Mais uma vez, vamos romper fronteiras: A “terra dos impossíveis” (como Petrolina é chamada pelos seus) inicia um novo capítulo, mais um projeto “impossível” aos olhos humanos. Iniciamos um projeto de construção de um complexo de 30.000m² em plena área urbana, a sede de um Centro de Avivamento para todo o sertão. Você pode saber mais a respeito, e até se envolver conosco na evangelização do sertão, acessando Capítulo 2.

*Em missões, esse termo se refere às regiões menos evangelizadas do mundo, entre os paralelos 10 e 40 do globo terrestre.

A igreja brasileira tem crescido muito. O que fazer para manter esse crescimento de forma saudável?

A cultura do povo cristão, como qualquer outra cultura, não é naturalmente saudável, porque as pessoas não são naturalmente saudáveis. A cultura certa precisa ser cultivada, especialmente pelas lideranças cristãs. O apóstolo Paulo fala que devemos “fazer todo o esforço para preservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef 4:3). Eu creio que a unidade é um dos maiores desafios da Igreja em crescimento, e ela não nasce espontaneamente: precisamos nos esforçar para isso. Durante a pandemia, por exemplo, nós reunimos as igrejas da cidade para um momento de oração nas praças, que ficou intitulado como “No Centro da Vontade de Deus”. Veja os vídeos do movimento em Petrolina e em Juazeiro. O trabalho de evangelização e de transformação da sociedade não será realizado por uma denominação, mas pelo Corpo de Cristo em unidade!


Para manter um crescimento saudável, também precisamos nos manter como sal e luz, inspirando todas as esferas da sociedade com os princípios e o poder do Reino de Deus. O mesmo apóstolo Paulo disse que devemos vir a “tornar-se puros e irrepreensíveis, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração corrompida e depravada, na qual vocês brilham como estrelas no universo” (Fp 2:15). É preciso fazer uma autocrítica: Se o Brasil está se tornando de maioria “evangélica”, está ao mesmo tempo se tornado de maioria honesta? Estamos vivendo debaixo dos padrões morais da Bíblia, para inspirar a sociedade a uma vida santa? Precisamos celebrar, com a mesma alegria que celebramos os milagres de cura e prosperidade em nosso meio (e eles são importantes!), os “milagres invisíveis”: a transformação do caráter, o abandono do pecado na vida íntima, o hábito da generosidade, o amor e compaixão pelos perdidos, etc. Com esses ajustes necessários feitos diariamente, continuaremos não apenas crescendo numericamente, mas crescendo em graça, favor e aprovação diante de Deus e dos homens.

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